Friday, July 24, 2009

Socialismo Sexual: Uma Teoria da Justiça

Senti o desânimo dos meus pares socialistas quando o muro caiu em 1989. Sinto todos os dias a angústia que eles sofrem na sua luta incessante contra as vicissitudes egotistas da natureza humana. Sinto que os seus argumentos de natureza moral esbarram contra a habilidade que os humanos têm para fugir à coerção que provém das boas intenções da esquerda na promoção do bem comum. Como tal, sinto que devo reformular os preceitos de justiça da esquerda no sentido de lhes dar mais acuidade e pertinência.

Esta é então a minha teoria da justiça que, acredito, irá apresentar-se como uma alternativa válida a todas as outras no âmbito do socialismo/liberalismo social:

A minha teoria, para atingir uma sociedade justa, baseia-se nas duas grandes premissas do liberalismo: a liberdade e a igualdade. Para não existirem confusões, seguindo a distinção de Isaiah Berlin, vou apresentar a liberdade como liberdade positiva: que é entendida como a capacidade do indivíduo para fazer seja o que for, por oposição à liberdade negativa, que é a liberdade do indivíduo para agir sem a interferência de outros.

Para existir liberdade positiva, o Estado tem de intervir directamente na vida da sociedade, providenciando bens e serviços a todos os que têm menos capacidades inatas ou sociais, para que estes possam fazer tudo o que os outros fazem sem qualquer distinção. Obviamente que em última instância só se gera capacidade inata através da engenharia genética, mas isso são pormenores. Assim sendo, o estado tem o fim de promover a igualdade de acesso à satisfação máxima a todos os cidadãos, assim como a promoção da distribuição de capacidades para fazer seja o que for (eu posso comprar um Mercedes, eu posso ser um génio da ciência). Ou seja, sendo exequível ou não, partimos da premissa que o estado tem de arranjar forma de tornar os seres humanos iguais em todas as suas capacidades, visto que ninguém tem culpa de ter mais ou menos talentos naturais, nem de ter um maior ou menor estatuto social à nascença.

Para visar a igualdade, a esquerda centra-se essencialmente na redistribuição monetária através de uma entidade central (o estado). Por outras palavras, através de um rigoroso sistema fiscal, cobra impostos aos que mais ganham para dar os que menos ganham.
É aqui que a esquerda está constantemente a falhar e será precisamente este ponto que tentarei alterar.

Porque querem os homens dinheiro, poder e status social (assumindo que geralmente o primeiro leva os outros dois)? Porque com os recursos a que o dinheiro lhes dá acesso, eles conseguem chegar mais facilmente às mulheres, cumprindo assim a ideia darwinista da maximização da prossecução dos genes. Contudo, eles não querem apenas mulheres, querem atrair as melhores fêmeas, ou seja, a sub-categoria feminina que, em vernáculo, se costuma denominar de “gajas boas”. Estes membros do género feminino são desejados, em grande parte, pela sua simetria (o que em psicologia evolutiva é indicador de bons genes) e pelos seus sinais evidentes de fertilidade. Infelizmente, como muitos dos recursos mais desejados, este recurso é escasso e mal distribuído.

As mulheres mostram preferência por homens com alto valor social. Uma breve observação empírica revela que os homens ricos com status social conseguem um quase exclusivo monopólio das “gajas boas”, fazendo com que os outros homens não tenham a mínima oportunidade de se reproduzirem com elas. Concomitantemente, estamos na presença da máxima injustiça no que diz respeito à maximização da felicidade. Onde está o estado que devia corrigir esta tremenda injustiça que vota alguns homens a uma vida de inveja e ausência de proveito social e genético?

Apresento assim uma teoria da justiça que pretende devolver a igualdade e justiça social à humanidade. O estado tem assim de se organizar em volta dos seguintes 3 princípios de justiça: 1- Qualquer homem com excesso de gajas boas deve ser taxado até ter apenas acesso às gajas boas na mesma medida que todos os outros homens. 2- O imposto a ser aplicado pelo estado deve promover a rotatividade de gajas boas caso não exista uma gaja boa para cada homem (exe: a mesma gaja boa passava apenas um ano com cada homem em vez de um longo período de tempo) 3- Só será permitido a um homem ter mais do que a sua quota pré estabelecida de gajas boas se tal contribuir para que os mais desfavorecidos possam ter acesso a gajas boas (exe: em caso de calamidade e de ausência de produção de gajas boas num determinado momento da sociedade).

Satisfeitos estes princípios de justiça, estou a crer, chegaremos ao fim de história e a própria política tornar-se-á pueril, dado que a razão já se conseguirá impor sobre as famigeradas emoções que provêm da competição genética e social. Neste mundo neo-neo-socialista que proponho, onde acaba a exploração do homem pelo homem, poucas ou nenhumas críticas poderão ser feitas a esta teoria da justiça, a não ser, talvez, que é ligeiramente machista...

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Thursday, July 09, 2009

O Bom Senso Contemporâneo

“O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: porque toda a gente pensa que está tão fornecida dele que, mesmo aqueles mais difíceis de contentar em tudo o resto, normalmente não desejam mais do que aquele que possuem.” René Descartes

Através do método empírico que o quotidiano me proporciona, verifico que esta máxima de Descartes está presente no debate ideológico contemporâneo em toda a sua extensão. Não me parece que alguém esteja de facto interessado no argumento factual, torna-se muito claro que, no esgrimir de argumentos, a moral suplanta constantemente qualquer observação minimamente empírica. Penso ser seguro dizer que, no mundo das opiniões, o positivismo é positivamente descartado. Restam então os sentimentos, as emoções, o auto-interesse e a simpatia de David Hume como motores da opinião. No entanto, claro está, para David Hume todos os sentimentos advêm do auto-interesse; porém, tal é pouco relevante para a ideia central deste texto.

Como a moral se impõe nos debates, o argumento do bom senso torna-se prioritário para se fazer valer um ponto de vista. A legitimidade argumentativa passa inúmeras vezes pela noção de que toda a nossa fundamentação argumentativa está sustentada por um bom senso que o “Eu” claramente possui, mas que o “outro” obviamente não possui. Daí o “outro” ser, consciente ou inconscientemente, apelidado de simplista ou, não raras vezes, de radical. Chamar simplista a alguém é, por certo, uma tautologia, pois qualquer representação argumentativa da realidade está condenada a falhar por comparação à mesma. Por outro lado, chamar radical ao outro já advém na projecção de entidade moderada e provida de bom senso que pensamos ser o nosso “Eu”. “O inferno são outros” dizia Sartre. Naturalmente, eu se tivesse simpatia pelas ideias comunistas, como era o caso dele, também acharia que a realidade global (os outros) era de facto um inferno, pois esta não se adapta, até ver, a tais ideais sociais.

O senso comum é de difícil definição. É possivelmente um sentimento que acreditamos possuir para reger a nossa vida, para estruturar a nossa mundividência. Contudo, tal como defenderam os metódicos epistemológicos (Descarte, David Hume), este precisa de começar com uma teoria da cognição ou justificação e depois submetê-la à prova para se aferir quais são as pré-teorias que sobrevivem; caminhando por tentativa e erro, acrescento eu.

