Thursday, September 13, 2007

A modernidade? É agora ou nunca.

Apesar das minhas dúvidas em períodos de algum pesar existencial, este blog existe. Os “MSNs”, “Second Lives” “Myspaces” e Hi5s existem, toda uma panóplia de instrumentos tecnológicos está à nossa disposição para estarmos todos em contacto permanente. O mundo é nosso e nós somos os Napoleões contemporâneos. Entro então em estado de choque quando leio que a solidão (e a consequente depressão) é o flagelo do novo século. Não pode ser, logo agora que era possível engatar miúdas do mundo inteiro!

Gilles Lipovetsky considera que entrámos na hipermodernidade , onde o homem hipermoderno é hiperconsumista, individualista, virado para o hedonismo, onde os valores são relativizados e o vazio toma conta das entidades humanas, onde todos são cínicos e “espertos” sem terem a mínima noção do que estão a fazer ou da razão porque o fazem. Pois é Gilles, sendo assim já não vamos tomar café, tu pareces-me algo deprimido.

A modernidade nunca realmente existe, quando olhamos para ela, ela já não existe com tal epíteto. Terei sorte se conseguir que este texto não se torne desactualizado em 1 hora, ou melhor (e mais provável), antes de eu o acabar de escrever.
Alguém matou Deus, não sei quem foi e não vou acusar nem os esquerdistas nem os iluministas(não preciso, e tenho de terminar o texto hoje). O papa Bento XVI anunciou há poucos dias que os europeus se tornaram egoístas. Como é que ele pode proferir tais palavras em relação a um povo que constantemente fala como se fosse a voz da consciência moral do mundo? Provavelmente porque o Vaticano já fabrica e comercializa Ipods e isso deu-lhe uma ideia mais clara da situação.

Se deus morreu por este continente, sobra-nos o célebre “Carpe diem” de “Horácio superstar”. Como já não se acredita que estamos cá numa missão divina que continuará posteriormente à vida terrena, sobra-nos o agora, o prazer imediato, o mais que conseguirmos, mais, mais, porque nunca como agora faz sentido dizer que a vida é curta e que só se vive uma vez, temos de consumir, “it’s now or never”.
Queremos consumir todos os bens materiais, as pessoas também podem ser bens materiais, e também queremos consumi-las se pudermos. Roger Scruton critica severamente algumas visões mais objectiváveis do sexo, onde as pessoas já nem sequer são o objecto de desejo, mas sim um meio para atingir um fim que será o prazer genital. A Pamela Anderson não se importa nada com o facto de ser um objecto de desejo, mas, e de ser apenas um meio para atingir o prazer dos genitais? “Bem, desde que paguem”, será provavelmente a resposta sincera.

Há oferta. Muitas opções podem matar um homem, mas não estamos aqui para dramatismos porque a vida é curta. Queremos coisas proveitosas e se possível divertidas. Na Internet é possível dizer olá a 10 ou 15 pessoas (ou mais) ao mesmo tempo, sendo difícil manter um conversa com um conteúdo substancial com alguma delas, mas o que importa isso quando ainda temos mais opções? Venham mais 15 que eu só pago uma conta de Internet (trocadilho falhado com a música do Zeca Afonso).
Não se consegue realmente conhecer ninguém porque ninguém está interessado em conhecer pessoas, mas sim em usá-las como meios interactivos de entretenimento.

Lá fora? Na rua? Se o elementos caracterizadores desta era são o cinismo, o individualismo e a distância, não tentem meter conversa com o senhor que almoça na mesa ao lado, podem estar com isso a desencadear uma calamidade cósmica de inquantificáveis proporções. Mesmo assim há relações a acontecerem, quebram-se mais facilmente porque há opções, ninguém depende de ninguém e ambos sabem que não vale a pena passar por chatices quando estão 15 pessoas novas por dia, à espera, à distância de um clique, todas elas também desgostosas e à procura do novo “passo” em direcção à felicidade. Resta a amizade, “friends will be friends” dizia Freddie Mercury, no entanto penso que no outro dia ouvi a mesma canção com a letra “friends are now MSN contacts” , mas como a métrica não servia a canção, é provável que tenha sonhado.

O individualismo não teria necessariamente de significar o isolamento psicológico (e físico), se está a significar, é porque ainda tudo é demasiado novo. Eu sinto-me velho num tempo novo que, como todos os tempos, vai vencer muitos e tornar muitos outros mais fortes. E um dia talvez possamos não ter de dizer “Julgo sempre um livro pela sua capa porque não irei ter disponibilidade mental para o ler.”

1 Comments:

Blogger magnuspetrus said...

Parabéns pelo excelente artigo!!

9/13/2007 9:38 AM  

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