Thursday, September 27, 2007

Small talk

No dia em que Deus distribuiu o dom da “small talk” ele esqueceu-se de mim. Mas não o posso culpar, nesse dia, como em todos os dias, eu não me aproximei de um colectivo, o colectivo que se aproximou dele para receber a oferta.

Cínico

Um cínico pode já não acreditar que algum humano tenha sapiência suficiente para dizer algo verdadeiro, mas quando assim é, há muito tempo que ele já deixou de acreditar em si mesmo e vive apenas para a provocação hedonista. O problema é que não é tão fácil como parece.

Tuesday, September 25, 2007

“Naturalmente, teria dado tudo, na juventude, para ser como os outros” K.

“Quando se é criança – e os outros jogam, brincam , entregam-se às coisas da sua idade; e quando se é jovem – e os outros amam, vão ao baile, entregam-se às coisas da sua idade; ser, então, espírito, em plena infância e em plena juventude, que triste tormento, mais terrível ainda se, graças à imaginação, se souber realizar a difícil tarefa de parecer o mais juvenil de todos. Mas esta infelicidade atenua-se já aos quarenta anos e desaparece na eternidade. Não conheci a imediatez; por conseguinte, de um ponto de vista estritamente humano, não vivi.”

Kierkegaard

Sunday, September 23, 2007

Lutador

Lutador? Eu? Não, na verdade eu sou um rato, bem, um rato lutador, mas um rato de qualquer maneira.

Thursday, September 20, 2007

"No man's land"

Este blog não tem muitos visitantes. Vou avançar com uma explicação (i)racional para justificar o facto.
Não vou perorar sobre a escrita porque não me compete e porque está sujeita a demasiada subjectividade, o que importa realmente é o grau de atractividade do objecto.

Ao não fazer publicidade através de comentários aleatórios noutros blogs temos logo o factor maior que determina o fenómeno, sem se chegar a este endereço, é irrelevante o que possa estar cá escrito. “80% of success is showing up”, já dizia o Woody.

A forma, a forma. No eterno duelo entre forma e conteúdo, por muito mau que o conteúdo fosse, este estaria sempre a vencer a ausência de qualidade formal. Nunca toquei no design deste sítio e escolhi o design mais banal do blogger. Ora, num mundo onde ninguém sabe o que é “a verdade”, o que parece... é . Se este sítio parece ser banal, é banal. O resto é exercício de retórica.

Por fim, ( já é o fim porque eu não sou tão masoquista como se pensa) temos a direcção do conteúdo. A escrita aqui presente não é séria o suficiente para ser levada em conta pelos “lutadores” da blogosfera, nem é tematicamente ligeira, com relatos concretos sobre vidas pessoais e outras questões prosaicas, como poderia ser para apelar ao lado mais voyeur do ser humano.

Há um nome que me apraz bastante quando é preciso designar um flop comercial, diz-se que o produto caiu na “no man’s land”, ou seja, por não ser assumidamente carne nem peixe, ficou no limbo onde ninguém lhe pega. É exactamente aí que vive este sítio.

Talvez por osmose (o blog com o homem), eu sinto-me sempre como uma entidade que vive na “no man’s land”, nunca sou muito disto, nem muito daquilo, nem consigo pertencer aos verdes nem aos amarelos, tenho pavor de grupos e do hiperindividualismo, não tenho causas que me façam colocar a mão em punho e gritar, mas só até ao dia em que tiver que ser, acredito que a especialização é o caminho e depois interesso-me e empenho-me em demasiadas coisas distintas, acho que escrever neste blog é uma perda de tempo mas o prazer é suposto ser uma perda de tempo, acreditando eu na perda de tempo como elemento indispensável para o ganhar. A aceitação do paradoxo é possivelmente o truque de ilusão milenarmente mais usado, e eu sou razoavelmente bom no seu desempenho.

E tu? Agora que estás aqui na “no man’s land” como te sentes?

Tuesday, September 18, 2007

Percepções

Suu says:
claro que és inteligente
Xa says:
apenas o suficiente para perceber que não sou

Monday, September 17, 2007

2 dias em Paris


Ao sair do cinema fiquei com a sensação que assisti mais a um filme de índole cultura/política e menos a um filme sobre uma relação conjugal, apesar de todo o filme andar à volta de um casal e da sua interacção.
Julie Delpi escreveu, realizou e até cantou uma música para este filme. Um estreia como realizadora, não tanto nas outras 2 actividades.