“Eu sou moderado e tu não” parece ser o trunfo argumentativo usado em todo o debate ideológico contemporâneo. E agora? Como argumentar fora da caixa que advoga que é no meio que está a virtude? Todos estão no meio, mas cada “meio” difere de pessoa para pessoa. Suspiro: estamos de novo no campo do auto-engano.

Inicialmente publicado em "O Replicador".

Friday, June 19, 2009

A estrada da servidão

Em animados debates universitários, ouço constantemente dizer que os liberais têm fobias ridículas de serem controlados pelo estado como se fossem autómatos. “ O estado não controla o indivíduo como se este fosse uma marioneta. “ dizem-me da esquerda.

Tenho de concordar. De facto, não é possível controlar alguém por efeitos mágicos nem sequer por cordéis imaginários; porém, é possível fazer algo diferente:

Imaginemos uma estrada com pessoas. Estas vão percorrer a estrada em busca dos seus objectivos de vida. Felizmente, como qualquer estrada, esta não era de via única, tinha várias saídas que levavam a outros destinos. Porém, uma entidade superior (o estado) proíbe que as pessoas possam enveredar por essas mesmas saídas porque acha que o melhor caminho para as pessoas é a via principal. Essa saídas são então vedadas. Perante esta proibição, sabendo que não querem andar para trás, terão de andar para a frente, pela via principal que, apesar de não se saber onde vai dar, é o único caminho permitido. Começam a longa e unidireccional caminhada, caminham morosamente até que, saturados da falta de opções e do caminho para a escravidão, começam a tentar sair da estrada, improvisando saídas e destruindo os rails de separação. Num ápice, estão já na relva que rodeia a estrada. Gera-se o caos, as forças da entidade superior (o estado) entram em acção para fazer com que os dissidentes voltem para a estrada onde estavam. As forças da entidade superior (o estado) estão mais bem armadas e conseguem fazer com que os dissidentes voltem para a estrada principal; contudo, alguns conseguiram fugir, correndo pela relva em direcção ao vazio na esperança de encontrar outra estrada controlada por outra entidade superior (outro estado). Para os que não conseguiram fugir, a caminhada continua.

Não existem cordéis imaginários, não existem controlos remotos, não existem formas de manipular o ser humano em absoluto, mas como via exequível, existem meios muito eficazes de cortar a possibilidades de escolha.

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Wednesday, June 10, 2009

França: Educação Facilitista e o Mimetismo Português

Há umas semanas, critiquei a decisão do governo socialista de tornar o 12º ano obrigatório. Como consequência, recebi inúmeras respostas antagónicas de alguém que acha que tal medida, apesar da assunção da sua artificialidade, é benéfica para a sociedade, apresentando a França como o paradigma de um país extremamente produtivo apesar de ter uma educação artificial.

Constitucionalmente falando, a França é um país socialista. Portugal também. Não só a constituição portuguesa de 1976 foi baseada na constituição francesa, como a estruturação política é semelhante. O nosso amor pela autoridade e pelo centralismo estatal assim quis que se escolhesse o modelo francês em vez de um modelo mais liberal britânico. Consequentemente, somos uma sucursal francesa com pouca ambição geoestratégica, ao contrário de França.

A França adoptou já o 12º ano obrigatório, como seria de esperar. O delator dos meus argumentos advoga que a França é, com a ajuda de tão eficaz medida, um dos países mais produtivos dos mundo, onde os trabalhadores mais produzem por hora de trabalho. Aceitando a premissa como verdadeira, posso desde já dizer que tal resultado não se deve à educação, mas sim à engenharia governamental: com a instituição de salários mínimos e da rigidez laboral, as empresas francesas fazem com que as empresas fiquem apenas com os elementos produtivos, não contratando facilmente e assim deixando os elementos menos produtivos no desemprego.

Como tal, não é de surpreender que Paul Krugman, economista keynesiano, venha apresentar dados da OCDE que mostram que a produção por hora de cada trabalhador em França é ligeiramente maior do que nos EUA. Torna-se lógico, quando só se empregam os elementos mais produtivo, é natural que a média de produção por trabalhador seja maior. Porém, tal gera mais desemprego: em França, tal como na Europa em geral, não só há mais desemprego do que nos EUA desde dos anos 80 (reformas liberais Reagan), como o tipo de desemprego é de longo prazo, ao contrário dos EUA que apresenta, essencialmente, desemprego de curto prazo. Isto leva a que o crescimento do PIB potencial seja diminuto pois, segundo a lei de Okun, uma economia com desemprego elevado está a desperdiçar recursos, desviando-se assim da sua optimização. Adicionalmente, como resultado, teremos os custos de segurança social que o desemprego de longo prazo gera, suportados inevitavelmente por todos os que trabalham, diminuindo o poder de compra da sociedade por comparação com o poder de compra passível de ser atingido.

Mas é então a sociedade Francesa competitiva quando consideramos o resultado final observado?

A resposta é um claro não. Segundo o
World Competitiveness scoreboard de 2009 a França surge em 28º lugar no ranking dos países mais competitivos considerados, atrás de países como a Malásia ou o Quatar. Com todo o potencial que a França apresenta, esta não consegue ser competitiva como um todo, ficando inclusive muito atrás da sua vizinha Alemanha (13º lugar).
Mas será que há, pelo menos, liberdade económica em França, como seria de esperar de um país ocidental que é produto de uma democracia liberal?
Mais uma vez a resposta é não. Desta vez com um resultado ainda pior que Portugal: segundo o
Index de Liberdade Económicade 2009, a França é apenas o 64º país economicamente mais livre do mundo. O incentivo ao empreendedorismo e à inovação tem um carácter diminuto na pátria de Sartre.

Dizem-me então que não há problema porque a França oferece “qualidade de vida”: o sistema de saúde é um dos melhores, os serviços públicos também, etc...
Será discutível afirmar estes factos dessa forma categórica. De qualquer forma, essa é a parte alegórica da questão, mas esconde a factura que tem de ser pagar. Não devia ser surpresa para ninguém, mas essa equidade não é de facto equitativa (passe o pleonasmo): os impostos são dos mais altos da EU; a burocracia francesa é kafkiana; a liberdade de escolha do indivíduo é diminuta quando opta por seguir um rumo não burocrático; paga impostos para benefícios de outrem sem nunca saber a quem o dinheiro está realmente a ser entregue; o parasitismo da segurança social é elevado e inclusivamente produz uma cidade de Paris com uma das mais altas taxas de criminalidade da Europa; o estado consome e gasta 54% da produção de riqueza anual (cada francês, num ano, entrega mais de metade do que se ganha ao estado); o estado é enorme e intervém como actor em múltiplos negócios da sociedade civil diminuindo o incentivo ao investimento; as leis laborais são rígidas e não permitem a fácil troca e procura flexível de melhores empregos (Portugal é ainda pior); o estado francês quase não consegue atrair investimento estrangeiro devido a uma variedade de regulações e restrições, assim como aos impostos altos.

