Tuesday, September 30, 2008

Vida analisada

Sócrates postulou que uma vida não analisada não merece ser vivida.
O senso comum diz que uma vida constantemente analisada faz com que não tenhamos tempo para sair de casa, como tal, é uma vida não vivida.

Monday, September 29, 2008

A cantiga de protesto "anti-neo-liberal"


Vejo a Joana Amaral Dias a mandar vir contra o modelo “neo-liberal” no programa do Mario Crespo. Esta canção passa mais vezes na rádio e na televisão do que as músicas dos Abba.
E, no caso da televisão, sem perder qualidade estética.

Sunday, September 28, 2008

Presidente Obama


Esta foi a semana em que Obama ganhou as eleições Americanas. Depois de um período em que estava constantemente a perder pontos nas sondagens, eis que a crise do subprime e as consequentes soluções intervencionistas republicanas o salvam sem que ele precisasse de concretizar qualquer ideia política (como é o seu apanágio). Apenas se sabe que Obama pertence a uma ala mais à esquerda do partido democrata que defende uma maior intervenção do estado na economia. Quando a administração Bush propõe que seja o estado a salvar as empresas privadas acaba por entregar a vitória da próxima eleição a Obama. O economicamente liberal Mccain fica sem argumentos e vai entrar em contradição se quiser agradar ao eleitorado do seu partido e a todos os outros de que necessita.
Se sempre foi difícil para Mccain competir com a vitalidade de Obama, agora será impossível.
Ironicamente, o presidente Bush destrói o “maverick” e entrega a casa branca aos democratas. Bem se sabia que Bush não gostava de Mccain e vice versa. Mesmo que tenha sido involuntário e que deus se tenha comovido com a retórica “obamaniana”, este golpe foi, na minha óptica, fatal.

Praxes

Os últimos dias trouxeram as praxes de volta. Fantástica tradição.
Quando surgiu a pertinente questão: “como se deve integrar os novos alunos no ensino superior?”; alguém disse: “já sei, vamos humilhá-los fazendo-os imitar porcos, auto ofenderem-se ou tratá-los como gado numa manjedoura”. O responsável pela integração disse: “excelente ideia, isso vai fazer com que eles fiquem integrados no sistema escolar num ápice”.

Não é preciso ler Beckett para ter contacto com o absurdo.

Gandhi racista?


Ao ler sobre Mahatma Gandhi descubro que este se viu envolvido numa polémica racial. Durante os tempos em que esteve na África do Sul escreveu o seguinte sobre os africanos nativos “Os kaffirs são incivilizados por definição e os presos ainda são mais. Só arranjam problemas, são muito sujos e vivem quase como animais.”
Ele protestou veementemente contra a colocação de Africanos e Indianos na mesma categoria deixando mesmo escrito que os Indianos eram sem qualquer tipo de dúvida infinitamente superiores aos kaffirs. Sobre a questão da imigração disse em 1903: “Nós acreditamos tanto na pureza da raça como pensamos que eles acreditam... nós também acreditamos que a raça branca deve ser a raça predominante na África do Sul“.

Depois de Gandhi, como é que eu vou convencer o senhor Manuel da mercearia a não fazer comentários racistas?

Sunday, September 21, 2008

Ovulem

Hoje sinto-me mais útil à sociedade, não muito mais, mas a melhoria é significativa.
Ao ver o documentário “Understanding sex(1994)” fui informado de que os homens não são parasitas sociais, ou seja, não são apenas entidades que funcionam como distribuidores de esperma e nada mais. Para além da óbvia função reprodutiva há outro papel tão ou mais importante do que esse. Os presença dos homens faz com que as mulheres comecem a ovular, coisa que não é provável de acontecer se uma mulher não puder observar machos ou estar na presença dos ditos.

No documentário é dito que o objectivo da vida é criar mais vida.
Para todos os homens como eu, que ainda não são pais, é confortante saber que estamos, apesar de tudo, a contribuir para o fim último da vida. É só sair, sermos vistos pelas jovens fêmeas na rua e gerar o efeito da ovulação.
Agora percebo porque é que toda a gente me diz que “devia sair mais de casa”.

