Experiências positivas e negativas
Entro na sala e aguardo pela minha vez de ser atendido. Enquanto espero ouço a conversa de 2 raparigas sobre o estágio profissional de uma delas. Ao saber que a rapariga não tinha ficado na empresa (depois do estágio ter terminado) a outra disse que não fazia mal porque ao menos tinha sido uma experiência e que as experiências, mesmo quando são más, tornam-se boas porque aprendemos com elas. Eu não pude deixar de interpelar a conversa dizendo que tal não era verdade. Bem, não foi exactamente assim, o que eu disse foi: “sim, aprendemos se não morrermos da experiência”. Recebi a resposta clássica: “não sejamos fundamentalistas” ; o que é estranho, porque eu até estava mais próximo do relativismo, mas isso agora não é importante.
Parece ser do senso comum dizer que as experiências más tornam-se boas porque aprendemos com elas, no entanto ninguém procura deliberadamente más experiências apenas para poder aprender com elas. Das duas uma, ou ninguém gosta das más experiências porque o seu saldo final é negativo, ou toda a gente gosta de permanecer ignorante. A avaliar pelo nível de ignorância neste mundo, eu até apostaria na segunda hipótese, mas a busca deliberada pela ignorância é algo que não me convence (acho que não sou assim tão ignorante).
É verdade que aprendemos com os erros, nesse sentido as experiências falhadas podem ser positivas, mas estamos muito longe de poder dizer que as experiências falhadas são boas porque se aprende com elas de forma taxativa. Se fugimos das experiências negativas é porque as vemos com saldo negativo (talvez daí serem “negativas, digo eu). Uma mulher ao ser violada até pode aprender que não deve andar sozinha na rua à noite ou que não deve passar por uma determinada zona, ou outra coisa qualquer, mas isso não faz da experiência um fenómeno positivo devido à aprendizagem gerada. Bem sei, é um caso extremo, etc etc, mas não é preciso ir tão longe para se perceber que o saldo negativo das más experiencias suplantam largamente o saldo positivo, quanto mais não seja por uma questão terminológica. Por alguma razão as experiências se dividem em positivas e negativas, e não em “positivas”, “cheias de conhecimento mas chatas como as pulgas”, “negativas mas se pensares um bocadinho ainda aprendes algo e diminuis o rácio bom/mau” e finalmente “negativas ao ponto de praticamente morreres e o conhecimento não te serve para nada a não ser para um bom diário se houver tempo para o escrever”.
A ideia de que “as experiências são boas porque ou são boas ou se aprende com elas” é uma ideia usada acima de tudo num processo de auto convencimento, tal como um instinto de sobrevivência que ajuda a levantar a cabeça e a não ficar deprimido por pensar que se perdeu tempo numa situação dispensável. Não irei tão longe seguindo o pensamento Nietzschiano de que tal elaboração conceptual se deve à filosofia cristã da piedade, porque a auto-piedade, apesar de ser uma forma de condescendência, visa apenas a própria subsistência do homem em condições contextuais adversas. Se bem que o seu uso como forma de desculpabilização do próximo pode ser visto naturalmente como uma derivação cristã.
Porque estou eu a escrever isto? Porque mais uma vez fui impertinente perante a linguagem e o pensamento do quotidiano. Mesmo sabendo que estes existem, tal como a hipocrisia, para possibilitar a interacção humana, afastando-nos daquilo que mais temos medo na vida, da verdade demasiado apurada.
Como a verdade vai saltando como uma bola de ping-pong acabamos por estar sempre seguros. Só eu é que não estou assim tanto porque faço comentários em momentos inusitados sem saber bem porquê. Ou se calhar até sei, porque gosto de me sentir como o Asterix no meio dos romanos, só que eu sou o Asterix que se esquece de tomar a poção mágica.
Parece ser do senso comum dizer que as experiências más tornam-se boas porque aprendemos com elas, no entanto ninguém procura deliberadamente más experiências apenas para poder aprender com elas. Das duas uma, ou ninguém gosta das más experiências porque o seu saldo final é negativo, ou toda a gente gosta de permanecer ignorante. A avaliar pelo nível de ignorância neste mundo, eu até apostaria na segunda hipótese, mas a busca deliberada pela ignorância é algo que não me convence (acho que não sou assim tão ignorante).
É verdade que aprendemos com os erros, nesse sentido as experiências falhadas podem ser positivas, mas estamos muito longe de poder dizer que as experiências falhadas são boas porque se aprende com elas de forma taxativa. Se fugimos das experiências negativas é porque as vemos com saldo negativo (talvez daí serem “negativas, digo eu). Uma mulher ao ser violada até pode aprender que não deve andar sozinha na rua à noite ou que não deve passar por uma determinada zona, ou outra coisa qualquer, mas isso não faz da experiência um fenómeno positivo devido à aprendizagem gerada. Bem sei, é um caso extremo, etc etc, mas não é preciso ir tão longe para se perceber que o saldo negativo das más experiencias suplantam largamente o saldo positivo, quanto mais não seja por uma questão terminológica. Por alguma razão as experiências se dividem em positivas e negativas, e não em “positivas”, “cheias de conhecimento mas chatas como as pulgas”, “negativas mas se pensares um bocadinho ainda aprendes algo e diminuis o rácio bom/mau” e finalmente “negativas ao ponto de praticamente morreres e o conhecimento não te serve para nada a não ser para um bom diário se houver tempo para o escrever”.
A ideia de que “as experiências são boas porque ou são boas ou se aprende com elas” é uma ideia usada acima de tudo num processo de auto convencimento, tal como um instinto de sobrevivência que ajuda a levantar a cabeça e a não ficar deprimido por pensar que se perdeu tempo numa situação dispensável. Não irei tão longe seguindo o pensamento Nietzschiano de que tal elaboração conceptual se deve à filosofia cristã da piedade, porque a auto-piedade, apesar de ser uma forma de condescendência, visa apenas a própria subsistência do homem em condições contextuais adversas. Se bem que o seu uso como forma de desculpabilização do próximo pode ser visto naturalmente como uma derivação cristã.
Porque estou eu a escrever isto? Porque mais uma vez fui impertinente perante a linguagem e o pensamento do quotidiano. Mesmo sabendo que estes existem, tal como a hipocrisia, para possibilitar a interacção humana, afastando-nos daquilo que mais temos medo na vida, da verdade demasiado apurada.
Como a verdade vai saltando como uma bola de ping-pong acabamos por estar sempre seguros. Só eu é que não estou assim tanto porque faço comentários em momentos inusitados sem saber bem porquê. Ou se calhar até sei, porque gosto de me sentir como o Asterix no meio dos romanos, só que eu sou o Asterix que se esquece de tomar a poção mágica.
1 Comments:
As experiências positivas e negativas fazem parte da (nosssa) vida, mas eu sinceramente dispensava a parte das más, até porque não sei até que ponto aprendemos realmente com elas...
Excelente post, muito pertinente!
Keep going, Asterix!
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