O proteccionismo económico e cultural francês é assim uma realidade. O investimento estrangeiro está inclusivamente interdito ao campo do áudio-visual. Como consequência, vamos constatando que a importância da língua francesa vai progressivamente tornando-se mais diminuta, mantendo-se apenas com alguma importância institucional no âmbito da EU, mas até isso mudará quando se tornar institucionalmente evidente que a língua que a Europa fala é a língua internacional em que o Inglês se tornou.

Culturalmente, poucas coisas de qualidade vêm da actual França, a literatura já não produz o que produziu, a música idem, o cinema, apesar de forte internamente devido a fortes subsídios, continua a gerar poucos filmes exportáveis que sejam consumidos pelo grande público, e, finalmente, as universidades franceses não constam na generalidade dos rankings das melhores e mais produtivas universidades mundiais. Tudo isto é sintomático da sociedade em que a França se tornou, uma sociedade onde o mérito é relegado para segundo plano no âmbito das decisões políticas.

Robert Nozick, filósofo americano, escreveu que pagar impostos para além do necessário para a vida em sociedade é uma nova forma de escravatura, pois tal consiste em fazer alguém trabalhar gratuitamente para os benefícios de outrem. É isto que o estado em causa faz, força determinados indivíduos a trabalharem para poder entregar, através da legitimidade estadual, o dinheiro destes a outros indivíduos. Ou como diria Max Weber, usando o monopólio da violência legítima.

O estado francês obriga todas as pessoas a ficarem na escola até ao 12º ano. Os socialistas portugueses querem seguir-lhes o rasto. No fundo, é pouco relevante para os socialistas se os cidadãos estão bem ou mal formados, porque eles não tencionam entregar qualquer poder à sociedade civil. Esperam controlar a sociedade de cima, e para isso não precisam de uma população muito bem formada, pois esta não terá realmente liberdade para tomar grandes decisões por si só.

França tem, com certeza os seus encantos. Este texto é uma resposta a quem usou as maravilhas francesas para justificar o facilitismo escolar. A pátria de Voltaire ou de Napoleão pode não ser, neste momento, o melhor sítio para formar os jovens; não obstante, é um excelente sítio para enveredar por uma vida especializada na caça ao subsídio, actividade que deve fazer parte da matéria artificial que é dada nas escolas francesas até ao, igualmente artificial, 12º ano.

Inicialmente publicado no "O Replicador"

Wednesday, June 03, 2009

Apaixonados Pelo Estado

Milton Friedman, economista Americano, critica o keynesianismo alegando que as suas práticas levam à estagflação (desemprego alto e inflação alta). Esta combinação improvável é o resultado da intervenção governamental que visa controlar os períodos de depressão económica. Por conseguinte, o fenómeno da estagflação pode ser uma realidade na Europa, onde o keynesianismo é a norma.

Friedman advoga que este fenómeno acontece porque os agentes económicos conseguem prever a acção governamental: depois de perceberem qual a acção sistemática do governo, os agentes económicos vão-se comportar como se já soubessem a próxima medida do governo (investimento público, injecções de capital, etc), neutralizando assim os efeitos dessas medidas, o que leva à famigerada estagflação.

Ocorre-me uma analogia com as relações amorosas: se um homem é enganado sistematicamente por uma mulher (ou vice versa), ele irá conseguir prever que da próxima vez também será enganado. Como consequência, o melhor que ele tem a fazer é deixar essa mulher. No entanto, se ele estiver muito apaixonado por ela, é capaz de se sujeitar à possibilidade, mais do que certa, de ser de novo enganado.

Esta é a imagem da Europa. Está apaixonada pelo Estado.

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Saturday, May 30, 2009

12º ano obrigatório. O que se segue?

O governo socialista quer tornar o 12º ano obrigatório para todos. A seu tempo, isto não ficará por aqui: um dia vai querer tornar a licenciatura obrigatória para todos, depois o mestrado, e assim consecutivamente, de maneira a formar os portugueses com uma educação artificial.

Quais os resultados desta política?

Uma diversidade de fenómenos que não caberia neste texto; porém, de momento, ficam patentes dois exemplos reveladores:

A) A política da cunha vai proliferar. O empregador, na presença de milhares de trabalhadores com as mesmas qualificações, e na iminência de ter de fazer milhares de entrevistas, irá perguntar a um amigo (ainda mais facilmente do que agora) se conhece alguém de “confiança” para o lugar procurado. Como a grande maioria terá as mesmas qualificações provenientes do ensino facilitista, o amigo conhecerá sempre alguém para o lugar. Concomitantemente, estamos na presença de mais um duro golpe na meritocracia.

B) Os melhores cérebros vão-se sentir obrigados a estudar bastantes mais anos para poderem ter qualificações superiores a todos os outros estudantes do ensino facilitista. Com isto vai-se fazer com que esses cérebros tenham inúmeras dificuldades em entrar mais cedo no mercado de trabalho. Uma sociedade que se vê privada dos seus melhores elementos no mercado de trabalho, porque os obriga a estudar ad eternum, não pode ter uma economia produtiva.

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Sunday, May 17, 2009

A importância de nos auto-enganarmos

Se se andava a perguntar como é que o Francisco Louçã (que nem parece uma pessoa limitada), ou o Jerónimo de Sousa, ou outro qualquer político proponente de ideologias políticas absurdas, consegue manter uma postura circunspecta e convicta na hora de pregar ao mundo, pode encontrar uma pista na área da psicologia evolutiva e da sociobiologia.

Robert Trivers, biólogo evolucionista, advoga a teoria do auto-engano: através da observação de comportamentos sistemáticos de outras espécies (mas também da nossa), Trivers chegou à conclusão que o nosso cérebro evoluiu mediante as pressões selectivas específicas a que foi sujeito ao longo dos milénios, evolução essa que traduz-se numa evolução de comportamentos. De forma a conseguir manipular o próximo para seu próprio proveito, o ser humano evoluiu biologicamente (através da selecção natural) para um estágio onde a capacidade para o auto-engano é necessária. Desta forma, só através do auto-convencimento de que aquilo que estamos a pregar é correcto é que conseguimos usar a mentira para manipular o próximo, porque de outra forma nunca seremos convincentes.

É caso para dizer que quem anda cheio de dúvidas não está adaptado ao contexto.
Eu ofereço-me já para o clube dos inadaptados.

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Monday, May 11, 2009

Darwin e os Imigrantes

No jornal “i”, Martim Avillez Figueiredo faz uma defesa ideológica dos imigrantes, alegando que os portugueses deviam chegar à conclusão que precisam de imigrantes para melhorarem a sua sociedade. Por conseguinte, justificou desta forma a sua posição:

"Na verdade, os imigrantes, com a sua cultura, os seus hábitos, obrigam todos os outros a adaptar-se à sua volta. São o antepassado comum de Darwin, que melhora todos os outros pelo método da selecção natural e assegura que a diversidade é qualidade."

