Thursday, May 31, 2007

Miserabilismo não-derrotista

Não me ames por o que sou. Ama-me por o que posso vir a ser.

Wednesday, May 30, 2007

Uma mente aberta

De vez em quando, em algum debate ou simples conversa de café, alguém me diz que tenho de ter uma mente aberta. Uma mente aberta e ser eclético, naturalmente. Eu respondo sempre que uma mente aberta é um conceito dúbio que não percebo em toda a sua extensão. Na verdade, é apenas uma forma de me refugiar, sei bem o que o senso comum entende por mente aberta. O conceito em si representa alguém que está disposto a consumir qualquer coisa, tentar qualquer coisa, que não rejeita nada baseado nas primeiras apreensões cognitivas. Eu gostava de ter uma mente aberta, e já agora ser eclético, mas não consigo. Razões para o efeito? Provavelmente porque confirmo a esmagadora maioria dos receios que as primeiras (segundas, terceiras) impressões me causam. Confirmo, confirmo, confirmo e confirmo, depois, já não sei, não me apetece voltar a dar oportunidades. É caso para dizer que prefiro uma vida aborrecida (mas racional) por estar a tentar coisas em que acredito, do que uma vida excitante de falhanços sucessivos que ironicamente, ao tornar-se repetitiva, tornar-se-ia igualmente entediante. Há uma forte dose de arrogância na assumpção de que confirmo grande parte das minhas suspeitas, é verdade, se calhar estou redondamente enganado e o tempo irá provar-me que estive sempre num constante julgamento precipitado. Mas não irei viver para sempre, o que sinto é o que sinto num curto/médio espaço de tempo, se sou arrogante o suficiente para o agora, não sou arrogante suficiente para adivinhar o meu eu daqui a muitos anos, pois só o poderia fazer julgando-me tal como sou mas mais velho, sabendo que ninguém fica apenas mais velho, o tempo fica mais velho também, eu não consigo adivinhar o peso do tempo, como tal, vou avaliando o que me rodeia sem grandes expectativas de alterações radicais num espaço temporal razoavelmente próximo.
Dizem-me que perco muito por ser assim. Acredito, mas como a vida não tem uma régua certa tirando a dos anos, o que se ganha e perde fica na observação subjectiva de cada um. Chega de relativismos. Assim, eu sei bem o que perco, o estatuto de “cool”. Mas como nunca o tive, sabendo-se que só se sente falta do que se teve, estamos conversados. Também perco possibilidades. No entanto acredito nas possibilidades na ausência dessas possibilidades. Acho que me consigo safar.
A nossa mente consegue adaptar-se a gostar de tudo, li algures. Eu até acredito nisto, não acredito é que tenhamos tempo de vida suficiente para nos adaptarmos a tudo o que queremos gostar e até nem gostamos muito à partida.
Já sei. Da próxima vez que me disserem que preciso de ter uma mente aberta só preciso de usar a célebre frase que de alguma forma é a analogia sintetizada do conteúdo deste texto...
“Já não tenho idade para isso.”

Monday, May 28, 2007

Ressentimento

Ao escrever a palavra "ressentimento" no google (não me perguntem porque o fiz), o primeiro resultado que surge é emblemático...

"Mas esses mesmos leitores vivem acorrentados em uma prisão de ódio, ressentimento e inveja contra os americanos."

Friday, May 25, 2007

Painted veil (2007)



Waddington: She says I'm a good man.
Kitty Fane: As if a woman has ever loved a man for his virtue.
.....................................
Kitty Fane: Do you absolutely despise me?
Walter Fane: No I despise myself.
Kitty Fane: Why?
Walter Fane: For allowing myself to love you once.
.....................................
Kitty Fane: It's raining cats and dogs.
Kitty Fane: I said it's raining cats and dogs.
Walter Fane: Yes, I heard you.
Kitty Fane: You might have answered.
Walter Fane: I suppose I'm not used to speaking unless I've something to say.
Kitty Fane: If people only spoke when they had something to say, the human race would soon lose the power of speech.

Wednesday, May 23, 2007

ipse dixit

Eu até gosto de não ter nada para dizer. O que é que há para dizer realmente? Excepto que, talvez, não tenho nada para dizer. Podia ter, mas não tenho. E se tivesse? Seria algo que não seria novo, pouco relevante para a humanidade. Então fico bem assim, sem nada para dizer, mastigando o facto de que não tenho nada para dizer.

Tuesday, May 22, 2007

Sobre a felicidade

Na “Única” deste fim de semana vem uma abordagem ao estudo da felicidade.
Entre muitas outras coisas, importa reter que a nossa felicidade depende em grande parte da nossa genética (o que é que não depende?), contexto e vontade para ser feliz. Também é importante lembrar que as actividades mais criativas são melhor executadas por pessoas com maiores índices de felicidade (contrariando a ideia que a depressão é boa para artistas). Mas mais importante ainda é saber que, segundo os respectivos estudos, os chamados “right wing conservatives” são mais felizes do que os “left wing liberals”, o que naturalmente explica isto, e muito mais.

