Tuesday, November 13, 2007

I love you

Agradeço desde já a todos os que perderam tempo a ouvir e a comentar os esquissos musicais que se encontram na minha página do Myspace.
Neste blog estão presentes vários desses comentários. Não me compete opinar em público sobre questões técnicas de índole musical, porque tal é deixado para a fase de produção, mas não posso deixar de comentar algumas observações de carácter ideológico.

Algumas vozes foram da opinião de que um refrão que é constituído pelas palavras “I love you” é um refrão já muito batido e gasto. Pergunto-me se tal é verdade...
É sem dúvida alguma. Haverá alguém com 1 olho e 1 ouvido que não ache que sim? A questão não está em saber se é já muito batido/gasto ou não, mas sim porque raio o autor decidiu usar tais palavras (considerando que ele (eu) não tem 5 anos). Por razões óbvias não irei explicar o sentido de “I love you” para a canção, mas é possível explanar sobre um sentido mais lato.
Nos anos 40,50,60 não era inusitado usar tal escolha de léxico nos pontos fortes das canções, hoje em dia é. Isso é tudo o que me interessa.

Para não ofender o senhor Einsenstadt e as suas múltiplas modernidades, vou-me concentrar na nossa modernidade, na ocidental europeia.
Max Weber escreveu que a modernidade estaria na racionalização e na burocratização. Não estava longe da verdade, o próprio homem moderno é o homem (supostamente) racional e burocrático. Actos de fé, por estes territórios, não precisam de ser fundamentalistas para serem apelidados de irracionais, basta acreditar-se no que não se pode provar para estarmos a fugir ao legado iluminista do culto da razão. Tal não é moderno, não é cool, não é hip, tal é, acima de tudo, uma fraqueza (do tipo que não está longe da menoridade intelectual).

O mundo não é intelectual, mas deve ser enquanto objectivo (edilicamente falando). O mérito máximo está hoje em dia, em termos gerais, ligado a actividades do mundo das ideias. O auto controlo emocional é premiado como sendo o trampolim fundamental para a produção intelectual. Isto para dizer que os sentimentos são, em termos gerais, um empecilho civilizacional. Até as raparigas começam a preferir (desta vez oficialmente)os sarcásticos e inteligentemente cínicos do que os retrógrados simplórios de flores na mão e deixas amorosas retiradas dos livros que as suas mães liam (se é que liam). Perdeu-se o homem bom/homem mau e ganhou-se o homem optimizado. O homem optimizado só mostra sentimentos quando estes estão processados através da intelectualidade. O sentimento cru é o pão dos pobres, ou pior, é o rendimento da segurança social em 2050.

Dizer “I love you” nesta altura é um acto de loucura. Dizê-lo num refrão é o mesmo que me mandar ao rio com uma âncora atada ao pescoço. É uma necessidade de frisar que estou fora do tempo mesmo que não esteja. É rezar uma oração em acto de desespero no meio de um multidão voyerista. Nem Cristo seria capaz de tal abnegação em prol de uma causa tão pueril. Mas por vezes apetece destruir o prédio para perceber o que existe por baixo, para perceber o que os vizinhos vão pensar do que lá estava, para consumir directamente o que vem sempre em embalagens pitorescas, não como regra, apenas como pontual excepção, como lembrança do que podemos ser mesmo que nem interesse particularmente para o contexto actual. Mas terá interesse? Tem. Porque toda esta verborreia textual não tem um milésimo da importância que um “I love you” pode ter quando colocado no sítio certo. Por vezes, o sítio certo, é o refrão de uma canção.

PS: As famigeradas palavras estão no tema “The dogs”

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