No entanto, a selecção natural passa pela selecção dos que estão mais bem adaptados ao contexto. Assim sendo, se os imigrantes vêm para ocupar os postos que os nativos não querem, isto significa que os nativos, apesar de tudo, estão e vão estar, mais bem adaptados ao contexto do que os imigrantes. Não será surpresa para ninguém, os nativos irão continuar a olhar para cima no elevador social para escolherem os seus parceiros reprodutivos e os imigrantes não adaptados ao contextos irão juntar-se entre si para fortalecerem a sua condição social. Desta dicotomia, o resultado mais provável será a discriminação e a falta de coesão social. No que diz respeito à diversidade, a espécie humana é tão complexa que existe diversidade e campo de manobra para a selecção natural até mesmo nos círculos étnicos/raciais mais restritos, sendo que as características que serão seleccionadas serão sempre aquelas que melhor adaptar o sujeito ao contexto, não será por haver mais diversidade de características “não-adaptadas” que elas irão ser seleccionadas.

A principal falácia do argumento de Martim Avillez Figueiredo passa por omitir que essa “adaptação”, no caso de uma imigração descontrolada, passa necessariamente pelo conflito social e, em última instância, pela guerra civil.

Inicialmente publicado no "O Replicador"

Saturday, May 09, 2009

Educação em Portugal: A Crença na Tábua Rasa


O actual governo socialista anunciou enternecidamente que não podia haver medida mais urgente do que obrigar toda a gente a ficar na escola até ao 12º ano. “É para o bem deles” dizem. A consequência torna-se evidente: será difícil encontrar palavras para analisar, de forma crítica, esta generosidade tão característica do pensamento de esquerda.

Num país que, de forma crónica, intui que todos os seus males advêm da educação vigente ou da falta dela, é curioso perceber como a comunidade política não levantou objecções consideráveis a esta ideia. Por interesses eleitoralistas, ninguém se atreve a levantar questões politicamente incorrectas antes das eleições; porém, os políticos apenas se adaptaram ao pensamento veiculado pela sociedade civil: se algo correu mal no resultado social do homem, é porque a educação falhou.
Se tivermos mais educação vamos ter um homem melhor, certo? Considero que não. Na melhor das hipóteses, se tivermos uma educação de qualidade, temos mais probabilidades de ter um homem melhor. Concomitantemente, até isso não se revela líquido, pelo menos ao nível da moral, visto que um homem mais culto não é necessariamente mais altruísta ou compassivo (lembro apenas que o regime do III Reich estava atestado de doutoramentos nas suas elites). No entanto, tal não nos deve desviar do rumo a seguir: é imperativo que o ensino de qualidade, tal como a possibilidade de todos poderem dispor das oportunidades nesse mesmo ensino, seja o objectivo lógico a atingir.

Não podemos confundir oportunidade com obrigação, como o directório socialista parece fazer. Ninguém está obrigado a ter sucesso na vida, seja por que via for, mas todos devem ter oportunidades para tal, promovendo-se o mérito, o esforço e a criatividade. O estado começa a gerar mais prejuízo do que benefício quando tenta determinar o resultado final do homem, influindo de forma determinante na sua liberdade de escolha. A liberdade passa por ser livre para acertar e livre para falhar, para falhar melhor ou para falhar pior.

Em Portugal, na prática, a escolaridade obrigatória de 9 anos não está de todo adquirida, há ainda uma taxa de abandono escolar acima dos 36% e o nível de preparação dos que terminam o 9º ano é, em média, bastante baixo. Se 36% dos alunos não quer estar na escola até ao 9º ano, apesar de todo o facilitismo educativo, como será quando eles forem obrigados a ficar lá até ao 12º ? Tornar-se-á claro, o facilitismo terá de crescer, o número de alunos por professor irá aumentar, o número de alunos que não estão interessados em aprender irá subir em flecha. Tudo isto acontecerá para prejuízo dos professores que querem ensinar e dos alunos que querem de facto aprender. Em última instância, serão as capacidades reais da população portuguesa que ficarão prejudicadas.

Com esta indomável obsessão de não deixar cair os alunos mais fracos, vários resultados se adivinham: quando um aluno com notas de 18 ou 19 precisar de assistência escolar para poder entrar nos cursos onde por vezes não se consegue entrar por uma décima, vai encontrar um professor ocupado no campo de batalha que será, por certo, a sala de aula, esse local povoado por entidades adolescentes forçadas ao exílio escolar. O mesmo se passará com os alunos médios, os professores terão pouca disponibilidade para eles. Afinal de contas, a normalidade é indiferença.

Em Inglaterra, o problema do facilitismo têm-se vindo a agudizar: a percentagem de alunos que passam nos exames do 12º ano anda perto dos 100%. É já preciso cometer uma proeza para se conseguir chumbar num desses exames. Há alunos que mal sabem falar inglês e conseguem tirar boas notas. Como consequência, as faculdades ingleses ponderam já obrigar os candidatos a fazerem exames dentro das faculdades, pois torna-se já impossível distinguir quem são os verdadeiros bons alunos de nota “A” (a nota mais alta no sistema de avaliação inglês). Isto mostra que a tentativa de igualizar todos os alunos apenas faz com que o processo de selecção aconteça noutro ponto para que o mérito possa imperar, se a triagem não for feita no secundário, será feita na licenciatura, no mestrado, no doutoramento ou eventualmente no local de trabalho. A grande desvantagem do processo é a que impede que os elementos com qualidade se possam distinguir mais cedo, produzindo uma massa igualitária que formará uma economia paralela do talento. O ensino de massas será sempre um ensino menos dedicado, menos adaptado e mais nivelado por baixo, por forma a poder acolher toda a gente, independentemente da capacidade, gosto ou motivação de cada indivíduo. Como resultado, obteremos resultados semelhantes aos dos países de leste que possuem o legado do ensino comunista: têm uma população com boa formação superior, mas sem capacidade para gerar riqueza para o país, ou seja, são populações artificialmente formadas/educadas que precisam do “know how” do investimento externo para se desenvolverem.

Estas reformas vanguardistas são a consequência imediata do pensamento dominante que deriva da tábua rasa. Este pensamento acredita que o homem é, à nascença, uma folha em branco, e que a educação o pode moldar de forma a que ele se torne naquilo que quisermos. Em contraposição, a história encarrega-se de mostrar a ausência de veracidade deste clássico “whishful thinking”: mesmo quando colocado nas mesmas condições educativas, os homens continuam a revelar resultados diferentes porque são essencialmente produtos da sua genética que, apesar de serem influenciados por elementos culturais, têm limites já estabelecidos pela hereditariedade.

Publicado inicialmente no "O Replicador"

Thursday, April 30, 2009

Hugh Laurie canta a canção de intervenção perfeita. A canção com a solução para as desigualdades sociais.

O Poder

As leis fundamentais não podem ser mudadas. Quando me perguntam qual a minha ideologia política, sei que me estão a perguntar: "lutas com espada, faca, pistola ou metralhadora?"

