Saturday, April 25, 2009

25 de Abril: A Liberdade e a Igualdade como Monopólio


Não sei o que é o 25 de Abril. Procurei em livros, perguntei a professores, indaguei exegetas e as suas repercussões ao nível da psique nacional continuam a fazer pouco sentido na minha cabeça. No dia em que todos os defensores da liberdade usam um cravo na lapela, é fácil perceber que não há qualquer homem que se denomine de esquerda que não ostente esse maravilhoso exemplar da botânica. Bem o sei, eles não são amantes da biodiversidade, senão variavam um pouco na escolha da planta. O que a simbologia floral realmente representa é a eterna autoridade moral que a esquerda conseguiu construir neste país. Uma forma de dizer: “Eu sou pela liberdade. E tu que não usas o cravo não podes ser pessoa de confiança.”.

Não irei perorar sobre o facto de os revolucionários do 25 de Abril serem os homens do poder de hoje em dia, visto tal ser auto-evidente. Os iconoclastas do cravo não eram jovens pobres e sem educação no sentido técnico do termo, eram já senhores com estatuto suficiente para penetrarem nos meandros do poder governamental, e assim o fizeram. De igual forma, mostram-nos as medalhas que justificam a sua presença nas elites nacionais. Actualmente, não se coíbem de nos lembrar como eles são os responsáveis pela liberdade.

A liberdade? Não sei o que é o 25 de Abril.

O que o 25 de Abril veio trazer de realmente novo foi a reconstrução da propriedade do léxico português. A eterna luta ocidental entre os dois valores cristãos (liberdade e igualdade) de repente deixa de existir. O conceito de igualdade estava já tradicionalmente do lado da esquerda, que acusava a liberdade de acção de ser uma forma de opressão dos poderosos sobre os indefesos, o principal inimigo dos esquerdistas era (e ainda é) o liberalismo que coloca a ênfase na liberdade do indivíduo. Em 1974 eles ganharam o jackpot, ao ajudarem a derrubar um sistema ditatorial em nome da “liberdade”, apropriaram-se dos dois valores fundamentais do ocidente, criando uma escola de pensamento onde não há espaço para a dissidência. A esquerda tornou-se dona da igualdade e da liberdade. Não restou, então, outra solução para os discordantes com sede de poder senão alinharem pelo mesmo diapasão, de forma a não se sentirem excluídos do sistema democrático. Todos os partidos que aspirassem a votos populares teriam de conter conotações “sociais” no seu nome e o próprio PSD muda o seu nome para “Social Democrata”, gerando essa situação inusitada no contexto europeu de Portugal ter dois partidos com nomes que, segundo a tradição ideológica europeia, ocupam o mesmo espaço do espectro político: o centro esquerda.

O Partido Socialista e o Partido Social Democrata como partidos de poder no mesmo país? Não sei o que é o 25 de Abril.

As inegáveis virtudes da democracia chegariam a Portugal à medida que estas se espalharam pela Europa, pondo fim às nocivas ditaduras vigentes durante o século XX. Contudo, esta antecipação da esquerda veio mudar a direcção do percurso democrático que se percorreu desde então: em termos pessoais, já nasci em período liberdade política (se entendermos que o voto é a única forma de liberdade política), mas nunca vivi em período de considerável liberdade económica neste país. Ser um empresário honesto, com ideias a realizar, criando evolução e progresso através da iniciativa individual, continua a ser menos compensador do que o simples convite social ao emprego de carácter burocrático. Os guardiões das plantas vermelhas são também os guardiões da subtil forma de dominação do sistema burocrático.

A título de exemplo, sei que vivo num país onde os comunistas (e a esquerda em geral) se tornaram donos do epíteto da liberdade, onde a sua apropriação do termo não choca ninguém porque a história local os assiste. Sabendo-se que os regimes comunistas se baseiam na repressão da mais elementar liberdade do indivíduo, termino o texto da mesma forma que o comecei. Não sei o que é o 25 de Abril.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home

eXTReMe Tracker