A realizadora, sendo francesa, resolve neste filme bater na cultura que se vive em França, transformando este filme num enxovalhar da sociedade Parisiense, com especial incidência para a classe média. Fá-lo através de clichés. Há para todos os gostos, os artistas que são todos grandes génios parisienses mas que no fim vivem apenas uma vida de ócio e de busca do próximo engate, os franceses que gostam da conversa (socialista) da partilha e do conceito de que “o que me é meu é teu” mas com objectivos muito identificáveis e individuais, o racismo patente e latente em cada passo que se dava em Paris, a promiscuidade sexual digna de um país que nunca saiu dos “sixties” e até activistas anti-fast food (anti globalização) surgem com atentados “terroristas”. A lista é infindável. Este deverá ser o filme de produção europeia mais pró-americano que eu vi até hoje (se calhar mais logo lembro-me de outro qualquer), o que não deverá ser alheio o facto da realizadora conhecer bem a realidade americana e francesa, visto que trabalha (e estudou) constantemente em películas do outro lado do atlântico.

O filme é mordaz e tem humor suficiente para nos deixar muito bem dispostos. Fica porém a ideia de que tantos clichés juntos (apesar de baseados em factos culturais inegáveis) criam um ambiente pouco verosímil, principalmente quanto tudo tem de acontecer em apenas 2 dias em Paris. No entanto o ritmo do filme é acelerado (american style) com piadas a cada minuto, o que ajuda a que perdoemos algumas inverosimilhanças, rir é o melhor remédio, já diz o povo.

Claro que não se podia esperar da realizadora europeia uma visão americanófila e pró partido conservador (quais seriam as probabilidades de tal acontecer), não faltam no filme críticas ao senhor Bush, feitas principalmente pelo Americano de serviço no filme, que está lá para sofrer todas as “atrocidades” da cultura francesa e reagir às mesmas com sarcasmo, angústia e cinismo (as personagens de Woody Allen pairaram no ar).

Apesar de ter alguns ponto mais fracos que são passíveis de crítica, é um filme que vale a pena ver (excepto para anti americanos convictos, naturalmente) e que oferece bons momentos de humor.

PS: A minha cena preferida acontece quando um francês satiriza a religião (coisa bizarra por ali) do americano e em seguida tenta convencê-lo a deixá-lo passar umas noites em casa dele, dizendo que por ali se partilha tudo sem problemas. O americano (que é representado por Adam Goldberg) desconfiado da intenção do francês, responde “o que é meu é meu, o que é teu é teu, não há misturas” e concluiu da seguinte forma “eu sou americano, a propriedade privada é a minha religião”.

Racista

Daniel Oliveira escreve no expresso que já que Maria José Nogueira Pinto foi franca em relação à sua opinião de que deveria ser criada uma Chinatown para o comercio chinês em Lisboa, ele também iria ser franco e escreveu que a senhora é racista. É isso mesmo, curto e grosso, a senhora é racista. Defeito que Daniel Oliveira não tem, assim como Daniel não deverá ter qualquer tipo de preconceito contra alguém, vê todos como iguais, assim lhe diz a ideologia que prega, e todos nós acreditamos, naturalmente.
É certo que tenho dúvidas em relação à questão e não sei até que ponto esta seria exequível, mas não é isso que está em questão aqui. O ataque ao carácter de uma pessoa como arma argumentativa para uma questão de gestão concreta é perfeitamente deplorável por norma, aqui atinge outras dimensões. Chamar racista a MJNP tem o condão de chamar, por inerência, racistas a todos os que concordam com a criação da Chinatown de forma a que o comércio chinês se concentre numa zona específica da capital, pessoas essas como o Miguel Sousa Tavares (que simpatiza com a causa) ou até Choi Man Hin, que é o presidente da associação de comerciantes e industriais chineses em Portugal.
Não há direito Choi, tirando muito possivelmente o Mao Zedong, onde já se viu um chinês que não gosta de chineses?

Saturday, September 15, 2007

Suficiente

Eu sou louco, mas não o suficiente. Tudo o que não chega a ser suficiente mais valia não existir. Todos os problemas começam com algo que existe mas que não é suficiente, como nascer.

Thursday, September 13, 2007

A modernidade? É agora ou nunca.

Apesar das minhas dúvidas em períodos de algum pesar existencial, este blog existe. Os “MSNs”, “Second Lives” “Myspaces” e Hi5s existem, toda uma panóplia de instrumentos tecnológicos está à nossa disposição para estarmos todos em contacto permanente. O mundo é nosso e nós somos os Napoleões contemporâneos. Entro então em estado de choque quando leio que a solidão (e a consequente depressão) é o flagelo do novo século. Não pode ser, logo agora que era possível engatar miúdas do mundo inteiro!