Saturday, April 25, 2009

25 de Abril: A Liberdade e a Igualdade como Monopólio


Não sei o que é o 25 de Abril. Procurei em livros, perguntei a professores, indaguei exegetas e as suas repercussões ao nível da psique nacional continuam a fazer pouco sentido na minha cabeça. No dia em que todos os defensores da liberdade usam um cravo na lapela, é fácil perceber que não há qualquer homem que se denomine de esquerda que não ostente esse maravilhoso exemplar da botânica. Bem o sei, eles não são amantes da biodiversidade, senão variavam um pouco na escolha da planta. O que a simbologia floral realmente representa é a eterna autoridade moral que a esquerda conseguiu construir neste país. Uma forma de dizer: “Eu sou pela liberdade. E tu que não usas o cravo não podes ser pessoa de confiança.”.

Não irei perorar sobre o facto de os revolucionários do 25 de Abril serem os homens do poder de hoje em dia, visto tal ser auto-evidente. Os iconoclastas do cravo não eram jovens pobres e sem educação no sentido técnico do termo, eram já senhores com estatuto suficiente para penetrarem nos meandros do poder governamental, e assim o fizeram. De igual forma, mostram-nos as medalhas que justificam a sua presença nas elites nacionais. Actualmente, não se coíbem de nos lembrar como eles são os responsáveis pela liberdade.

A liberdade? Não sei o que é o 25 de Abril.

O que o 25 de Abril veio trazer de realmente novo foi a reconstrução da propriedade do léxico português. A eterna luta ocidental entre os dois valores cristãos (liberdade e igualdade) de repente deixa de existir. O conceito de igualdade estava já tradicionalmente do lado da esquerda, que acusava a liberdade de acção de ser uma forma de opressão dos poderosos sobre os indefesos, o principal inimigo dos esquerdistas era (e ainda é) o liberalismo que coloca a ênfase na liberdade do indivíduo. Em 1974 eles ganharam o jackpot, ao ajudarem a derrubar um sistema ditatorial em nome da “liberdade”, apropriaram-se dos dois valores fundamentais do ocidente, criando uma escola de pensamento onde não há espaço para a dissidência. A esquerda tornou-se dona da igualdade e da liberdade. Não restou, então, outra solução para os discordantes com sede de poder senão alinharem pelo mesmo diapasão, de forma a não se sentirem excluídos do sistema democrático. Todos os partidos que aspirassem a votos populares teriam de conter conotações “sociais” no seu nome e o próprio PSD muda o seu nome para “Social Democrata”, gerando essa situação inusitada no contexto europeu de Portugal ter dois partidos com nomes que, segundo a tradição ideológica europeia, ocupam o mesmo espaço do espectro político: o centro esquerda.

O Partido Socialista e o Partido Social Democrata como partidos de poder no mesmo país? Não sei o que é o 25 de Abril.

As inegáveis virtudes da democracia chegariam a Portugal à medida que estas se espalharam pela Europa, pondo fim às nocivas ditaduras vigentes durante o século XX. Contudo, esta antecipação da esquerda veio mudar a direcção do percurso democrático que se percorreu desde então: em termos pessoais, já nasci em período liberdade política (se entendermos que o voto é a única forma de liberdade política), mas nunca vivi em período de considerável liberdade económica neste país. Ser um empresário honesto, com ideias a realizar, criando evolução e progresso através da iniciativa individual, continua a ser menos compensador do que o simples convite social ao emprego de carácter burocrático. Os guardiões das plantas vermelhas são também os guardiões da subtil forma de dominação do sistema burocrático.

A título de exemplo, sei que vivo num país onde os comunistas (e a esquerda em geral) se tornaram donos do epíteto da liberdade, onde a sua apropriação do termo não choca ninguém porque a história local os assiste. Sabendo-se que os regimes comunistas se baseiam na repressão da mais elementar liberdade do indivíduo, termino o texto da mesma forma que o comecei. Não sei o que é o 25 de Abril.

Thursday, April 23, 2009

O SEF controla também a entrada de animais?

Todos os dias confirmo que a realidade é, de facto, mais estranha que a ficção. Acabei de vir de uma conferência sobre a imigração em Portugal apresentada por um funcionário do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). No final das conferência, houve lugar para as perguntas da audiência adereçadas ao conferencista Dr. Jorge Portas. Depois de quase hora e meia de apresentação, a primeira pergunta foi feita por um senhor na casa dos 50 anos que, sem qualquer pingo de ironia, faz a seguinte pergunta: “ Para além de pessoas, o SEF faz também controlo da entrada de animais nas fronteiras portuguesas? É que eu estou a estudar ecologia humana e gostava de saber.”

O conferencista retorquiu que o senhor devia estar confundido em relação à natureza do SEF.

Ao ouvir a palavra “confundido” apercebi-me que a diplomacia é uma arte sem limites.

Wednesday, April 22, 2009

A teleologia do rabo

O utilitarismo tem uma componente teleológica que se prende com a obtenção da vida boa, ou por outras palavras, da felicidade. Não obstante, deixemo-nos de intelectualidades. Na última semana, num debate sobre a essência da homossexualidade, ouvi a seguinte frase sobre o fim teleológico do uso do rabo: “ Não me venham com tretas, a função do rabo é cagar”. Se Nietzsche criticou severamente o objectivo do utilitarismo alegando que o fim último do homem não é a vida boa mas sim o poder, o que diria ele deste fim teleológico do rabo? Será que concordaria que o rabo é apolíneo ou pode também ser dionisíaco?

Tuesday, April 14, 2009

"O Gene Egoísta em The End of the Affair de Graham Greene"


Há um semestre atrás tive a honra de ser escolhido pelo professor Dr. Carlos Ceia, da Faculdade Nova de Lisboa, para figurar num E-Book com os melhores ensaios académicos da sua cadeira de Literatura Inglesa Contemporânea.

O ensaio de minha autoria chama-se “O Gene Egoísta em The End of the Affair de Graham Greene”. Este baseia-se numa análise do romance de Graham Greene sob uma perspectiva baseada na psicologia evolutiva.

Quem estiver interessado pode fazer o download da antologia “Talent Will Rise” directamente da página pessoal do professor.

Devo dizer que já li vários outros ensaios que estão lá presentes e a sua qualidade é evidente.

Recomenda-se.

Tuesday, April 07, 2009

Margaret Thatcher on Socialism



The Gap Between the Rich and the Poor

"As long as the gap is smaller, they rather have the poor poorer"

Friday, April 03, 2009

A Financial Crisis: Fighting Fire with Fire

The year of 2007 revealed a phenomenon that was already being developed for a long time: the financial crisis. It is not clear when it started exactly, but it was surely not yesterday. By definition, a financial crisis is a period of time in which some financial institutions or assets suddenly lose a large part of their value. This prominent event occurred because the financial bubble in the US housing market exploded, leading to a massive loss of money by the banks, to a general financial distrust, and, more recently, to a global recession. As a result, during recent times, the causes for this explosion have been seriously discussed: the most common entity to be blamed is what some people call “neo-liberalism”, which is a pompous name for pure economic freedom. Similarly, as sub-products of that concept, we get the sub-prime lending, speculation and the deregulation of the market as the engines of this hideous trouncing machine. In a moment of massive unemployment, as well as of economic difficulties, these are the mainstream scapegoats; still, are these targets being fairly accused?

