Tuesday, January 30, 2007

Meu deus!

No debate sobre o aborto (ivg) de ontem à noite na rpt1, um homem que defende o sim afirmou veementemente .... “eu confio nas mulheres!!”

Monday, January 29, 2007

Em progresso ...

Friday, January 26, 2007

10 minutos antes...

A reunião estava marcada para as 2 da tarde. O Carlos apareceu às 13:50. Não era surpresa. Ele tinha para si mesmo uma espécie de código deontológico que jamais poderia ser quebrado. Chegar 10 minutos antes da hora era imperativo em qualquer circunstância. Esse tempo era o suficiente para se preparar para qualquer eventualidade. Ao contrário de Santo Agostinho, ele sabia explicar o que era o tempo. O tempo era um gato na estrada que ao tentar fugir do carro foge para a frente, depois lembra-se de voltar para trás e é invariavelmente atropelado de forma mortal. Os 10 minutos não evitavam a morte do gato mas dava-lhe tempo para se preparar para o acontecimento fúnebre. O respeito pelo tempo alheio era importante para ele no sentido em que acreditava que o tempo é um reconhecimento global das mentes. Desrespeitar o sentido de globalidade poderia colocar em perigo a linha universal como a conhecemos. O seu maior temor seria o de que as pessoas de tanto se desencontrarem com as horas combinadas pudessem de alguma forma destruir a unidade do tempo, como que num processo de osmose entre a psique humana e a função da mente que define a linha temporal.
Os outros (confirmando que o inferno são mesmo os outros) foram chegando lentamente. Uns chegavam 5 minutos depois das duas, outros 10 minutos e alguns até mesmo 20. Ao chegarem iam pedindo desculpa e perguntando por café, sabendo que nada se faz sem café, havendo até quem ache que a dependência de café por parte do mundo ocidental é bem mais grave do que a dependência de petróleo, e de consequências bem mais sérias. Para ninguém se sentir desvitalizado, é concedida a pausa para a tal bebida ideologicamente iluminante. No fim da reunião todos acabam por sair convictos da força laboral que o epíteto “reunião” tem na sociedade, mesmo sabendo que tudo o que se fez nela podia ter sido feito em casa de forma isolada, senão tudo, pelo menos grande parte. Carlos já não suportava ouvir alguém dizer com um ar fatigado e moribundo (mas obviamente altivo) “hoje estive numa reunião de 5 horas!!”. Um dia ao ouvir alguém proferir tal frase respondeu “eu hoje estive a ver televisão a tarde toda, mas quando me reuni comigo mesmo foi como se trabalhasse 5 horas”. Não é preciso dizer que Carlos era visto como um enigma humano, o que, bem vistas as coisas, por esse ponto de vista, apenas o tornava num ser humano vulgar.
A epidemia das reuniões continuava. Carlos chegava sempre 10 minutos antes. O relógio de Cuco podia ter sido inventado por ele, se ele tivesse sido um emigrante português na Suiça. Mais uma reunião, e mais uma, e mais uma, e outra, e outra, e ele chegava sempre com a antecedência rotineira. Um dia algo aconteceu, algo tão inusitado como inesperado. Algo que podia mudar toda a sua rotina e os hábitos religiosamente cristalizados. Esse algo podia fazê-lo chegar atrasado. Quando todos os que estão a ler esta história (inclusive a minha pessoa) começam a pensar que o Carlos finalmente não chegou com 10 minutos de antecedência a um encontro e que algo de excepcional vai acontecer, todas a expectativas saem goradas porque este acabou por chegar novamente às horas a que sempre chega. Este rapaz é um hino à rotina e não a iria quebrar só para que um tipo como eu pudesse contar aqui uma história interessante. No entanto consegue passar a beleza da perfeição rotineira, a beleza de uma máquina de engrenagens ciclicamente perfeitas que por assim ser consegue ter a estrutura de vida necessária para criar feitos extraordinários.

