Porque é que não há socialismo nos EUA?
Antes de chegar a Lipset, seria interessante perceber como Shmuel Eisenstadt enquadra a pergunta da praxe “Porque é que não há socialismo nos EUA?”
Eisenstadt alega que a construção da identidade colectiva e premissas de ordem social e política são, em qualquer sociedade fundados em noções cosmológicas e ontológicas fundamentais, baseadas na religião.
Tal como nos movimentos socialistas, a crença americana também se baseava no poder do povo, mas vista de forma radicalmente diferente, porque esta acreditava na capacidade para liderar/decidir do individuo e não numa entidade estatista de carácter supra-regulador, estando presente que só havia uma entidade superior ao povo que seria Deus.
Assim sendo, importa dizer que o ideal de “Novo” é importante para esta construção de identidade, a ideia de que os EUA seriam uma nova ordem (a american way of life) que cortaria com os vícios de governantes passados (nomeadamente europeus) de tiques absolutistas, totalizantes ou centralistas, aproximando-se de um certo messianismo que vê os novos valores de uma nova nação como capazes de elevar os valores humanos e torná-los universais.
A ideologia americana é marcada tradicionalmente por uma grande Utopia de valores morais. As crenças no individualismo e no republicanismo (que se baseiam no iluminismo e em crenças do protestantismo). Mais uma vez, a utopia americana consistia em fazer cumprir os desígnios constitucionais e ideais metafísicos (através da sua purificação) do que em alterá-los. É possível portanto dizer que não havia lugar para outra Utopia (de valores socialistas) quando já se estava a tentar cumprir uma.
Isto leva-nos ao conceito de protesto, que é o que normalmente muda as sociedades. Sendo o protesto feito no sentido do cumprimento da constituição e das ideias vigentes, a mudança dos mesmos tinha pouca ou nenhuma força, apesar das tensões.
No que diz respeito à desigualdade, esta não era vista em termos de classe mas em termos moralistas, distinguindo os “produtores” dos “parasitas”, louvando os primeiros e criticando os segundos, isto é, a distinção era feita entre os que queriam realmente trabalhar, produzir, inovar, e os outros que queriam simplesmente parasitar.
Assim como no socialismo, o protesto contra os monopólios sempre existiu de forma proeminente em território Americano, a grande diferença está no facto do protesto ser expresso de forma a criticar a negação do acesso às possibilidades de competição, às oportunidades e não a pretender uma suposta igualdade no fim do processo, pretende a possibilidade universal de produzir fazendo a apologia dos frutos de uma vida boa.
Consequentemente não se critica a desigualdade, mas sim o excesso de desigualdade, condenando-se as pretensões de superioridade e a concentração absoluta do poder seja ele qual for (talvez seja esta a maior colisão com o socialismo).
Quando terminar o livro do Lipset, continuarei esta saga aparentemente inútil...
Eisenstadt alega que a construção da identidade colectiva e premissas de ordem social e política são, em qualquer sociedade fundados em noções cosmológicas e ontológicas fundamentais, baseadas na religião.
Tal como nos movimentos socialistas, a crença americana também se baseava no poder do povo, mas vista de forma radicalmente diferente, porque esta acreditava na capacidade para liderar/decidir do individuo e não numa entidade estatista de carácter supra-regulador, estando presente que só havia uma entidade superior ao povo que seria Deus.
Assim sendo, importa dizer que o ideal de “Novo” é importante para esta construção de identidade, a ideia de que os EUA seriam uma nova ordem (a american way of life) que cortaria com os vícios de governantes passados (nomeadamente europeus) de tiques absolutistas, totalizantes ou centralistas, aproximando-se de um certo messianismo que vê os novos valores de uma nova nação como capazes de elevar os valores humanos e torná-los universais.
A ideologia americana é marcada tradicionalmente por uma grande Utopia de valores morais. As crenças no individualismo e no republicanismo (que se baseiam no iluminismo e em crenças do protestantismo). Mais uma vez, a utopia americana consistia em fazer cumprir os desígnios constitucionais e ideais metafísicos (através da sua purificação) do que em alterá-los. É possível portanto dizer que não havia lugar para outra Utopia (de valores socialistas) quando já se estava a tentar cumprir uma.
Isto leva-nos ao conceito de protesto, que é o que normalmente muda as sociedades. Sendo o protesto feito no sentido do cumprimento da constituição e das ideias vigentes, a mudança dos mesmos tinha pouca ou nenhuma força, apesar das tensões.
No que diz respeito à desigualdade, esta não era vista em termos de classe mas em termos moralistas, distinguindo os “produtores” dos “parasitas”, louvando os primeiros e criticando os segundos, isto é, a distinção era feita entre os que queriam realmente trabalhar, produzir, inovar, e os outros que queriam simplesmente parasitar.
Assim como no socialismo, o protesto contra os monopólios sempre existiu de forma proeminente em território Americano, a grande diferença está no facto do protesto ser expresso de forma a criticar a negação do acesso às possibilidades de competição, às oportunidades e não a pretender uma suposta igualdade no fim do processo, pretende a possibilidade universal de produzir fazendo a apologia dos frutos de uma vida boa.
Consequentemente não se critica a desigualdade, mas sim o excesso de desigualdade, condenando-se as pretensões de superioridade e a concentração absoluta do poder seja ele qual for (talvez seja esta a maior colisão com o socialismo).
Quando terminar o livro do Lipset, continuarei esta saga aparentemente inútil...
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