What is not commonly said is that the risky loans given by the banks were a direct result of the action of the Federal Reserve: with the intention of putting more money in the market, the Clinton administration pressured the banks in order for them to expand mortgage loans among low and moderate income people. To attain that goal, deregulation was not the only measure that was taken; in the same way, interest rates were reduced to extremely low levels and state protection was offered in case of failure. This lead to risky loans that banks would not normally give, but because the state was assuming the risk, they were allowed to do it. Also and again, it is safe to say that this financial collapse was not the result of liberalism; ultimately, it was the result of the state intervention in the economy that subverted the natural rules of free market.

In some way, this crisis was a blessing for many politicians in power: with the media spreading the news that “savage liberalism” and greed were to blame for what happened, the governments from all over the western world took the opportunity to increase their power by enlarging the functions of state, by promising to regulate every human interaction to its core or by taking control of the economy; to put it in other words, by returning to classic Keynesianism. It is no surprise, according to politicians, free market is now the demon that should be hunt; as a consequence, personal freedom will become seriously damaged. Frightened by the catastrophic propaganda, people claim for more regulation, for more state control, forgetting that the state control will inevitably knock at their door one day, by intervening directly in their personal and professional lives.

State intervention brought us to this, but because of simplistic propaganda, people now want more state intervention to solve the problem that the previous intervention has created. Ironic? Lets just say that life is a Samuel Beckett play.

Friday, March 13, 2009

A minha relação com Marx


Enquanto esperava pelo começo de uma aula de economia política, fui abordado por um senhor, na casa dos 50 anos, que me colocou, sem qualquer palavra prévia, a seguinte pergunta: “Qual é a sua relação com Marx?”

Fiquei surpreendido. A primeira coisa que me ocorreu dizer foi que a minha relação com Marx era inexistente por três motivos fundamentais: ele está morto, dificilmente teria uma relação de amizade com ele e não sou homossexual.

No entanto, com medo de ofender susceptibilidades limitei-me a usar a emblemática citação de Edward O. Wilson:

"Karl Marx was right, socialism works, it is just that he had the wrong species"

Sunday, March 08, 2009

A era do pensamento único


Os liberais (no sentido clássico do termo) não conseguem uma verdadeira influência no sector político europeu há bastante tempo. Contudo, o centro direita sempre foi incorporando algumas ideias liberais nos seus programas. Hoje em dia, todos, da esquerda à direita, pregam o estatismo: se é grande, se controla, se monitoriza o mais ínfimo pormenor social e económico, então estamos no caminho certo. O estado “grande” tornou-se consensual e os políticos agradecem. Aproveitam assim para fortalecer as máquinas dos seus partidos com mais cargos à disposição.

No epicentro deste pensamento único está, naturalmente, a crise económica e a fobia popular adjacente. O povo pede para ser protegido pelo estado e o estado não se faz rogado, incrementando os seus tentáculos estatizantes.

Já todos conhecem o lobo mau, chama-se neoliberalismo selvagem (peço desculpa pela redundância mas é assim que se costuma dizer nas tabernas e nas associações de estudantes universitários), é contra ele que o estado deve lutar. Claro que este lobo mau que nos é vendido em todo o lado está pintado de forma a servir os interesses políticos do burgo europeu.

Dizem-nos que a culpa da crise é da desregulação dos mercados e da falta de intervenção estadual no sistema bancário. Esta versão simplificada vende mais jornais, mas na realidade oculta pormenores que não encaixam no puzzle: o que não é dito é que foi precisamente através da intervenção da reserva federal americana que os bancos começaram a correr riscos suicidas. Como? Para convencer os bancos a colocarem mais dinheiro no mercado, estes foram incentivados através da fixação artificial de taxas de juros ridiculamente baixas. De forma análoga, foi concedida a protecção sobre as reservas dos bancos de forma a que estes jogassem as suas reservas no mercado. A acção governamental foi determinante para que os bancos tivessem a liberdade de arriscarem na oferta de empréstimos de retorno impossível. Em condições normais de mercado onde a responsabilidade do risco recaísse apenas e só sobre os bancos, a ponderação seria outra. A protecção governamental oferecida aos bancos terminou com uma total ausência de freios. Ademais, é frequentemente omitido que este processo não começou com o famigerado George W. Bush. O fenómeno está em curso há vários mandatos e o presidente Bill Clinton, visto por muitos europeus como um modelo de virtude, não o inverteu.

Vivemos na era do pensamento único. Em Portugal, a direita nunca foi de facto liberal; porém, no momento, está moribunda pois não consegue apresentar qualquer proposta que se desvie do pensamento estatizante da esquerda. Enquanto ela se arrasta, nós vivemos sem pluralidade nem contra-freios direccionais. Como consequência, o estado gasta, aumenta a dívida pública, incrementa a dívida externa e hipoteca as gerações futuras que terão eventualmente que pagar a conta.

Segundo o Jornal de Negócios, o peso do estado chegou pela primeira vez na história aos 50% do PIB nacional, o valor mais alto de sempre. Continuar a criticar-se o suposto liberalismo em que vivemos, quando o estado controla 50% da riqueza produzida no país, é a prova de que estamos a viver dentro de uma peça de teatro do absurdo. Logo agora que esse género artístico nem está na moda.

Saturday, March 07, 2009

Não nascemos todos iguais

Este título de aparente simplicidade tende a ser contestado pelos culturalistas proponentes da tábua rasa genética. Estamos todos de acordo, não com a premissa, mas com a utilidade da mesma: se tudo o que somos é definido por factores sociais, como a educação, a ternura parental ou o estatuto financeiro, então só temos de dar boas condições sociais a toda a gente para que, à luz kantiana, todos se encaminhem deterministicamente para a Razão. Contudo, este poderá ser o século em que teremos que enfrentar o mito da igualdade genética ao nível do talento e temperamento médio, aceitando as evidências desconfortáveis de que somos todos diferentes ao nível do nosso poder de resposta perante a sociedade.

Diferenças adaptativas entre géneros, raças e indivíduos estão a ser reveladas em vários estudos nas comunidades científicas. Não obstante, a sua recepção está sempre pejada de ferozes críticas.

Segundo o psicólogo evolucionista Steven Pinker, o presidente de Harvard, Larry Summers, enfureceu os seus leitores ao citar investigações que mostram que homens e mulheres têm distribuições estatísticas não idênticas de capacidades cognitivas e de prioridades de vida. Já Armand Leroi (biólogo) ofendeu várias susceptibilidades, num artigo do New York Times, por refutar a teoria convencional de que não existem raças. (A teoria conhecida como a falácia de Lewontin, segundo a qual, como a maioria dos genes podem ser encontradas em todos os grupos humanos, tal significa que os grupos não diferem; porém, os padrões de correlação de genes diferem de facto de grupo para grupo, correspondendo às raças principais tais como são percepcionadas pelo senso comum.) Em Julho de 2005 o antropólogo Jason Hardy e o geneticista Henry Harpending revelaram um estudo que sugere que os judeus asquenazes foram sujeitos a um processo eugénico de selecção biológica que visava atingir uma superior inteligência, mostrando também as doenças tipicamente “judaicas” como subproduto deste processo. Por fim, o pecado capital é cometido pelo cientista político Charles Murray (The Bell Burve), que através dos seus estudos traça correlações entre a inteligência média dos grupos e as suas consequências sociais.

