Monday, May 26, 2008

"Festival da Eurovisão dos Imigrantes"

Este é já o segundo ano consecutivo em que escrevo sobre o festival da Eurovisão. No sábado, devido à falta de uma vida social e de uma procrastinação pungente, vi o famigerado programa que une toda a Europa numa grande festa.
Não vale a pena falar da música, ninguém está lá pela música mas sim pela política e pelas gajas esteticamente apelativas (vulgo "gajas boas"). Política? Tentado a falar das gajas boas, opto por não o fazer, visto que li ontem o senhor António Damásio no Expresso, onde ele apregoava que mente e corpo são unos, como tal, não quero deixar a minha análise ser influenciada pelas minhas hormonas palpitantes.


Resta então a política, chato, chato, chato. Vamos lá. Informação de relevo? Novidades? Não há. No entanto o concurso é mais arrojado do que qualquer instituição europeia ligada à União. Ao contrário das elites de Bruxelas, este programa já decretou que a língua oficial da Europa é o Inglês. Não é apenas pela adopção do Inglês (língua proveniente de um país eurocéptico) na sua apresentação formal, mas também pela obrigação moral que recai sobre os cantores que já não acreditam que alguém os oiça noutra língua, quando a atitude chega a França e aos seus cantores, é caso para dizer que o ciclo está completo. Fecha-se um ciclo. Abre-se um novo. Mas nas instituições da União nada realmente acontece. Problemas burocráticos, com certeza.


O nome do concurso devia ser mudado para "Festival da Eurovisão dos Imigrantes". A França dá sempre pontos a Portugal, Portugal vota todos os anos na Espanha e na Ucrânia (imaginem se o Brasil entrasse no concurso), a Irlanda vota na Polónia independentemente do apelo estético da cantora, os países escandinavos votam uns nos outros e finalmente, o golpe de mestre, os países de leste votam todos entre si. No meio desta festa política, os comunistas reformados da Rússia são os grandes vencedores. Podem ter perdido o bloco central comunista, mas ganharam a Eurovisão. Como neste momento a Eurovisão é um instrumento que se apresenta mais político do que nunca, penso até que ganharam com a troca. Com a divisão do bloco soviético em múltiplos países os russos não fizeram mais do que bater os ingleses no seu próprio terreno. Tradicionalmente o "Divide and Conquer" é atribuído à pátria de Shakespeare, mas está prestes a fazer escola no país de Dostoievski, num patamar tão ou mais importante do ponto de vista da criação das tendências, que é o patamar do entretenimento feito ao nível da exposição global. O festival da Eurovisão não será arte ao serviço da política, é melhor ainda, é diversão ao serviço da política. Parabéns aos Russos.

PS: Agora que o texto está terminado já posso perguntar… Será que alguém viu aquela representante da Ucrânia? Acho que ela também cantou. Acho.

Wednesday, May 21, 2008

Neo-liberal

Pedro Passos Coelho disse há uns dias que não é um Neo-liberal. Começo a desconfiar seriamente do que poderá sair dali. Ou melhor, devia ter desconfiado logo de início quando ele se disse liberal num partido com tradição histórica na social democracia.

Sunday, May 18, 2008

They try to make me go to rehab and I say …


It’s plain to see
Water is destroying my social life
What social life?
Do I have one?
Lets count the facts:

I have people around me
They all drink beer
I don’t drink beer
Beer doesn’t drink me
I’m not sure they are people
They must be because they look like it
That’s good enough for me

Sunday, May 11, 2008

Irina Palm


Não sei se por inépcia no acto da escolha ou se por falta de qualidade cinematográfica geral, sempre que fui ao cinema nos últimos tempos fiquei com a sensação que os filmes não trazem nada de novo, pior que isso, que não provocam qualquer tipo de sensação. Depois deste hiato, surge um filme de que realmente gostei. Chama-se Irina Palm. Tem a Marianne Faithful e explica-nos de forma divertida como o desconforto situacional pode ser mais natural do que muitas das situações do quotidiano banal (passe a redundância). Bom, talvez não explique nada disto, mas vale a pena ver.

Saturday, May 10, 2008

Prémio Nobel

Dr. Wilson : He might win the Nobel prize and you never will

Dr. House : Yes, but I’ve nailed much more swedish babes than he ever will

O House podia ter salientado a outra grande “atracção” escandinava que é o Estado providência de carácter universalista , mas não, outros valores se levantaram.

