2 dias em Paris
Ao sair do cinema fiquei com a sensação que assisti mais a um filme de índole cultura/política e menos a um filme sobre uma relação conjugal, apesar de todo o filme andar à volta de um casal e da sua interacção.
Julie Delpi escreveu, realizou e até cantou uma música para este filme. Um estreia como realizadora, não tanto nas outras 2 actividades.
A realizadora, sendo francesa, resolve neste filme bater na cultura que se vive em França, transformando este filme num enxovalhar da sociedade Parisiense, com especial incidência para a classe média. Fá-lo através de clichés. Há para todos os gostos, os artistas que são todos grandes génios parisienses mas que no fim vivem apenas uma vida de ócio e de busca do próximo engate, os franceses que gostam da conversa (socialista) da partilha e do conceito de que “o que me é meu é teu” mas com objectivos muito identificáveis e individuais, o racismo patente e latente em cada passo que se dava em Paris, a promiscuidade sexual digna de um país que nunca saiu dos “sixties” e até activistas anti-fast food (anti globalização) surgem com atentados “terroristas”. A lista é infindável. Este deverá ser o filme de produção europeia mais pró-americano que eu vi até hoje (se calhar mais logo lembro-me de outro qualquer), o que não deverá ser alheio o facto da realizadora conhecer bem a realidade americana e francesa, visto que trabalha (e estudou) constantemente em películas do outro lado do atlântico.
O filme é mordaz e tem humor suficiente para nos deixar muito bem dispostos. Fica porém a ideia de que tantos clichés juntos (apesar de baseados em factos culturais inegáveis) criam um ambiente pouco verosímil, principalmente quanto tudo tem de acontecer em apenas 2 dias em Paris. No entanto o ritmo do filme é acelerado (american style) com piadas a cada minuto, o que ajuda a que perdoemos algumas inverosimilhanças, rir é o melhor remédio, já diz o povo.
Claro que não se podia esperar da realizadora europeia uma visão americanófila e pró partido conservador (quais seriam as probabilidades de tal acontecer), não faltam no filme críticas ao senhor Bush, feitas principalmente pelo Americano de serviço no filme, que está lá para sofrer todas as “atrocidades” da cultura francesa e reagir às mesmas com sarcasmo, angústia e cinismo (as personagens de Woody Allen pairaram no ar).
Apesar de ter alguns ponto mais fracos que são passíveis de crítica, é um filme que vale a pena ver (excepto para anti americanos convictos, naturalmente) e que oferece bons momentos de humor.
PS: A minha cena preferida acontece quando um francês satiriza a religião (coisa bizarra por ali) do americano e em seguida tenta convencê-lo a deixá-lo passar umas noites em casa dele, dizendo que por ali se partilha tudo sem problemas. O americano (que é representado por Adam Goldberg) desconfiado da intenção do francês, responde “o que é meu é meu, o que é teu é teu, não há misturas” e concluiu da seguinte forma “eu sou americano, a propriedade privada é a minha religião”.
4 Comments:
Concordo plenamente. Creio, contudo, que o choque seria ainda maior caso ela fosse portuguesa, pois há coisas que os franceses acham que n´so somos repugnantes...
Mas tirando o final do filme, onde se cai na piada fácil, considero que os 5€ não foram mal empregues.
Desculpa Magnus .. não percebi bem o comentário nesta parte
“choque seria ainda maior caso ela fosse portuguesa, pois há coisas que os franceses acham que n´so somos repugnantes...” .. se leres isto por favor explica :)
À parte o erro tipográfico, o comentário reporta-se ao facto de os franceses acharem que os portugeses comem coisas nojentas como cabeça de xara, orelha e pés de porco, caracóis (e não escargots) e uma série de ervas (catacuzes, poejos, beldroegas) especialmente no Alentejo. Claro que não quero excluir as tripas à moda do Porto que os repugna profundamente.
este comentario é para o magnus petrus; não sei como há franceses que como dizes acham que comemos coisas esquisitas como cabeça de xara. Não são franceses com certeza pq em relação a isso uma das iguarias para os franceses é a chamada “Tête-d’Achar”. que nao é mais do k a nossa cabeça de xara e só se vende nas melhores charcuterias de Paris. Abraço
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