Independentemente da acuidade de cada estudo apresentado, as provas em prol das diferenças que a selecção natural trouxe até ao indivíduo contemporâneo são enormes. Continuar a ignorá-las seria o equivalente a tentar tratar uma doença sem a diagnosticar primeiro. Em concomitância, estamos dispostos a aceitar que determinadas raças de cães têm um determinado comportamento definido pela sua genética, mas quando se trata de humanos gostamos de acreditar que todas as crianças são “folhas em branco” à espera de serem construídas pela sociedade, à semelhança do “bom selvagem” de Rousseau.

O aspecto mais bizarro de todo este processo é que o senso comum subjacente ao ser humano já reconhece estas evidências. Todos os dias se ouve dizer: “este rapaz é mais inteligente do que aquele” ou “este jogador nasceu para ser futebolista”. Nada que surpreenda o humano mais distraído; porém, quando chegamos ao âmbito político, o negacionismo tem um poder endémico, entrando em acção um discurso igualitário que oprime qualquer sugestão científica que venha abalar o edifício moral sobre o qual a política deve assentar.

Em 1950 a UNESCO declarou que a ciência não conseguia aferir se a diferença entre raças se devia a questões genéticas ou a factores culturais. Em 1978 declara novamente que não há raças com características superiores, mas desta vez deixa claro que a declaração se baseia essencialmente em princípios morais e não em bases cientificas. Em 2001 a palavra “raça” já nem entra nos discursos multiculturais da instituição.

O problema das instituições internacionais prende-se com a negação do problema através de bem intencionados esforços para promover o esquecimento das diferenças humanas inaptas que realmente existem. O verdadeiro desafio destas instituições devia ser a promoção das melhores formas de distribuir os recursos do planeta por indivíduos com características genéticas de diferente natureza. O direito natural tem aqui um papel importante a representar.

A igualdade perante a lei deverá estar sempre acima de quaisquer diferenças biológicas, nunca esquecendo as suas fundações de cariz moral. É preciso entender também que nenhum indivíduo deve ser visto como representante de um grupo, mas sim como representante de si mesmo, porque apesar de a variação intra-grupos ser menor do que a variação inter-grupos, é suficiente para tornar inválida qualquer representação do grupo pelo indivíduo.

Estamos perante o eterno dilema que opõe uma verdade inconveniente a uma mentira diplomática. O assumir político das diferenças médias entre grupos poderia levar a políticas mais bem adaptadas para cada grupo. Por outro lado existe uma fobia crónica de que tal assunção seja usada para fins radicais. Estaremos mentalmente preparados para dar esse passo quando as evidências científicas deixarem de poder ser ignoradas?

Tuesday, February 17, 2009

A língua nacional como instrumento de opressão política

Línguas e pessoas

Os meus posts sobre a língua desencadearam uma saudável discussão e parece-me que já se pode ver algo como uma conclusão. Há quem instrumentalize a língua e quem veja a língua como mero instrumento para as pessoas fazerem o que quiserem com ela. Quem instrumentaliza a língua entende que os superiores desígnios da língua se sobrepõem naturalmente às pessoas que quiserem falar ou escrever outra língua, por qualquer razão. Quem vê a língua como um mero instrumento entende que a língua está ao serviço das pessoas, e não as pessoas ao serviço da língua. Eu pertençao ao segundo grupo.

As pessoas que pertencem ao primeiro grupo não se apercebem que não estão a defender os interesses reais de pessoas reais, mas meras abstracções políticas, que não foram concebidas para servir as pessoas mas antes para as oprimir. As ideias nacionalistas de Língua, Nação, Estado, Povo, e muitas outras ameaças deste jaez são mentiras políticas concebidas para oprimir as pessoas, nada mais. Pensemos, por contraste, em alguém bem concreto, um aluno qualquer de filosofia, por exemplo, numa universidade. Para este aluno real e concreto a única coisa que de facto interessa é que ele tenha acesso à bibliografia de qualidade de filosofia. Tanto faz qual é a língua dessa bibliografia, desde que seja uma língua que ele domina. Ora bem, agora é que entra aqui o nacionalismo serôdio. Pragmaticamente, é óbvio que esse aluno tem muito a ganhar em dominar uma língua culta que não o português, pela simples razão que em português quase não encontra bibliografia de qualidade. Mas politicamente, os nacionalistas querem que ele fique preso à língua-mãe e estão-se nas tintas para as suas necessidades reais: o que conta é defender a Pátria, a Nação, a Lusofonia ou outro disparate qualquer deste género.

Pensemos agora noutra pessoa concreta: um estudante que está prestes a acabar ou que acabou o seu doutoramento. Ele precisa de contacto intenso com os seus colegas. Acontece que a maior parte dos seus colegas do mundo inteiro não sabem ler português e nunca vão aprender a ler português. Portanto, o seu interesse é escrever em inglês, porque precisa das críticas dos seus colegas. Mas o nacionalista defende que o interesse perfeitamente legítimo e humano deste investigador tem de se subjugar aos superiores desígnios da Língua Materna.

Consideremos agora um empregado de supermercado que gosta de astronomia, mas não sabe ler qualquer língua culta. Ele está lixado, faça-se o que se fizer. Está menos lixada hoje porque homens como o Guilherme Valente, da Gradiva, lhe põem à disposição... traduções de bons livros de divulgação científica; e porque alguns bons divulgadores científicos portugueses, como Carlos Fiolhais, Jorge Buescu ou Nuno Crato, escrevem alguns bons livros de ciência, ainda que não necessariamente de astronomia. Mas isto é uma gota no oceano; a imensa boa bibliografia de divulgação a que ele teria acesso se soubesse ler inglês ou outra língua culta é incomparável. Por isso, quando olhamos para os interesses dele e não para fantasias políticas, vemos que é do seu interesse dominar uma língua culta -- o que significa que é do interesse dele que os seus filhos não fiquem na situação má em que ele se encontra, o que por sua vez significa que 1) ou a língua portuguesa deveria ser abandonada como língua escolar, passando-se a adoptar uma língua escolar culta qualquer, sendo a língua inglesa estudada apenas lateralmente, ou pelo menos 2) grande parte das matérias escolares deviam ser leccionadas numa língua culta qualquer, mas não em português, de modo a que os portugueses ficassem efectivamente bilíngues, como acontece com os alemães, suecos ou israelitas.

E pronto, venham de lá os protestos.
Desidério Murcho

Monday, February 16, 2009

Benicio del Toro, Che e uma jornalista atípica

Tuesday, December 16, 2008

A diferença

Constato facilmente que o factor económico está para a análise política como o factor sexo está para Freud, ou seja, em última instância, tudo é consequência desses factores. A diferença é que Freud estava certo.