Friday, September 19, 2008

Closing time

Thursday, September 18, 2008

Racismo e preconceito

Presenciei uma cena paradigmática do pensamento contemporâneo cosmopolita. Um rapaz e uma rapariga de nacionalidade portuguesa estavam sentados num bar do bairro alto com música ao vivo quando uma jovem mulata brasileira pediu à rapariga para dançar. O rapaz afoito e em jeito de brincadeira perguntou se a brasileira era lésbica visto que não o escolheu a ele, e a portuguesa também não acedeu ao seu pedido. Zangada, mostrando que o sentido de humor tinha sido deixado na América do sul devido ao medo de ter pagar taxas alfandegárias extra, a rapariga do sotaque tropical retorquiu agressivamente dizendo que os “Arianos” (portugueses?) são todos uns racistas, indo imediatamente ter com o porteiro para o convencer a expulsar os neo-nazis que nunca poderiam ganhar o “dança comigo”. Nada aconteceu e a história terminou ali. Resultado? Um comentário de género e de orientação sexual foi transformado imediatamente em comentário racial para efeitos de argumentação. A rapariga brasileira sabia que tem um trunfo social fortíssimo na mão e que o pode usar a qualquer momento com o apoio generalizado do politicamente correcto.


Edmund Burke (filósofo irlandês do século XVIII) diria que o que aconteceu não foi nada mais do que o uso do preconceito por parte de todos os intervenientes, visto que este é o resultado natural da história e funciona como um instinto, acrescentando que não há nada mais natural que um instinto. Burke fez a defesa do preconceito contra as vozes da Revolução Francesa que postulavam que o preconceito era contrário à razão, à natureza (a boa, claro, de Rousseau) e à felicidade terrena.
O preconceito é inevitável. Pode ser bom e ajudar-nos a tomar decisões correctas ou pode ser mau e impedir-nos de escolher caminhos ainda não explorados, prejudicando várias entidades. Mas sendo ele um instinto em si mesmo, nunca poderá ser eliminado por decreto de lei ou por instância superior, nem mesmo por alguém que se chame Sócrates (o que o coloca muito perto do governante iluminado ao jeito da república de Platão).

O racismo é naturalmente condenável tal como são todas as características negativas da natureza humana. No entanto, a supressão a priori dessas mesmas características , através da força ou da coação, sempre deu resultados monstruosos ao longo da história. Os nazis praticavam eugenia ou castração química para atingirem o “super homem Nietzschiano” e Estaline e Mao lutavam para acabar com o lado negativo e egoísta do homem que gerava o capitalismo e a desigualdade. “Matamos as ervas daninhas e deixamos as flores florescerem”, pareciam dizer. Que simpáticos.

Devido à luta de etnias ciganas e africanas na Quinta da fonte os estudos sociais “descobriram” que o povo português é racista porque desgosta dos lutadores de serviço. O povo já o sabia. Também sabia que qualquer voz de protesto público contra desordeiros é silenciada se o desordeiro for de outra minoria étnica. Ora, se não há discriminação negativa há positiva.

Burke sussurra-me que o preconceito não se pode abolir mesmo que se queira.
Talvez tenha também razão quando diz que só a história e o tempo podem mudar os preconceitos actuais e, claro, substituí-los por uns novos.

Tuesday, September 16, 2008

Madonna de novo


Ouço constantemente o louvar da coragem, do radicalismo e da capacidade para chocar de Madonna. Não me venham com histórias. Desde os anos 60 que no “Star system” do mundo ocidental as únicas mulheres radicais são as que assumem uma atitude conservadora, dado serem a excepção à regra.
“Sex Sells”. Nunca ouviram dizer? Poucas pessoas jogaram segundo as regras como a Madonna o fez. E aí está o sucesso dela para o provar. A rejeição das regras leva-nos para os ostracismo, não para o sucesso mundial. Ela não inventou regras novas, não destruiu as antigas, não fez qualquer revolução. Jogou muito melhor do que as outras estrelas femininas dentro das regras já existentes.
Passemos para outro tópico. Por favor.

O estereótipo da diferença

Sempre que estou fora de Portugal deparo-me frequentemente com a estranheza dos nativos perante o facto de ser português. As razões podem ser várias, mas a que é mais apontada é a minha aparência física. Por ser esqualidamente pálido e ter olhos verdes recebo comentários como: “És português? Pensava que os portugueses, por serem latinos, tinham uma pele bastante escura.” Passo normalmente a explicar que os portugueses são uma mistura de tribos e de povos Hindu-Europeus que ocuparam o território e passaram a viver em comunidade até aos nossos dias, desde os romanos, a passar pelos Celtas, até aos germânicos, entre outros. Como tal, há pessoas com características físicas marcadamente distintas. No entanto, o estereótipo formado no resto do mundo ocidental é o de que os portugueses são latinos de pele escura, indistinguíveis do brasileiro médio. Se arrisco dizer que é certo que há portugueses com tais características, também arrisco dizer que o português médio não corresponde a esse estereótipo.

