Saturday, May 30, 2009

12º ano obrigatório. O que se segue?

O governo socialista quer tornar o 12º ano obrigatório para todos. A seu tempo, isto não ficará por aqui: um dia vai querer tornar a licenciatura obrigatória para todos, depois o mestrado, e assim consecutivamente, de maneira a formar os portugueses com uma educação artificial.

Quais os resultados desta política?

Uma diversidade de fenómenos que não caberia neste texto; porém, de momento, ficam patentes dois exemplos reveladores:

A) A política da cunha vai proliferar. O empregador, na presença de milhares de trabalhadores com as mesmas qualificações, e na iminência de ter de fazer milhares de entrevistas, irá perguntar a um amigo (ainda mais facilmente do que agora) se conhece alguém de “confiança” para o lugar procurado. Como a grande maioria terá as mesmas qualificações provenientes do ensino facilitista, o amigo conhecerá sempre alguém para o lugar. Concomitantemente, estamos na presença de mais um duro golpe na meritocracia.

B) Os melhores cérebros vão-se sentir obrigados a estudar bastantes mais anos para poderem ter qualificações superiores a todos os outros estudantes do ensino facilitista. Com isto vai-se fazer com que esses cérebros tenham inúmeras dificuldades em entrar mais cedo no mercado de trabalho. Uma sociedade que se vê privada dos seus melhores elementos no mercado de trabalho, porque os obriga a estudar ad eternum, não pode ter uma economia produtiva.

Inicialmente publicado em "O Replicador"

Sunday, May 17, 2009

A importância de nos auto-enganarmos

Se se andava a perguntar como é que o Francisco Louçã (que nem parece uma pessoa limitada), ou o Jerónimo de Sousa, ou outro qualquer político proponente de ideologias políticas absurdas, consegue manter uma postura circunspecta e convicta na hora de pregar ao mundo, pode encontrar uma pista na área da psicologia evolutiva e da sociobiologia.

Robert Trivers, biólogo evolucionista, advoga a teoria do auto-engano: através da observação de comportamentos sistemáticos de outras espécies (mas também da nossa), Trivers chegou à conclusão que o nosso cérebro evoluiu mediante as pressões selectivas específicas a que foi sujeito ao longo dos milénios, evolução essa que traduz-se numa evolução de comportamentos. De forma a conseguir manipular o próximo para seu próprio proveito, o ser humano evoluiu biologicamente (através da selecção natural) para um estágio onde a capacidade para o auto-engano é necessária. Desta forma, só através do auto-convencimento de que aquilo que estamos a pregar é correcto é que conseguimos usar a mentira para manipular o próximo, porque de outra forma nunca seremos convincentes.

É caso para dizer que quem anda cheio de dúvidas não está adaptado ao contexto.
Eu ofereço-me já para o clube dos inadaptados.

Inicialmente publicado em "O Replicador"

Monday, May 11, 2009

Darwin e os Imigrantes

No jornal “i”, Martim Avillez Figueiredo faz uma defesa ideológica dos imigrantes, alegando que os portugueses deviam chegar à conclusão que precisam de imigrantes para melhorarem a sua sociedade. Por conseguinte, justificou desta forma a sua posição:

"Na verdade, os imigrantes, com a sua cultura, os seus hábitos, obrigam todos os outros a adaptar-se à sua volta. São o antepassado comum de Darwin, que melhora todos os outros pelo método da selecção natural e assegura que a diversidade é qualidade."

No entanto, a selecção natural passa pela selecção dos que estão mais bem adaptados ao contexto. Assim sendo, se os imigrantes vêm para ocupar os postos que os nativos não querem, isto significa que os nativos, apesar de tudo, estão e vão estar, mais bem adaptados ao contexto do que os imigrantes. Não será surpresa para ninguém, os nativos irão continuar a olhar para cima no elevador social para escolherem os seus parceiros reprodutivos e os imigrantes não adaptados ao contextos irão juntar-se entre si para fortalecerem a sua condição social. Desta dicotomia, o resultado mais provável será a discriminação e a falta de coesão social. No que diz respeito à diversidade, a espécie humana é tão complexa que existe diversidade e campo de manobra para a selecção natural até mesmo nos círculos étnicos/raciais mais restritos, sendo que as características que serão seleccionadas serão sempre aquelas que melhor adaptar o sujeito ao contexto, não será por haver mais diversidade de características “não-adaptadas” que elas irão ser seleccionadas.

A principal falácia do argumento de Martim Avillez Figueiredo passa por omitir que essa “adaptação”, no caso de uma imigração descontrolada, passa necessariamente pelo conflito social e, em última instância, pela guerra civil.

Inicialmente publicado no "O Replicador"

Saturday, May 09, 2009

Educação em Portugal: A Crença na Tábua Rasa


O actual governo socialista anunciou enternecidamente que não podia haver medida mais urgente do que obrigar toda a gente a ficar na escola até ao 12º ano. “É para o bem deles” dizem. A consequência torna-se evidente: será difícil encontrar palavras para analisar, de forma crítica, esta generosidade tão característica do pensamento de esquerda.