Friday, November 14, 2008

Assessment

“Write about a person who is/was or has been significant in your life.”

Honesty is a fragile paradigm of human nature, but I have to be brutally honest. Nobody had more influence on me than me. Many people tried to defy this fact and climb to the number one position. Curiously, success was never on their side. In the end, solipsism was like social democracy in Sweden, it always wins.
I was about to enter into the fantasy realm. In a post-modern world, it becomes clear that fiction makes much more sense than reality. The problem with reality is that it never makes sense, so I’ve read.
Some might say that such behavior is merely a façade that conceals the lack of social skills. Nevertheless, this was an argument that never convinced me. Who should I socialize with? I couldn’t see anyone else in my room apart from me. Only very recently, when told that I needed to go out to be able to fraternize with others, those arguments fit into place. Still, experiencing surrealism and realism, I can safely say that the main difference is that, in real life, people’s clothes reflect a poorer aesthetic taste. The rest is similar.
Just like Fernando Pessoa, I felt that people were mostly boring, except when they became a scientific case study or a way to create interesting art. So I divided myself into three or four, but I maintained the same gender because even at a psychological level it is very hard to fool one’s libido and sexual orientation.
With no surprise, all my heteronyms liked to watch adult heterosexual oriented movies, which probably destroyed all my motivations to support left wing movements. Now that I think of it, they were tremendously individualistic. At the end of the day, they would only talk to each other, making me even more egotistic than I was before, so much that I couldn’t even understand what Karl Marx meant with his infamous word “class”.
It was somehow complicated to grow up in a world in which my own creations wouldn’t talk to me, but it wasn’t as dreadful as people usually think, because creations and pieces of art were never a good companion anyway. They might grow in other people’s hearts (if the artist is lucky enough) but they always fade away when permanently locked in the artist’s room, except, of course, if the room has air conditioner.
To sum it up, there is nothing more decisive in life than to be ignored by our own self. Some call it freedom. Some call it something else. I call it an assessment.
Filipe Faria

O retrato dos últimos meses

Tuesday, November 11, 2008

Encaixar-se

Dizia numa conversa informal que as mulheres, apesar de serem mais qualificadas do que os homens, apresentam níveis de empreendedorismo bastante inferiores. Continuei a dizer que as mulheres quando terminam os seus cursos só querem encaixar-se em qualquer sítio.

Naturalmente, a conversa acabou aí.

Saturday, November 08, 2008

Bad Bad BBC !!

Facebook groups have also been set up urging users to add their voices to the debate. One message doing the rounds on Facebook said: "Why is it that Britain's minorities are always depicted in this negative light, making our positive achievements seem somewhat belittled. The BBC creates a false impression of what we are. They promote one side of the spectrum, which is usually the negative side.

"There were many intelligent black people from the UK [who] would have represented us correctly, but due to the negative images that the BBC so regularly promotes it was fitting for them to pick a RAPPER, to speak on one of the most momentous occasions for black people in the 21st century."

Taken from here

Things i can relate to

Does your innate scepticism intensify doubts about presuming to pursue a life in poetry?

You could say that every poem I write - or that anybody else writes, for that matter - is a way of overcoming those doubts. Anybody serious about poetry knows how hard it is to achieve anything worthwhile in it. I used to think that, if you came from a background like mine, your approach to the muse was shyer than if you came from a more bookish or artistic family, but now I'm not so sure. Yeats had an artist daddy, Eliot had a poetry-writing mammy, and that was a great help to them. But what about Elizabeth Bishop or Plath? Or Kavanagh? Or Pessoa? You could argue that scepticism about literature is what actually inspired Pessoa.

Seamus Heaney

Saturday, October 18, 2008

Contra o "nanny state" e a polícia da memória

Sunday, October 05, 2008

Black books


Bernard: [selling a book] Enjoy. It's dreadful, but quite short.

Tuesday, September 30, 2008

Vida analisada

Sócrates postulou que uma vida não analisada não merece ser vivida.
O senso comum diz que uma vida constantemente analisada faz com que não tenhamos tempo para sair de casa, como tal, é uma vida não vivida.

Monday, September 29, 2008

A cantiga de protesto "anti-neo-liberal"


Vejo a Joana Amaral Dias a mandar vir contra o modelo “neo-liberal” no programa do Mario Crespo. Esta canção passa mais vezes na rádio e na televisão do que as músicas dos Abba.
E, no caso da televisão, sem perder qualidade estética.

Sunday, September 28, 2008

Presidente Obama


Esta foi a semana em que Obama ganhou as eleições Americanas. Depois de um período em que estava constantemente a perder pontos nas sondagens, eis que a crise do subprime e as consequentes soluções intervencionistas republicanas o salvam sem que ele precisasse de concretizar qualquer ideia política (como é o seu apanágio). Apenas se sabe que Obama pertence a uma ala mais à esquerda do partido democrata que defende uma maior intervenção do estado na economia. Quando a administração Bush propõe que seja o estado a salvar as empresas privadas acaba por entregar a vitória da próxima eleição a Obama. O economicamente liberal Mccain fica sem argumentos e vai entrar em contradição se quiser agradar ao eleitorado do seu partido e a todos os outros de que necessita.
Se sempre foi difícil para Mccain competir com a vitalidade de Obama, agora será impossível.
Ironicamente, o presidente Bush destrói o “maverick” e entrega a casa branca aos democratas. Bem se sabia que Bush não gostava de Mccain e vice versa. Mesmo que tenha sido involuntário e que deus se tenha comovido com a retórica “obamaniana”, este golpe foi, na minha óptica, fatal.

Praxes

Os últimos dias trouxeram as praxes de volta. Fantástica tradição.
Quando surgiu a pertinente questão: “como se deve integrar os novos alunos no ensino superior?”; alguém disse: “já sei, vamos humilhá-los fazendo-os imitar porcos, auto ofenderem-se ou tratá-los como gado numa manjedoura”. O responsável pela integração disse: “excelente ideia, isso vai fazer com que eles fiquem integrados no sistema escolar num ápice”.

Não é preciso ler Beckett para ter contacto com o absurdo.

Gandhi racista?


Ao ler sobre Mahatma Gandhi descubro que este se viu envolvido numa polémica racial. Durante os tempos em que esteve na África do Sul escreveu o seguinte sobre os africanos nativos “Os kaffirs são incivilizados por definição e os presos ainda são mais. Só arranjam problemas, são muito sujos e vivem quase como animais.”
Ele protestou veementemente contra a colocação de Africanos e Indianos na mesma categoria deixando mesmo escrito que os Indianos eram sem qualquer tipo de dúvida infinitamente superiores aos kaffirs. Sobre a questão da imigração disse em 1903: “Nós acreditamos tanto na pureza da raça como pensamos que eles acreditam... nós também acreditamos que a raça branca deve ser a raça predominante na África do Sul“.

Depois de Gandhi, como é que eu vou convencer o senhor Manuel da mercearia a não fazer comentários racistas?
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