“Remain orderly in your life so you can be free and chaotic in your work” Rachel Owen

Wednesday, January 24, 2007

Breakfast at Tiffany's (1961)






















Paul Varjak: You know what's wrong with you, Miss Whoever-you-are? You're chicken, you've got no guts. You're afraid to stick out your chin and say, "Okay, life's a fact, people do fall in love, people do belong to each other, because that's the only chance anybody's got for real happiness." You call yourself a free spirit, a "wild thing," and you're terrified somebody's gonna stick you in a cage. Well baby, you're already in that cage. You built it yourself. And it's not bounded in the west by Tulip, Texas, or in the east by Somali-land. It's wherever you go. Because no matter where you run, you just end up running into yourself.

Saturday, January 20, 2007

Artistas

Os artistas não são mais, praticamente, utopistas sociais que já foram.E eles não devem imaginar que são. A realidade caminha sempre mais depressa que os artistas e suas visões políticas.

Ingmar Bergman

The artist, like the God of the creation, remains within or behind or beyond or above his handiwork, invisible, refined out of existence, indifferent, paring his fingernails.

James Joyce

Friday, January 19, 2007

O curso

Descer a inóspita rua da vida dentro de uma mente cambaleante era um desafio cada vez mais dispensável. A vida são memórias diz o senso comum, mas ela não acreditava, achava antes que a vida são registos, mas não na memória humana, demasiado frágil para reter algo a longo prazo. Esses registos teriam de ser materiais e resistentes o suficiente para resistir à precariedade da existência humana. Assumia-se como uma materialista, não só no sentido prosaico do termo, mas essencialmente no sentido filosófico que diz que todas as nossas decisões são realmente causadas por questões biológicas que precedem a vontade, e que aquilo que chamamos de “liberdade para decidir” não é mais do que o resultado do que nos é ditado intrinsecamente por esse ditador genético. O livre arbítrio não existia como conceito de raiz, apesar da ilusão da existência do mesmo em sociedade parecer ser suficiente para atingir outro conceito, o da felicidade, felicidade esta que, de tão intrincada que era, não valia sequer a pena ser dissecada, tal actividade seria um luxo para diletantes. A sorte. Naturalmente, a sorte era tudo para ela, ou quase tudo. “Se amanhã chover, o guarda chuva até pode ser meu mas o segundo imediatamente a seguir não é” costumava dizer com a pose altiva dos que são poderosos por terem consciência que não têm poder. Vivia no país perfeito, um país com os problemas necessários para que a evolução se efective, mas também com a capacidade para não se perder em revoluções emotivas durante as tentativas de resolução dos mesmos. A arte era tudo para ela. Tal como os artistas que verdadeiramente apreciava, também ela não tinha uma opinião imóvel e derradeira sobre algo. Seguia-lhes os passos sem entrar em mimetismos directos. Era também uma provocadora. Poucas coisas fluíam tão bem como o prazer de agitar as mentes, mas principalmente o deleite de ver a cara das pessoas ao fazê-lo. “Vulgar” era a sua palavra preferida, a soberania da vulgaridade era algo de que nunca iria abdicar, poucos sabiam exactamente os direitos que a vulgaridade oferece, saber ceder o poder a outrem é uma arte, arte essa que era dominada até à mais pequena particularidade. Sendo o mais boémia possível, raramente foi vista em locais lúdicos ou de convívio social de índole histriónica (ou não). Divertia-se consigo mesma, com os pormenores, com o pó que se movia descendentemente ou com qualquer outro semelhante, mas divertia-se. Seria impensável que não o fizesse pois a disciplina do acto boémio era um acto superior a qualquer outra disciplina. Qualquer acto de disciplina onde a motivação não é o dever mas sim a celebração da vida era indubitavelmente o último desafio humano.
Entretanto morreu. Não deixou nada. Acreditava que não tinha nada de relevante para deixar, respeitava o espaço em demasia para o ocupar com materialismo irrelevante. Na sua óptica nunca foi infeliz porque sempre assumiu para si mesma que a inutilidade é uma virtude e que a utilidade era necessariamente uma obrigação.

Thursday, January 18, 2007

Desconforto

""A vida erótica das mulheres - em parte devido ao efeito paralisante das condições da civilização e em parte devido à sua convencional discrição e insinceridade - continua velada numa obscuridade impenetrável."

Sigmund Freud, Textos essenciais da psicanálise, a teoria da sexualidade, volume II, tradução de Inês Busse, Publicações Europa-América, 2000, p. 33."