Num país que, de forma crónica, intui que todos os seus males advêm da educação vigente ou da falta dela, é curioso perceber como a comunidade política não levantou objecções consideráveis a esta ideia. Por interesses eleitoralistas, ninguém se atreve a levantar questões politicamente incorrectas antes das eleições; porém, os políticos apenas se adaptaram ao pensamento veiculado pela sociedade civil: se algo correu mal no resultado social do homem, é porque a educação falhou.
Se tivermos mais educação vamos ter um homem melhor, certo? Considero que não. Na melhor das hipóteses, se tivermos uma educação de qualidade, temos mais probabilidades de ter um homem melhor. Concomitantemente, até isso não se revela líquido, pelo menos ao nível da moral, visto que um homem mais culto não é necessariamente mais altruísta ou compassivo (lembro apenas que o regime do III Reich estava atestado de doutoramentos nas suas elites). No entanto, tal não nos deve desviar do rumo a seguir: é imperativo que o ensino de qualidade, tal como a possibilidade de todos poderem dispor das oportunidades nesse mesmo ensino, seja o objectivo lógico a atingir.

Não podemos confundir oportunidade com obrigação, como o directório socialista parece fazer. Ninguém está obrigado a ter sucesso na vida, seja por que via for, mas todos devem ter oportunidades para tal, promovendo-se o mérito, o esforço e a criatividade. O estado começa a gerar mais prejuízo do que benefício quando tenta determinar o resultado final do homem, influindo de forma determinante na sua liberdade de escolha. A liberdade passa por ser livre para acertar e livre para falhar, para falhar melhor ou para falhar pior.

Em Portugal, na prática, a escolaridade obrigatória de 9 anos não está de todo adquirida, há ainda uma taxa de abandono escolar acima dos 36% e o nível de preparação dos que terminam o 9º ano é, em média, bastante baixo. Se 36% dos alunos não quer estar na escola até ao 9º ano, apesar de todo o facilitismo educativo, como será quando eles forem obrigados a ficar lá até ao 12º ? Tornar-se-á claro, o facilitismo terá de crescer, o número de alunos por professor irá aumentar, o número de alunos que não estão interessados em aprender irá subir em flecha. Tudo isto acontecerá para prejuízo dos professores que querem ensinar e dos alunos que querem de facto aprender. Em última instância, serão as capacidades reais da população portuguesa que ficarão prejudicadas.

Com esta indomável obsessão de não deixar cair os alunos mais fracos, vários resultados se adivinham: quando um aluno com notas de 18 ou 19 precisar de assistência escolar para poder entrar nos cursos onde por vezes não se consegue entrar por uma décima, vai encontrar um professor ocupado no campo de batalha que será, por certo, a sala de aula, esse local povoado por entidades adolescentes forçadas ao exílio escolar. O mesmo se passará com os alunos médios, os professores terão pouca disponibilidade para eles. Afinal de contas, a normalidade é indiferença.

Em Inglaterra, o problema do facilitismo têm-se vindo a agudizar: a percentagem de alunos que passam nos exames do 12º ano anda perto dos 100%. É já preciso cometer uma proeza para se conseguir chumbar num desses exames. Há alunos que mal sabem falar inglês e conseguem tirar boas notas. Como consequência, as faculdades ingleses ponderam já obrigar os candidatos a fazerem exames dentro das faculdades, pois torna-se já impossível distinguir quem são os verdadeiros bons alunos de nota “A” (a nota mais alta no sistema de avaliação inglês). Isto mostra que a tentativa de igualizar todos os alunos apenas faz com que o processo de selecção aconteça noutro ponto para que o mérito possa imperar, se a triagem não for feita no secundário, será feita na licenciatura, no mestrado, no doutoramento ou eventualmente no local de trabalho. A grande desvantagem do processo é a que impede que os elementos com qualidade se possam distinguir mais cedo, produzindo uma massa igualitária que formará uma economia paralela do talento. O ensino de massas será sempre um ensino menos dedicado, menos adaptado e mais nivelado por baixo, por forma a poder acolher toda a gente, independentemente da capacidade, gosto ou motivação de cada indivíduo. Como resultado, obteremos resultados semelhantes aos dos países de leste que possuem o legado do ensino comunista: têm uma população com boa formação superior, mas sem capacidade para gerar riqueza para o país, ou seja, são populações artificialmente formadas/educadas que precisam do “know how” do investimento externo para se desenvolverem.

Estas reformas vanguardistas são a consequência imediata do pensamento dominante que deriva da tábua rasa. Este pensamento acredita que o homem é, à nascença, uma folha em branco, e que a educação o pode moldar de forma a que ele se torne naquilo que quisermos. Em contraposição, a história encarrega-se de mostrar a ausência de veracidade deste clássico “whishful thinking”: mesmo quando colocado nas mesmas condições educativas, os homens continuam a revelar resultados diferentes porque são essencialmente produtos da sua genética que, apesar de serem influenciados por elementos culturais, têm limites já estabelecidos pela hereditariedade.

Publicado inicialmente no "O Replicador"
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