Olhando com mais atenção é possível perceber que o fenómeno não é exclusivamente português, mas sim europeu, ou provavelmente mundial. Parece-me que estamos claramente perante um caso de formação do estereótipo, não através da norma, mas através da diferença.
Tomemos em consideração alguns exemplos tirados dos compêndios do senso comum. É de esperar que um alemão tenha o perfil ariano, consequentemente loiro. Curiosamente apenas uma minoria dos alemães é loira. É de esperar que os suecos sejam loiros, mas a maioria dos nativos do país do Ingmar Bergman não é loira. E a Irlanda, toda a gente sabe que o típico irlandês tem cabelo ruivo, tão característico daquela ilha. Sim, é verdade, a maioria dos irlandeses não é ruiva.

Estamos então perante um paradoxo interessante. O que define o estereótipo não é a norma do país, mas sim o que o distingue de alguma forma dos outros países, mesmo que tal não seja representativo da nação. Tal seria suficiente para matar o conceito de estereótipo, mas não é. Porquê? Depois de passar por explicações nacionalistas e de demarcação étnica, termino na opção cuja filosofia mais me convence. A do típico pensamento cristão que exacerba o individualismo e a diferença dentro da igualdade. Ou se calhar devo dizer pensamento humano, se pensar no amor entre sunitas e xiitas, ou noutros casos de relações amorosas “especiais” de diferentes entre iguais.

Talvez a verdade seja bem mais prosaica. Gostamos de categorias. Podemos ter revoluções pós-modernas todos os dias que ninguém nos arranca a necessidade de colocar rótulos em tudo. Sentimos que a vida já é caótica por si só, sem rótulos seria insuportável, ou pior ainda, intangível. Como tal, se para categorizar-mos as pessoas dos diferentes países for preciso pegar numa minoria e elegê-la erroneamente a representante do todo, de forma a que consigamos ser todos diferentes uns dos outros, então fá-lo-emos sem pensar demasiado no assunto. Ninguém quer ir ao supermercado e sentir que os produtos são todos iguais ou que estão mal arrumados nas prateleiras.

Quanto a mim, já desisti de explicar esta história a estrangeiros (e alguns portugueses).
Da próxima vez que sair do país e me disserem que não sou o “típico português latino de pele escura “, direi apenas que eu sou mais escuro do que pareço, e que eles estão com problema de daltonismo.
Porque é mais fácil convencer alguém de é algo que não é do que não ser algo que devíamos ser.

Saturday, September 06, 2008

As mulheres e o determinismo evolutivo

For the woman, the man is a mean: the end is always the child.
Friedrich Nietzsche


É certo que Nietzsche não tinha a melhor imagem das mulheres. Também é certo que o mundo ainda lhe vai dando importância. Assim sendo, é difícil para um elemento humano do sexo masculino ficar indiferente à ideia Nietzschiana de que, na óptica feminina, o homem é apenas um meio para chegar a uma criança.
Bem sei que costumo dizer que as mulheres começam por procurar o parceiro ideal e passados vários anos, quando o relógio biológico lança ferozes ultimatos, já só procuram esperma (dentro ou fora do corpo masculino).
Calma, antes de começar a ser injuriado, devo dizer em minha defesa que digo-o sempre em tom de brincadeira, apesar de não crer que tal me salva da injúria externa.

Seguindo a lógica da citação que abre este texto, as mulheres irão escolher o parceiro baseando-se nas condições que ele vai oferecer para um possível filho, condições essas que serão tanto genéticas como sociais. Já li vários estudos sociais que mostram que as mulheres raramente casam com homens de classes sociais mais baixas que as delas, no entanto os homens parecem mais dispostos a casar com mulheres de classes mais baixas desde que elas sejam esteticamente apelativas. Entra a brigada do senso comum para dizer que é por motivos como esses que se diz que as mulheres procuram homens preferencialmente poderosos e ricos. Garantir as melhores condições para as crias parece ser o critério inexorável da entidade feminina. Há por aí mais algum jovem macho agitado por este determinismo ou sou só eu? Qualquer determinismo é assustador por transmitir a sensação de inevitabilidade e, consequentemente, de impotência. Através de exemplos, vamos então tentar salvar o género masculino deste determinismo

Há mulheres que casam com homens pobres, remediados e sem grande poder social. É verdade, mas este argumento não seja a ser digno desse epíteto porque mesmo que quisessem, não havia homens ricos e com poder para todas, e um investimento é um investimento, mesmo quando os adjuvantes de procriação não têm os predicados ideais. O argumento mais forte é o de que há mulheres que descobrem que, por razões genéticas, não podem ter filhos com os homens que escolheram e não os deixam por causa disso. Nem tudo é trágico, mas normalmente a luta não termina aí, a adopção é normalmente a opção seguinte, mantendo assim a importância e a ligação directa do poder social do macho à criança. Finalmente existirão as excepções, que são os casos onde na impossibilidade de ter filhos, não se dá uma separação conjugal, nem se parte para a adopção.