O meu fim de semana passado...

Saturday, May 19, 2007

"la la la of the world unite and take over"

Acusam-me de não respeitar a faceta revolucionária. Vão mais longe, dizem que não tenho um pingo de espírito revolucionário em mim (se o espíritos fossem líquidos).
Devo defender-me, não é verdade de todo. O espírito igualitário vive em mim efusivamente. Para o provar, faço aqui a minha reivindicação mais recente. Exijo igualdade entre frutas e mulheres. Qualquer um faz analogias prosaicas entre as mulheres e a fruta, trocadilhos de última classe. Mas o caso não é para brincar, há uma discriminação nítida entre mulheres e fruta. Agora que chega o calor, umas aparecem descascadas e outras não. Porque é que somos obrigados, em pleno século XXI, a descascar a fruta que compramos quando tudo o resto já vem sem “casca”? A meu ver não é justo. E penso não estar sozinho nesta causa (nem preciso de dizer que tive um sonho). É caso para adaptar a célebre frase de Morrissey no sentido de reunir os partidários desta causa nobre...
“Descascadores deste mundo, unam-se e dominem”

Friday, May 18, 2007

Dias

Há dias em que deveríamos ficar calados.
Dias que custam muito mais do que outros.
Dias em que fracassamos em tudo.
Dias em que não nos contentamos com o assim-assim.
Dias em que o sublime está presente pela sua ausência.
Dias em que somos esmagados pela insuficiência do ser.
Dias onde a imperfeição é mais imperfeita.
Dias onde amamos menos mas sentimos mais.
Dias que são vividos para a esperança do amanhã.
Dias como o de hoje.

Thursday, May 17, 2007

"crazy cool" (2)

Afinal há vida (ou a neste caso a ausência dela) para além dos contraceptivos, leio hoje que 10% da população portuguesa tem problemas de infertilidade. Causas? Segundo consta será a idade tardia com que hoje se opta por procriar e o inevitável stress. Esperamos novos episódios.

"Crazy cool"

Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa


Pois sim Fernando, mas só até à popularização dos contraceptivos. Depois disso democratizou-se a loucura. E fala-se no pós-modernismo e noutras banalidades.

Wednesday, May 16, 2007

O berço da cultura volta a reunir-se neste evento cultural

“Eurovision is the only pop cultural event I can think of that appears to be completely uninfluenced by pop culture.”

“The country that has dominated pop music across Europe for 50 years, producing work that spans cultures, languages and generations, was represented by Scooch.”
Jim White


Depois de ler este texto apetece-me acrescentar que, tendo a Irlanda e a Inglaterra ficado nos últimos lugares, só se pode esperar que a Rússia açambarque de novo todos os países de leste para lhes retirar poder de voto, visto que os votos funcionam por solidariedade social e não pela qualidade musical. As escolhas populares portuguesas são exemplificativas, foram para a Ucrânia e para Espanha. Porque será?

Monday, May 14, 2007

O tamanho

Agora que contar conversas ouvidas na rua está na moda (e como eu adoro modas), não resisto em contar um excerto de uma conversa entre 2 estudantes ouvida numa biblioteca .

Ela – O tamanho não é importante, é um erro de julgamento em que se continua a cair.

Ele – É fácil argumentar contra a importância do tamanho. É lógico que o contexto, a natureza da relação entre 2 pessoas, a saúde física, a auto confiança, a projecção do desejo e vários outros factores são mais importantes, mas, durante um momento de êxtase sexual, experimenta dizer “enfia-me esse ####### pequeno“ e depois diz-me o que aconteceu.

Friday, May 11, 2007

Porque a arte não tem preço...

Depois de Orson Welles ter feito o maravilhoso “F for fake”, depois de Woody Allen satirizar por inúmeras vezes os consumidores presentes em galerias de arte, eis que me deparo com este vídeo feito por uma televisão espanhola. Várias crianças pintam um quadro, esse quadro é colocado numa das mais prestigiadas (segundo li) galerias de arte espanholas (ARCO), e depois de o mesmo estar lá colocado as reacções dos consumidores de arte fazem-se sentir. As minhas frases preferidas são as seguintes (parafraseando)....

“Consegue-se sentir a frustração sexual do artista.”

“Sim, 15.000 é um preço aceitável pelo quadro porque a grande arte não tem preço.”



É por frases como esta que o Oscar é tão popular nos nossos tempos.
“Oscar Wilde ... It is spectator, and not life, that art really mirrors”

Wednesday, May 09, 2007

Eras

Vivemos no mundo da informação. Se antes vivíamos na era da ignorância, agora vivemos na era da consciência da ignorância

Excessos

Nunca tive apetência para a fantasia. Dragões voadores, bruxas más (se fossem boas...) ou ogres malévolos sempre me interessaram tanto como a botânica. Não tenho tendência para utopias, tento a rir-me com o disparate do quotidiano que considero irrealista. No entanto, temo que a busca invariável por factos reais e possivelmente observáveis me poderá transformar em alguém mais alienado do que o criador da fada dos dentes (que eu não sei quem é, mas a quem peço, desde já, desculpa pela assumpção).