Tirado do blog “bomba inteligente”

Considerando que as condições da civilização são mutáveis e estão a mudar consideravelmente desde que Freud escrevia, sobra a 2ª razão que ele apresenta, que não é deveras confortável.

Tuesday, January 16, 2007

Amizade depois de ...

Já se sabe que é muito difícil manter uma amizade com uma pessoa com quem tivemos um envolvimento amoroso.
É natural. Considerando que o casal já conhece muito bem todos os pormenores um do outro, uma amizade desse género funciona um pouco como o show de dois mágicos que fazem truques um ao outro, apesar de ambos saberem como eles se fazem. Um tira um coelho da cartola e diz “olha, um coelho”, e o outro diz “pois, grande coisa”.

Seinfeld

Monday, January 15, 2007

Comunicar

Perante a impossibilidade de comunicar o que é que se faz?
Comunica-se o facto.

Friday, January 12, 2007

Observações

2 observações pertinentes num blog que acabei de descobrir.

Aqui e ainda aqui.

Quando o gato está fora...

Nem imaginam o que eu vi.
João Justo era de esquerda, Daniel Pecador era de direita. Com nomes a preceito, o debate começava.
João alegava que deus não existia e que a política que ainda integrasse conceitos religiosos era perfeitamente absurda. Do outro lado veio a pergunta clássica “consegues provar que deus não existe?”. “É óbvio que não” respondeu o esquerdista, “mas o facto de haver tantas desigualdades entre pessoas é a prova cabal de que deus não existe, tudo é anárquico.” “Pois eu só duvido da existência de deus quando percebo que as mulheres mais bonitas são normalmente as mais desinteressantes do ponto de vista intelectual, como alguém uma vez disse” retorquiu Pecador. A partir daqui, eu já não estou a fazer nada (antes também não estava), deixo apenas o diálogo enternecedor.
JJ- Já estás a dividir as pessoas entre bonitas e feitas, inteligentes e não inteligentes, a direita adora categorias desde que possa estar na categoria superior.
DP- No dia em que for possível abolir todas as categorias e a vida não se dirigir para o niilismo, avisa por favor. Haaaa , e já agora, não sendo possível abolir as categorias, avisa também quando encontrares alguém que queira ficar em categorias inferiores de livre vontade, tirando talvez aqueles que querem estar na primeira fila do cinema argumentando que estão mais perto do objecto de acção.
JJ- Sim, já estava à espera dessa conversa da natureza humana e do seu irremediável trajecto ...
DP- Eu sei que é fácil para a esquerda desacreditar a existência de deus, afinal de contas é difícil acreditar que Deus existe quando todo o igualitarismo, assim como o vosso conceito de natureza humana e a sua cristalização no real não se verifica. Já a direita, como acredita que a competição gera qualidade e ultrapassa obstáculos, acaba por achar que se há uma concretização efectiva da natureza humana, há lógica, como tal, Deus pode existir. Tornou-nos competitivos e por outro lado deu-nos uma consciência, apesar de esta ser de difícil compreensão . Deus é capitalista, não sabias? O meu único medo é de que o omnipresente se encolerize quando o Bill Gates conseguir ter uma conta bancária cujo valor ultrapasse a dele.
JJ- Nunca ouvi tanto disparate num curto espaço de tempo.
DP- Está visto que nunca leste Rousseau.
JJ- Nem o Edmund Burke.
DP- Eu sei, eu sei, estou a ver.
JJ- Essa procura de excelência é uma falta de respeito pela natureza humana, já que gostam tanto da expressão. Levar Darwin à letra é a maior falta de humanismo de que me posso lembrar. É a liquidação gratuita dos mais fracos. Repara como eu já não digo “oprimidos”. A esquerda moderna até já faz piadas enquanto defende causas nobres e justas.
DP- A esquerda já diz piadas desde que nasceu.
JJ- Ao menos nasceu.

Entretanto chegam as directrizes da União europeia e ambos vão para casa para tentarem colocá-las em prática.

Thursday, January 11, 2007

Tread softly

"I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams."

