O estereótipo da diferença
Sempre que estou fora de Portugal deparo-me frequentemente com a estranheza dos nativos perante o facto de ser português. As razões podem ser várias, mas a que é mais apontada é a minha aparência física. Por ser esqualidamente pálido e ter olhos verdes recebo comentários como: “És português? Pensava que os portugueses, por serem latinos, tinham uma pele bastante escura.” Passo normalmente a explicar que os portugueses são uma mistura de tribos e de povos Hindu-Europeus que ocuparam o território e passaram a viver em comunidade até aos nossos dias, desde os romanos, a passar pelos Celtas, até aos germânicos, entre outros. Como tal, há pessoas com características físicas marcadamente distintas. No entanto, o estereótipo formado no resto do mundo ocidental é o de que os portugueses são latinos de pele escura, indistinguíveis do brasileiro médio. Se arrisco dizer que é certo que há portugueses com tais características, também arrisco dizer que o português médio não corresponde a esse estereótipo.
Olhando com mais atenção é possível perceber que o fenómeno não é exclusivamente português, mas sim europeu, ou provavelmente mundial. Parece-me que estamos claramente perante um caso de formação do estereótipo, não através da norma, mas através da diferença.
Tomemos em consideração alguns exemplos tirados dos compêndios do senso comum. É de esperar que um alemão tenha o perfil ariano, consequentemente loiro. Curiosamente apenas uma minoria dos alemães é loira. É de esperar que os suecos sejam loiros, mas a maioria dos nativos do país do Ingmar Bergman não é loira. E a Irlanda, toda a gente sabe que o típico irlandês tem cabelo ruivo, tão característico daquela ilha. Sim, é verdade, a maioria dos irlandeses não é ruiva.
Estamos então perante um paradoxo interessante. O que define o estereótipo não é a norma do país, mas sim o que o distingue de alguma forma dos outros países, mesmo que tal não seja representativo da nação. Tal seria suficiente para matar o conceito de estereótipo, mas não é. Porquê? Depois de passar por explicações nacionalistas e de demarcação étnica, termino na opção cuja filosofia mais me convence. A do típico pensamento cristão que exacerba o individualismo e a diferença dentro da igualdade. Ou se calhar devo dizer pensamento humano, se pensar no amor entre sunitas e xiitas, ou noutros casos de relações amorosas “especiais” de diferentes entre iguais.
Talvez a verdade seja bem mais prosaica. Gostamos de categorias. Podemos ter revoluções pós-modernas todos os dias que ninguém nos arranca a necessidade de colocar rótulos em tudo. Sentimos que a vida já é caótica por si só, sem rótulos seria insuportável, ou pior ainda, intangível. Como tal, se para categorizar-mos as pessoas dos diferentes países for preciso pegar numa minoria e elegê-la erroneamente a representante do todo, de forma a que consigamos ser todos diferentes uns dos outros, então fá-lo-emos sem pensar demasiado no assunto. Ninguém quer ir ao supermercado e sentir que os produtos são todos iguais ou que estão mal arrumados nas prateleiras.
Quanto a mim, já desisti de explicar esta história a estrangeiros (e alguns portugueses).
Da próxima vez que sair do país e me disserem que não sou o “típico português latino de pele escura “, direi apenas que eu sou mais escuro do que pareço, e que eles estão com problema de daltonismo.
Porque é mais fácil convencer alguém de é algo que não é do que não ser algo que devíamos ser.
Olhando com mais atenção é possível perceber que o fenómeno não é exclusivamente português, mas sim europeu, ou provavelmente mundial. Parece-me que estamos claramente perante um caso de formação do estereótipo, não através da norma, mas através da diferença.
Tomemos em consideração alguns exemplos tirados dos compêndios do senso comum. É de esperar que um alemão tenha o perfil ariano, consequentemente loiro. Curiosamente apenas uma minoria dos alemães é loira. É de esperar que os suecos sejam loiros, mas a maioria dos nativos do país do Ingmar Bergman não é loira. E a Irlanda, toda a gente sabe que o típico irlandês tem cabelo ruivo, tão característico daquela ilha. Sim, é verdade, a maioria dos irlandeses não é ruiva.
Estamos então perante um paradoxo interessante. O que define o estereótipo não é a norma do país, mas sim o que o distingue de alguma forma dos outros países, mesmo que tal não seja representativo da nação. Tal seria suficiente para matar o conceito de estereótipo, mas não é. Porquê? Depois de passar por explicações nacionalistas e de demarcação étnica, termino na opção cuja filosofia mais me convence. A do típico pensamento cristão que exacerba o individualismo e a diferença dentro da igualdade. Ou se calhar devo dizer pensamento humano, se pensar no amor entre sunitas e xiitas, ou noutros casos de relações amorosas “especiais” de diferentes entre iguais.
Talvez a verdade seja bem mais prosaica. Gostamos de categorias. Podemos ter revoluções pós-modernas todos os dias que ninguém nos arranca a necessidade de colocar rótulos em tudo. Sentimos que a vida já é caótica por si só, sem rótulos seria insuportável, ou pior ainda, intangível. Como tal, se para categorizar-mos as pessoas dos diferentes países for preciso pegar numa minoria e elegê-la erroneamente a representante do todo, de forma a que consigamos ser todos diferentes uns dos outros, então fá-lo-emos sem pensar demasiado no assunto. Ninguém quer ir ao supermercado e sentir que os produtos são todos iguais ou que estão mal arrumados nas prateleiras.
Quanto a mim, já desisti de explicar esta história a estrangeiros (e alguns portugueses).
Da próxima vez que sair do país e me disserem que não sou o “típico português latino de pele escura “, direi apenas que eu sou mais escuro do que pareço, e que eles estão com problema de daltonismo.
Porque é mais fácil convencer alguém de é algo que não é do que não ser algo que devíamos ser.
2 Comments:
Para os estrangeiros, os portugueses são brasileiros, é tudo a mesma coisa... É um paradoxo interessante, o que contrastas aqui.
Preferimos as excepções... elas podem não ser características, mas caracterizam. Chamam a atenção, sobressaem. Mas não vale a pena tentares explicar isso aos estrageiros, porque eles vão continuar a achar que brasileiros e portugueses são todos iguais :D
Os estereótipos prevalecem sempre, dum modo geral, no Inconsciente colectivo dos povos estrangeiros. Por isso, não me admiram nada as situações que descreves... :)
Post a Comment
<< Home