Wednesday, September 03, 2008

Afectos no casamento

As Estatísticas do “Office of National Statistics” mostram que em Inglaterra os divórcios andam de braço dado com os preços das casas. Quando elas são mais caras, os casais que são donos das casas tendem a divorciar-se mais, quando as casas estão mais baratas os cônjuges tendem a divorciar-se menos. Surpreendente? Nem por isso.
É natural pensar que, quando há mais dinheiro para dividir pelos 2, os casais optem por se divorciar mais facilmente.

Este estudo só vem dar razão ao veto do presidente da república à nova lei do divórcio suportada pela esquerda portuguesa. O casamento não é baseado nos afectos como se pretendia passar com esta nova lei, ou pelo menos não é só baseado nos afectos, eles existem como mote e não como base estrutural. A prova de tal facto é que a decisão de quebrar “os afectos”, ou de assumir oficialmente a quebra, depende muito de uma decisão perfeitamente racional, que neste caso é o dinheiro que cada um vai poder receber da casa.
Quando os afectos (e o parceiro/a) podem ser mais ou menos toleráveis mediante o dinheiro que está em causa é possível perceber com clareza que eles são importantes mas que estão longe de serem agentes autónomos, independentes de decisões racionais e contratuais onde uns ganham e outros perdem.

Penso ser importante ter uma palavra sobre o paternalismo em relação às mulheres de que Cavaco Silva foi acusado por ter dito que a nova lei desprotege a mulher (ao permitir que o homem que violou o contrato do casamento possa afastar-se sem prestar contas adicionais).
Que as famílias mono parentais são estatisticamente mais pobres que as famílias ditas “normais” é um facto inegável, facilmente comprovado por qualquer estatística. Que as mulheres, por razões biológicas e sociais, são normalmente prejudicadas nos casos em que são mães solteiras é outra evidência. Só é possível auferir bons salários e progredir na carreira com muito tempo para investir, a maior parte desse tempo sem ganhar muito ou não ganhando mesmo nada. Este investimento torna-se praticamente impossível quando uma mãe precisa de dinheiro imediato para fazer face à educação de uma criança.

Acreditar que a noção de certo ou errado se esbate porque o que está em causa são apenas afectos é uma visão deveras simplista do processo. Um contrato faz-se porque esperamos que ele seja cumprido, se o conceito de violação do contrato deixa de existir, o contrato perde todo o sentido. No fundo esta lei foi apenas mais um tradicional ataque da esquerda à instituição do casamento, que na sua óptica continua a ser um foco de divisão social que faz com que o núcleo familiar seja mais importante que as contribuições para o “todo” social. Só com afectos voláteis e sem responsabilidades seria mais fácil entregar o dinheiro ao estado. Como dizia um professor da minha faculdade durante as aulas “as pessoas quando têm filhos e família tomam as suas decisões de forma mais egoísta, porque sentem que tudo deve ir para a sua descendência e para o seu núcleo familiar”.

A esquerda sempre quis controlar a vontade humana, a sua vontade de querer mais que o outro, de ser egoísta, de ser ambicioso. E agora usa inteligentemente o argumento de que o casamento deve apenas viver ao sabor dos afectos para obviamente se tornar numa instituição precária. Todos o sabemos, somos a favor ou contra os afectos humanos mediante a ajuda que eles dão à nossa ideologia de interesses.

Aaaiiii se o ser humano fosse totalmente racional... não era um ser humano, era outra coisa qualquer.

2 Comments:

Blogger BMG said...

This comment has been removed by the author.

9/04/2008 10:39 AM  
Blogger magnuspetrus said...

Por isso é que me casei e não comprei casa, sendo que também não o espero fazer...

9/04/2008 10:41 AM  

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