W. B. Yeats
Poema ""He Wishes for the Cloths of Heaven"

Monday, January 08, 2007

A causa

Sentindo-se anormalmente desviante, ele procurava razões que explicassem a inércia motora e falta de coordenação cognitiva presente. “O mundo conspira contra mim” pensava há mais de 2 horas (com um intervalo de 15 minutos para comer uma pizza). Acreditava estar na presença do princípio do fim, só não sabia qual era o fim e, já agora, o que realmente o estiolava era ser o princípio, fosse já um período intermédio e o drama do começo não existiria. Pensou que podia ser pintor, afinal de contas sempre podia refugiar-se no abstraccionismo para compensar a falta de tempo para apurar a técnica, mas depois, com leviana relutância, admitiu que se calhar a raça humana, se calhar, se calhar (esperando não sofrer represálias por tal frase), não era assim tão ingénua. Ser escritor de canções pareceu-lhe uma via exequível. Não sabia mais do que 3 ou 4 acordes, mas pensou que se o Kurt Cobain escrevia pérolas Pop de excelência artística, ele também conseguiria, afinal de contas, a Pop é simples. Quando tentou, achou que as suas músicas de 3 acordes estavam mais próximas do Quim Barreiros do que do cantor alourado de pendor niilista. Desistiu.
Mais tarde, ao explicar a situação à sua irmã, ouviu a mesma dizer que se ele está permanentemente a colocar em causa as suas capacidade seria natural que a determinada altura não se sentisse motivado, ao que ele respondeu “ mas eu não as coloco em causa, a causa é que se coloca em mim”. A irmã desistiu.
“E se fosse actor?” disse em voz alta com um sorriso que pictoricamente se assemelhava ao de mona lisa nos dias em que as interpretações indicavam que ela era um homem. Ser actor era natural para ele, no sentido em que nunca se tinha realmente mostrado como era a ninguém, sempre representou, não por vontade própria mas porque era honesto (e sagaz) o suficiente para reconhecer que não sabia onde residia o seu verdadeiro ser, se bem que, por esse ponto de vista também não saberia qual era o falso. Ficou inerte, achou que estava a complicar. Pensou que pelo menos teria fama. Fez sentido para ele durante 5 minutos, mas depois a ideia de passar o resto dos seus dias a dar voz e corpo a palavras de pessoas que a história um dia poderia vir a provar que eram uns patetas fê-lo abdicar da representação como possibilidade. Ser actor não servia.
Visto que estava sem forças para se mover pensou que poderia virar budista e meditar no mesmo sítio durante horas intermináveis sem sentir qualquer sinal de hiperactividade. Seria interessante, mas (deixa-me pensar)... Não.
O pensamento lógico do dia levou-o para o médico. Um médio dir-lhe-ia o porquê da existência do seus sintomas, se bem que, se 70% dos diagnósticos são feitos pelos próprios pacientes quando vão a uma instituição médica, ele tinha razões para estar descrente, visto que não sabia o que tinha. Ele era o “underdog” dos pacientes.
Depois de alguns testes médicos singelos e ao reparar que o seu paciente tinha umas olheiras proeminentes o médico pergunta-lhe há quanto tempo não dorme. Com um ar surpreendido digno de quem acabou de ver Sartre a apoiar o mercado económico liberal, ele finalmente encontra sentido para tudo o que sentia. Não tinha dormido na noite anterior. No entanto não se sentia patético, apenas biológico, mesmo não sabendo bem o que isso significava. Desde logo o médico proferiu a mítica frase muito em voga na modernidade quando os empiristas queriam visar os racionalistas...“vai dormir que o teu mal é sono”.
No dia seguinte, depois de dormir, tudo voltou à normalidade. Ele nem era um rapaz particularmente complicado.

Saturday, January 06, 2007

Multiplicidade do eu














The Prestige

*Spoiler

Algures durante o filme é-nos revelado que um personagem que pensávamos ser singular se baseava em 2 pessoas diferentes a viver a mesma vida, com a mesma identidade. Durante todo o filme o tal personagem tem as contradições comportamentais que advêm desse contexto. O que torna o facto curioso é que essas contradições não eram menos verosímeis se o personagem fosse afinal só uma.
Mais uma vitória para a “multiplicidade do eu”.

Tuesday, January 02, 2007

Pygmalion (1938)



Bernard Shaw's play

Pygmalion (mythology), the name of a mythological sculptor who created an ivory statue, Galatea, and proceeds to fall in love with it.
eXTReMe Tracker