Tuesday, August 05, 2008

O Zeca e o beijo

Sentado na tasca com os amigos, Zeca estava já algo embriagado pelo vinho de fraca qualidade que costumava consumir cronicamente. A tasca estava semi-cheia, tinha um cheiro intenso a fritos, cerveja, vinho e odores corporais identificados facilmente até por entidades vivas desprovidas de olfacto. O movimento não era intenso, existia em quantidade suficiente para gerar um considerável ruído de fundo.
O Zeca folheava o Público, jornal que o dono da tasca tinha colocado no balcão juntamente com os jornais desportivos. Que outra coisa podia fazer se já tinha lido e discutido com minúcia os assuntos desportivos do dia?
Algures no meio do acto depara-se com a seguinte definição de beijo:

O beijo

Hormonal o suficiente para ser biologicamente sustentado mas visceral o suficiente para ser confundido com um acto de negociação. Racional, emocional, egoísta, interessado e sexual. Depois do homem politico de Aristóteles, eis o beijo político.


Intrigado, ele comenta com os companheiros da tasca:

- Olha, este fala de um beijo mas parece que fala do motor do carro da minha mulher.

Não obteve resposta. Os companheiros continuaram a beber as suas imperiais e a olhar para televisão. O Zeca continua:

- Olhem lá, quem é o Aristóteles? Acho que isto se refere à novela da Tvi que dá depois da 2ª novela, depois do telejornal, bem, ou é a segunda ou a terceira, nunca sei ao certo. Vocês viram se alguém deu um beijo estranho ontem à noite?

Depois de lhe dizerem que não tinham visto nada fazem notar que está a passar uma mulher decotada junto à vitrina. Aproveitando a deixa, o Zeca aproveitou para desenvolver o seu estado de intriga.

- Vocês bem gostam daquilo mas não chegam lá a ler o jornal Record. Aqui diz que o beijo é sexual, se calhar vocês deviam começar por aí. Só não percebo o que ele quer dizer por “biologicamente sustentado”, mas acho que já li algo como isto nas etiquetas do supermercado em alguns produtos.

Gera-se a indiferença

- Bem, vocês não me ligam nenhuma, depois admiram-se de nunca conseguirem mulheres. Olhe, eram mais uns caracóis e um copo de vinho por favor.

2 Comments:

Blogger Raquel Santos Silva said...

Lindo! É mesmo o nosso zeca, o verdadeiro português de tasca, com o copinho e vinho e os caracóis... :D Que curioso que ele estava quanto àquele beijo...

8/06/2008 11:05 AM  
Blogger Miguel Pires Prôa said...

Estupendo! Esse vosso Zeca é mm um personagem a desenvolver... Vinho e caracóis, q show!

8/06/2008 3:06 PM  

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