Actualidades

O que quer o Orpheu?

Criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço. A nossa época é aquela em que todos os países, mais materialmente do que nunca, e pela primeira vez intelectualmente, existem todos dentro de cada um...
Por isso a verdadeira arte moderna tem de ser maximamente desnacionalizada, acumular dentro de si todas as partes do mundo. Só assim será tipicamente moderna.


Excerto de uma entrevista a Fernando Pessoa.

Tuesday, May 08, 2007

Uma boa razão para não ser pessimista...

“O cinco está ligado às chagas de Cristo, às Quinas e aos cinco impérios sonhados por Nabucodonosar. Os quatro impérios já havidos foram a Grécia, roma, a Cristandade e a Europa pós-renascentista. Se o 5º império fosse material, Fernando Pessoa não teria dúvidas em apontar Inglaterra, mas como o 5º Império é o do ser, da essência, do imaterial, o poeta não tem dúvidas em apontar Portugal.”

Valham-nos o ser , o imaterial e a essência.

Sunday, May 06, 2007

Jantar

Vou a um restaurante com um ambiente descontraído, onde os empregados conversam com os clientes sobre futebol ou sobre assuntos políticos mais mediáticos. Com mais churrasco menos churrasco, a vida parece animada nestes sítios. Porque é que eu estava lá? Não sei, mas se pensar que é porque estava com fome, poupo muito tempo. Havia muito barulho, famílias inteiras em entusiasmantes tertúlias. As crianças corriam junto às mesas, as mães corriam para as apanhar, os copos com líquidos eram entornados, os rebentos ouviam um sermão dos pais, durante todo o processo havia uma naturalidade enternecedora em todo o seu comportamento, como se a vida não fosse mais do aquilo, como se o caminho estivesse traçado e apenas tivéssemos que o percorrer. É bem sabido que há muito mais por detrás das aparências, sabe-se também que as aparências por vezes são mais verdadeiras do que tudo o resto, com o desconhecimento “da Verdade”, tudo o que parece é, ou se não é, é como se fosse. Fico a olhar embevecido para as peripécias familiares, aos 28 anos, qualquer homem começa a pensar naquele caminho. Qualquer? É melhor não ser tão categórico. Ser lacónico pode trazer dissabores muito facilmente. As caras daquelas pessoas aparentavam não sofrer de qualquer angústia existencialista. Acho que os invejo. Afinal, quem é que consegue ter angústias existenciais enquanto se tenta impedir que uma criança enfie uma batata frita no ouvido?

Saturday, May 05, 2007

Afinal...

Afinal há duas razões para que nós nos esqueçamos de algo.... ou porque esse algo não era importante, ou porque era.

Eu queria queixar-me...

Mas não o vou fazer porque acho indecoroso que eu tenha transformado este blog num armazém de queixinhas prosaicas (passe a redundância).

Thursday, May 03, 2007

Sedução tonal


Ao fazer zapping nocturno encontro um concerto da Dido num canal de cabo. Tinha mais do que razões para ficar por lá, segundo me diziam as minhas pupilas. Passadas algumas músicas a senhora diz que a próxima música que ia tocar era uma música que ela tinha escrito quando era adolescente, numa fase em que estava a descobrir o sexo. Continuou a dizer que ao escrever a canção em causa (“take my hand”) esperava fazer com que conseguisse levar alguns rapazes para a sua cama. E que resultou!!!
A sério???? Estou perplexo, escrever canções resulta mesmo para esse efeito?
Só não percebo porque é que o discurso das entidades masculinas que escrevem canções durante a adolescência (que no caso deles dura no mínimo até aos 28) é precisamente o oposto. Vá-se lá perceber as capacidades de persuasão das composições adolescentes da menina...

Eu voto em passos mais pequenos...

“Vamos amarmo-nos uns aos outros” dizia Ségolène Royal no seu comício. Meus deus, como é que tal é possível se há tanta gente que nem sequer se consegue amar a si mesma?

Wednesday, May 02, 2007

Objectiva

É certo que um grande artista tem sempre uma observação objectiva da arte, normalmente liberta de envolvimento emocional, mas quando alguém se torna demasiado objectivo deixa de ser um artista e passa a ser um técnico profissionalíssimo. Digo eu...

Peeping Tom (1960)



Mark Lewis: Do you know what the most frightening thing in the world is? It's fear.

................

Mr. Peters: Got a question for you. Which magazine sells the most copies?
Mark Lewis: Those with girls on the front covers and no front covers on the girls.
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