Abre-se a garrafa de champanhe. Viva o amor pelo amor e a amizade pela amizade. Mais uma vez as excepções salvam o dia desse terrível monstro do determinismo. Se toda a regra tem a sua excepção, é porque o arquitecto deste previsível mas incerto universo não quis que perdêssemos a fé na pessoa seguinte, ou até mesmo no segundo seguinte.

Não sei se Nietzsche sabia muito sobre mulheres. Mas calculo que uma sondagem feita ao público masculino iria muito provavelmente revelar que é muito mais fácil ser-se filho do que ser-se namorado/marido. E depois admiramo-nos de que os homens nunca crescem.

Thursday, September 04, 2008

Brandi Carlile


Não sei quase nada sobre esta senhora. Conheço esta canção (The story).
Tudo o que me ocorre dizer é que a forma como ela canta esta música dá pontapés, gera embates, rasga cordas vocais e esmaga-me a percepção. Só coisas boas.
Eu nunca conseguiria cantar assim porque sou intrinsecamente… snob.

Wednesday, September 03, 2008

Afectos no casamento

As Estatísticas do “Office of National Statistics” mostram que em Inglaterra os divórcios andam de braço dado com os preços das casas. Quando elas são mais caras, os casais que são donos das casas tendem a divorciar-se mais, quando as casas estão mais baratas os cônjuges tendem a divorciar-se menos. Surpreendente? Nem por isso.
É natural pensar que, quando há mais dinheiro para dividir pelos 2, os casais optem por se divorciar mais facilmente.

Este estudo só vem dar razão ao veto do presidente da república à nova lei do divórcio suportada pela esquerda portuguesa. O casamento não é baseado nos afectos como se pretendia passar com esta nova lei, ou pelo menos não é só baseado nos afectos, eles existem como mote e não como base estrutural. A prova de tal facto é que a decisão de quebrar “os afectos”, ou de assumir oficialmente a quebra, depende muito de uma decisão perfeitamente racional, que neste caso é o dinheiro que cada um vai poder receber da casa.
Quando os afectos (e o parceiro/a) podem ser mais ou menos toleráveis mediante o dinheiro que está em causa é possível perceber com clareza que eles são importantes mas que estão longe de serem agentes autónomos, independentes de decisões racionais e contratuais onde uns ganham e outros perdem.

Penso ser importante ter uma palavra sobre o paternalismo em relação às mulheres de que Cavaco Silva foi acusado por ter dito que a nova lei desprotege a mulher (ao permitir que o homem que violou o contrato do casamento possa afastar-se sem prestar contas adicionais).
Que as famílias mono parentais são estatisticamente mais pobres que as famílias ditas “normais” é um facto inegável, facilmente comprovado por qualquer estatística. Que as mulheres, por razões biológicas e sociais, são normalmente prejudicadas nos casos em que são mães solteiras é outra evidência. Só é possível auferir bons salários e progredir na carreira com muito tempo para investir, a maior parte desse tempo sem ganhar muito ou não ganhando mesmo nada. Este investimento torna-se praticamente impossível quando uma mãe precisa de dinheiro imediato para fazer face à educação de uma criança.

Acreditar que a noção de certo ou errado se esbate porque o que está em causa são apenas afectos é uma visão deveras simplista do processo. Um contrato faz-se porque esperamos que ele seja cumprido, se o conceito de violação do contrato deixa de existir, o contrato perde todo o sentido. No fundo esta lei foi apenas mais um tradicional ataque da esquerda à instituição do casamento, que na sua óptica continua a ser um foco de divisão social que faz com que o núcleo familiar seja mais importante que as contribuições para o “todo” social. Só com afectos voláteis e sem responsabilidades seria mais fácil entregar o dinheiro ao estado. Como dizia um professor da minha faculdade durante as aulas “as pessoas quando têm filhos e família tomam as suas decisões de forma mais egoísta, porque sentem que tudo deve ir para a sua descendência e para o seu núcleo familiar”.

A esquerda sempre quis controlar a vontade humana, a sua vontade de querer mais que o outro, de ser egoísta, de ser ambicioso. E agora usa inteligentemente o argumento de que o casamento deve apenas viver ao sabor dos afectos para obviamente se tornar numa instituição precária. Todos o sabemos, somos a favor ou contra os afectos humanos mediante a ajuda que eles dão à nossa ideologia de interesses.

Aaaiiii se o ser humano fosse totalmente racional... não era um ser humano, era outra coisa qualquer.
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