Thursday, May 08, 2008

Equivalência

“I guess you go too far when pianos try to be guitars” Tori Amos

Hoje sou um piano a tentar ser uma guitarra, amanhã espero ser, no mínimo, uma flauta a ser um pífaro. Quem sabe um dia atingirei a almejada equivalência do ser. Só não sei me vou interessar por esse som.

Tuesday, May 06, 2008

Pedro Passos Coelho


Não há dúvidas que Pedro Passos Coelho estudou bem a lição. Numa entrevista onde passa pela maioria dos tópicos prementes para o país, conseguiu ser articulado, coerente e até entusiasmante em determinados pontos. Com este programa, será possivelmente a única real concorrência para Sócrates. No fundo é a volta para o célebre lema de carácter liberal de Cavaco Silva “Menos estado e melhor estado”, mas Cavaco revelou-se, na sua essência, um Keynesiano que, apesar das privatizações feitas, nunca deixou de querer um estado intervencionista e a dirigir metodicamente a economia. Terminou com mais estado, mais burocracia e mais lentidão de processos.
“Menos estado e melhor estado” é também o lema de Pedro Passos Coelho. Na oposição começa como liberal. E no governo, em que se tornaria? Seguiria a tendência do PSD para ser um partido marcadamente Social Democrata (social democracia que em vários países da Europa tem o papel ideológico do nosso partido socialista) ou seria de facto um elemento de ruptura? Aguardamos os próximos episódios.

Monday, May 05, 2008

Liberalismo à portuguesa

John Locke, Adam Smith, Stuart Mill, David Hume, Hayek e … Fernando Pessoa


Num artigo publicado em 25 de Fevereiro e 26 de Março de 1926, na Revista de Comércio e Contabilidade, intitulado Régie, Monopólio, Liberdade, Fernando Pessoa escrevia: «Desconhecemos por completo que leis regem as sociedades, ignoramos por inteiro o que seja, em sua essência, uma sociedade, porquê e como nasce, segundo que leis se desenvolve, porquê e de que modo definha e morre. (…) É preciso, contudo, que as sociedades, sejam o que forem, se governem; é forçoso que haja um Estado de qualquer espécie. E esse Estado é chamado a governar uma entidade cuja essência desconhece, a orientar um agrupamento que segue (sem dúvida) uma orientação vital que se ignora, derivada de leis naturais que também se ignoram, e que pode portanto ser bem diferente daquela que o Estado quer imprimir-lhe. (…) É pois evidente que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais risco há, se não positivamente mais certeza, de estar entrando em conflito com leis naturais, com leis fundamentais da vida (…)».

Via "O insurgente"

Saturday, May 03, 2008

O cantor francês, o inglês, nacionalismos e a europa

Li na “Única” da semana passada que a França está agitada com o facto de a música que a vai representar no festival da Eurovisão ser cantada em Inglês (com o título “Divine”). O aparente sacrilégio foi cometido pelo cantor Sebastien Tellier, que justificou a escolha dizendo que a maioria das canções vencedoras do festival são cantadas em inglês. Aquilo que seria uma banalidade aceite na generalidade dos países não o parece ser em França. A questão chegou mesmo ao parlamento. A justificação de Tellier não satisfez os franceses nem os seus representantes parlamentares. Os deputados pressionam mesmo a ministra da cultura para rever a mensagem subalterna que a França está a mandar para o exterior.


É nisto que termina o liberalismo à francesa. Em atitudes anti-liberais, através do proteccionismo cultural e económico num estado onde o poder está centralizado e onde a expansão do elemento nacionalista se torna muitas vezes mais importante do que a liberdade do indivíduo, neste caso concreto seria a liberdade do cantor que, por dever patriota, devia ser impedido de maximizar, no seu entender, as suas hipóteses de vitória.


A arte em França vive fortemente do subsídio, mais do que em países de carácter liberal como os anglo saxónicos, esse sistema organizativo tem evidentemente vantagens e desvantagens, mas a principal desvantagem é que para a obtenção do subsídio não costuma ser de bom tom ter demasiadas atitudes anti-patriotas em relação ao estado que os providencia, ou seja, a liberdade torna-se menos importante do as verbas monetárias a receber, normalmente a mão que providencia o sustento artístico também define o que se pode ou não fazer. Em casos extremos o artista torna-se um boneco de propaganda governamental.