Gilles Lipovetsky considera que entrámos na hipermodernidade , onde o homem hipermoderno é hiperconsumista, individualista, virado para o hedonismo, onde os valores são relativizados e o vazio toma conta das entidades humanas, onde todos são cínicos e “espertos” sem terem a mínima noção do que estão a fazer ou da razão porque o fazem. Pois é Gilles, sendo assim já não vamos tomar café, tu pareces-me algo deprimido.

A modernidade nunca realmente existe, quando olhamos para ela, ela já não existe com tal epíteto. Terei sorte se conseguir que este texto não se torne desactualizado em 1 hora, ou melhor (e mais provável), antes de eu o acabar de escrever.
Alguém matou Deus, não sei quem foi e não vou acusar nem os esquerdistas nem os iluministas(não preciso, e tenho de terminar o texto hoje). O papa Bento XVI anunciou há poucos dias que os europeus se tornaram egoístas. Como é que ele pode proferir tais palavras em relação a um povo que constantemente fala como se fosse a voz da consciência moral do mundo? Provavelmente porque o Vaticano já fabrica e comercializa Ipods e isso deu-lhe uma ideia mais clara da situação.

Se deus morreu por este continente, sobra-nos o célebre “Carpe diem” de “Horácio superstar”. Como já não se acredita que estamos cá numa missão divina que continuará posteriormente à vida terrena, sobra-nos o agora, o prazer imediato, o mais que conseguirmos, mais, mais, porque nunca como agora faz sentido dizer que a vida é curta e que só se vive uma vez, temos de consumir, “it’s now or never”.
Queremos consumir todos os bens materiais, as pessoas também podem ser bens materiais, e também queremos consumi-las se pudermos. Roger Scruton critica severamente algumas visões mais objectiváveis do sexo, onde as pessoas já nem sequer são o objecto de desejo, mas sim um meio para atingir um fim que será o prazer genital. A Pamela Anderson não se importa nada com o facto de ser um objecto de desejo, mas, e de ser apenas um meio para atingir o prazer dos genitais? “Bem, desde que paguem”, será provavelmente a resposta sincera.

Há oferta. Muitas opções podem matar um homem, mas não estamos aqui para dramatismos porque a vida é curta. Queremos coisas proveitosas e se possível divertidas. Na Internet é possível dizer olá a 10 ou 15 pessoas (ou mais) ao mesmo tempo, sendo difícil manter um conversa com um conteúdo substancial com alguma delas, mas o que importa isso quando ainda temos mais opções? Venham mais 15 que eu só pago uma conta de Internet (trocadilho falhado com a música do Zeca Afonso).
Não se consegue realmente conhecer ninguém porque ninguém está interessado em conhecer pessoas, mas sim em usá-las como meios interactivos de entretenimento.

Lá fora? Na rua? Se o elementos caracterizadores desta era são o cinismo, o individualismo e a distância, não tentem meter conversa com o senhor que almoça na mesa ao lado, podem estar com isso a desencadear uma calamidade cósmica de inquantificáveis proporções. Mesmo assim há relações a acontecerem, quebram-se mais facilmente porque há opções, ninguém depende de ninguém e ambos sabem que não vale a pena passar por chatices quando estão 15 pessoas novas por dia, à espera, à distância de um clique, todas elas também desgostosas e à procura do novo “passo” em direcção à felicidade. Resta a amizade, “friends will be friends” dizia Freddie Mercury, no entanto penso que no outro dia ouvi a mesma canção com a letra “friends are now MSN contacts” , mas como a métrica não servia a canção, é provável que tenha sonhado.

O individualismo não teria necessariamente de significar o isolamento psicológico (e físico), se está a significar, é porque ainda tudo é demasiado novo. Eu sinto-me velho num tempo novo que, como todos os tempos, vai vencer muitos e tornar muitos outros mais fortes. E um dia talvez possamos não ter de dizer “Julgo sempre um livro pela sua capa porque não irei ter disponibilidade mental para o ler.”

Wednesday, September 12, 2007

Rir e chorar

A minha vida atinge o seu pico quando consigo rir e chorar num curtíssimo espaço de tempo.

