Uma mente aberta
De vez em quando, em algum debate ou simples conversa de café, alguém me diz que tenho de ter uma mente aberta. Uma mente aberta e ser eclético, naturalmente. Eu respondo sempre que uma mente aberta é um conceito dúbio que não percebo em toda a sua extensão. Na verdade, é apenas uma forma de me refugiar, sei bem o que o senso comum entende por mente aberta. O conceito em si representa alguém que está disposto a consumir qualquer coisa, tentar qualquer coisa, que não rejeita nada baseado nas primeiras apreensões cognitivas. Eu gostava de ter uma mente aberta, e já agora ser eclético, mas não consigo. Razões para o efeito? Provavelmente porque confirmo a esmagadora maioria dos receios que as primeiras (segundas, terceiras) impressões me causam. Confirmo, confirmo, confirmo e confirmo, depois, já não sei, não me apetece voltar a dar oportunidades. É caso para dizer que prefiro uma vida aborrecida (mas racional) por estar a tentar coisas em que acredito, do que uma vida excitante de falhanços sucessivos que ironicamente, ao tornar-se repetitiva, tornar-se-ia igualmente entediante. Há uma forte dose de arrogância na assumpção de que confirmo grande parte das minhas suspeitas, é verdade, se calhar estou redondamente enganado e o tempo irá provar-me que estive sempre num constante julgamento precipitado. Mas não irei viver para sempre, o que sinto é o que sinto num curto/médio espaço de tempo, se sou arrogante o suficiente para o agora, não sou arrogante suficiente para adivinhar o meu eu daqui a muitos anos, pois só o poderia fazer julgando-me tal como sou mas mais velho, sabendo que ninguém fica apenas mais velho, o tempo fica mais velho também, eu não consigo adivinhar o peso do tempo, como tal, vou avaliando o que me rodeia sem grandes expectativas de alterações radicais num espaço temporal razoavelmente próximo.
Dizem-me que perco muito por ser assim. Acredito, mas como a vida não tem uma régua certa tirando a dos anos, o que se ganha e perde fica na observação subjectiva de cada um. Chega de relativismos. Assim, eu sei bem o que perco, o estatuto de “cool”. Mas como nunca o tive, sabendo-se que só se sente falta do que se teve, estamos conversados. Também perco possibilidades. No entanto acredito nas possibilidades na ausência dessas possibilidades. Acho que me consigo safar.
A nossa mente consegue adaptar-se a gostar de tudo, li algures. Eu até acredito nisto, não acredito é que tenhamos tempo de vida suficiente para nos adaptarmos a tudo o que queremos gostar e até nem gostamos muito à partida.
Já sei. Da próxima vez que me disserem que preciso de ter uma mente aberta só preciso de usar a célebre frase que de alguma forma é a analogia sintetizada do conteúdo deste texto...
“Já não tenho idade para isso.”
Dizem-me que perco muito por ser assim. Acredito, mas como a vida não tem uma régua certa tirando a dos anos, o que se ganha e perde fica na observação subjectiva de cada um. Chega de relativismos. Assim, eu sei bem o que perco, o estatuto de “cool”. Mas como nunca o tive, sabendo-se que só se sente falta do que se teve, estamos conversados. Também perco possibilidades. No entanto acredito nas possibilidades na ausência dessas possibilidades. Acho que me consigo safar.
A nossa mente consegue adaptar-se a gostar de tudo, li algures. Eu até acredito nisto, não acredito é que tenhamos tempo de vida suficiente para nos adaptarmos a tudo o que queremos gostar e até nem gostamos muito à partida.
Já sei. Da próxima vez que me disserem que preciso de ter uma mente aberta só preciso de usar a célebre frase que de alguma forma é a analogia sintetizada do conteúdo deste texto...
“Já não tenho idade para isso.”
1 Comments:
Como dizia Jorge Buescu, com uma mente muito aberta cai-nos o cérebro pela abertura.
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