A história parece fortalecer uma linha firme. Napoleão fez as suas campanhas para espalhar a liberdade francesa aos outros povos, os outros podiam ser naturalmente livres desde que a liberdade fosse “imposta” por ele. Os imigrantes em França, ou se tornam culturalmente franceses (condição imprescindível para o estado) ou serão estrangeiros para sempre. A tendência histórica para o estado centralizado, burocrático e intervencionista ajuda ao controle sobre a população (não é por acaso que o protesto em França tem fama de se fazer essencialmente na rua). Posso concordar mais ou menos com algumas destas opções politicas, de acordo com o assunto em causa, mas que a tendência é clara, isso parece-me evidente.


Voltando à questão da língua, torna-se difícil não falar do futuro das nações europeias e da sua respectiva unidade na diversidade. Já quando Victor Hugo falava na grande construção europeia tinha em vista a expansão da cultura francesa, dos seus valores “socializantes”, de um estilo de vida à francesa e, pois claro, da bela língua francesa. É caso para dizer que as boas intenções nunca vêm sozinhas e que não há almoços grátis. Não é de estranhar que esta ideia de expansão cultural de Victor Hugo tenha perdurado na psique francesa até aos dias de hoje. A União Europeia constrói-se com a Alemanha sem força política, com uma França que apesar de muito destruída tem a força moral para impor regras aos demais parceiros, estavam montadas as condições para que a tal expansão cultural e linguística francesa pudesse entrar em cena.


Mas algo correu mal, com o fim da segunda guerra emerge uma grande potência mundial que se chama Estados Unidos da América (bipolarizando o mundo com o bloco soviético) e que mal ou bem vai ter um papel preponderante na formação da nova Europa. Com o fulgor económico americano gera-se a americanização da Europa em muitos sentidos, a faceta mais importante para a questão em causa é a linguística. Para desgosto dos francófonos o inglês torna-se a língua comum europeia (e mundial). É no mínimo paradoxal que um país que está cronicamente com um pé fora da União Europeia, como é o caso da Inglaterra, tenha a sua língua como preponderante dentro do espaço comunitário. Já em França gera-se o desencanto, a ideia de que a língua que se expandiu foi o Inglês e de que o modelo económico europeu se tornou cada vez mais “neo-liberal” deve ter colocado dúvidas em muitos franceses em relação à direcção do projecto Europeu, o “não” francês à constituição europeia foi em grande parte alimentado por elas.
No entanto o projecto europeu precisa de uma língua comum ao espaço europeu. A Europa é o exemplo paradigmático de como línguas diferentes são um factor de desunião e um catalizador de guerrilhas nacionalistas, para se evitar as guerras é preciso que se fale a uma voz, e por mais voltas que se dê, a melhor forma de falar a uma voz é falando a mesma língua.


Por esta altura entram em campo os anglófilos , os francófilos, os hispanófilos ou outros quaisquer esgrimindo argumentos para que se adopte prioritariamente a língua da sua preferência dentro da comunidade.
Pois as línguas são monstros em movimento, não se definem por decreto de lei (como o esperanto) e a língua europeia vai ser escolhida naturalmente pela lei do contexto, e porque não dizê-lo, como pensava Thomas Hobbes, pela lei do mais forte. Se o mundo inteiro fala Inglês como segunda ou primeira língua (a china há 3 falantes de inglês por cada falante de inglês nativo no mundo) porque é que a Europa devia ir contra a corrente não tendo vantagens visíveis nessa atitude isolacionista?
A título pessoal, não me importaria de aprender e dominar qualquer língua escolhida para facilitar uma união europeia, tal como uma maior harmonia ocidental, apenas não vejo como é que neste momento exista algum tipo de escolha que não seja a já existente (apesar de não-oficial) do inglês.


Como um dos pais (e mães) da União europeia a França devia pensar acima do orgulho nacional, visto ser a supra nacionalidade o objectivo último do processo europeu em curso. Duvido é que o país de Nicolas Sarkozy esteja disposto a actos de humildade para se atingir esse objectivo, facto patente neste pormenores proteccionistas. Sejamos justos, a França não está sozinha neste tipo de atitude e por vezes até a podemos encontrar quando nos olhamos ao espelho.

Senhores deputados franceses, senhora ministra da cultura francesa, deixem lá o rapaz cantar na língua em que ele quiser. Se a ideia vos atormentar em demasia, digam apenas “perdoem-no porque ele não sabe o que faz” mas deixem-no ser livre de fazer opções estéticas, artísticas e culturais. Por falar nisso, já vi o vídeo, e em relação às questões estéticas eu também disse o mesmo.
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