Sunday, September 09, 2007

Erudição futebolística

“É difícil ser estrangeiro lá fora mas é mais difícil ser português em Portugal.”
Carlos Queiroz

Saturday, September 08, 2007

Sarah Mclachlan


Era suposto ir ler o “Sexual Desire, a philosophical investigation” de Roger Scruton nesta sexta à noite quando alguém me diz que está a dar um concerto na RTP 2. Ena ena, pensei eu com um esgar que era um misto de snobismo e curiosidade. Fui ver (fui mesmo), era a Sarah Mclachlan (apelido com tendência para ficar ortograficamente danificado). Já não a ouvia há bastantes anos, como tal fiquei para ver, recordando imensas músicas com que já não tinha contacto.
A Sarah não é uma letrista muito original, não é especialmente witty, não é cínica o suficiente (quando é que é suficiente?), não é definitivamente uma escritora intelectual, não usa palavras ou ideias arrojadas, não é indie, não é cool, não é radical nem aventureira. O que é então? É boa no que se propõe fazer. Escreve músicas sobre amores e desamores com muita doçura, algum ácido, e um instinto apurado para fazer melodias pop usando a sua voz perfeitamente calibrada (e que voz) para dar um sentido real a tudo o que faz. (não me perguntem o que isso é, não tenho de explicar tudo). Fiquei a ver até ao fim para confirmar que nem tudo o que dá prazer fica dentro das nossas escolhas racionais (pobres iluministas).
Sei perfeitamente porque já não a ouço a muitos anos, mas sei também que aos 28 anos começo a perceber algo que ouvia por aí como um murmúrio latente na vida, o conceito de recordar.

Friday, September 07, 2007

Iconoclasta

Ele era tão, mas tão iconoclasta, que só namorava mulheres que considerava serem deusas.

Wednesday, September 05, 2007

No such thing

“There is no such thing as a free Welfare State”

Let me translate that to you guys…

There is no such thing as free sex.

Tuesday, September 04, 2007

Aristocrata

Hoje disse a alguém que sofria do síndroma francês, o síndroma do aristocrata arruinado. Eu nunca fui aristocrata. Isto só prova a minha capacidade de auto-superação.

Monday, September 03, 2007

Eu

Para recomeçar um novo período neste blog (agora identificado), nada como um exercício de egocentrismo tão costumeiro na minha pessoa. Achei que seria interessante revelar ao mundo que sou uma pessoa (ponto final) .Redundante, errático, orientado para as convicções com a solidez dos castelos de areia, definido pela dúvida como sendo esta parte da expressão “ohh my doubt!!”, mas também definido pela certeza, essa mesma, a que inexoravelmente nos impõe um destino comum (ou aparentemente comum). Dito isto, torna-se premente frisar que sou um ser humano em part-time, Não admira que me paguem mal para o ser. Falta-me especialização.

Sou um conservador e um liberal. Apesar de existirem vozes que afirmam que ambas as posições são incompatíveis. Não concordo com elas, mas mesmo que concordasse, o facto não de me sentir compatível com o meu eu seria a coisa mais normal do mundo. Se há algo que eu respeito neste mundo é a normalidade. Historicamente, os conservadores já fizeram mais pelo liberalismo do que muitos partidos liberais, casos de Reagan ou Thatcher, sendo a liberdade de acção individual a característica primordial a conservar na ideologia em causa. Um conservador é um cínico, não acredita na mudança pela mudança nem no progressismo incauto, no entanto ele não é de todo avesso à mudança, apenas requer mais provas do seu funcionamento antes de ela ser implementada.

Na minha área criativa eu experimento todas as hipóteses, principalmente as mais improváveis, perguntando-me muitas vezes se não estarei a perder a lucidez e o meu tempo por estar a tentar soluções tão improváveis, só o faço porque sei que estou à procura da evolução que é necessária à vida, daquele toque de utopia que talvez seja tangível por um momento, no entanto só irei fazer algo (objecto de criação) ver a luz do dia quando passar todos os testes que eu considero serem precisos para tal se suceder. Não deixa de ser frustrante, cria-se muito para no fim ter tão pouco. É aqui que a quantidade perde a validade da sua expressão quantitativa e cada um vive (in)feliz como pode.

Não sei se serei um cínico, não sei se dominarei o sarcasmo, não sei se a ironia é minha amiga ou se a resignação ao “real” é o meu prato preferido, mas sei que não sou dado a fantasias concretas, mas se me derem fantasias abstractas a roçar o non-sense posso ser o vosso melhor amigo durante uma tarde, ou duas, ou três, mediante a qualidade da abstracção em causa, desde que em qualquer momento não vislumbre que o non-sense era para levar a sério, aí saio do jogo, ou, se acreditarmos que a existência é um jogo, salto para outro.

Ontem, alguém me disse que só os maus criadores é que seguiam tendências que estão a vingar no momento e que eram muito cerebrais nas suas escolhas/processos . Eu acredito que toda a arte digna desse nome é um processo intelectual que eventualmente representará emoções passadas, apoiado em emoções presentes, mas essencialmente intelectual. Fui muito sincero na minha resposta a essa pessoa, respondi muito simplesmente “ não te preocupes, eu estou no caminho certo, não faço a mínima ideia do que estou a fazer”.

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