Wednesday, February 14, 2007

Este é um texto moralista

“É uma obra moralista.” Frase usada em larga escala nos tempos contemporâneos para descrever, de forma tendencialmente pejorativa, uma qualquer expressão artística que possa conter uma visão moral (patente ou latente) sobre algo.

Será difícil saber quando uma obra é moralista ou não. O senso comum diz que uma peça é moralista quando o autor da mesma tenta passar aos outros um valor ou uma ideia que considera correcta e quando implicitamente usa um certo tipo de coação psicológica para levar a que as pessoas também tomem a tal ideia como exemplo de virtude a seguir. As formas artísticas (ou apenas comunicacionais) mais usadas para fazer passar esse “moralismo” será o ênfase directo da ideia ou a contraposição exacerbada para provar o seu oposto. O que é que realmente enfurece o consumidor de arte quando perante uma moral? Questões artísticas/técnicas à parte, o que realmente o enfurece cristaliza-se quando a moral em causa assenta sobre algo de que ele discorda ou de que até concorda utopicamente mas que, por uma razão ou por outra, não conseguiu colocar em prática ou ter sucesso com a mesma, acabando assim por lhe ganhar uma antipatia considerável. Como eu costumo dizer, uma moral é sempre combatida com outra, , sim eu, e o que sei eu? Passemos à frente...

Não é preciso ser o Peter Singer (filosofo australiano), com a sua impossibilidade de vida sem ética e a sua demanda para responder à pergunta “porque devo ser moral?”, para perceber que a moral está sempre presente. Pode assumir um carácter negativo sendo assim imoral ou ter um perfeito desconhecimento (propositado ou não) da moral e tornar-se amoral, sendo a amoralidade um conceito que paira sem se efectivar, como quando se imagina um porco com asas (bonito exemplo), imaginável mas não verosímil, no entanto, em todos os casos, estamos sempre no campo moralista, quando mais não fosse porque, como dizia o meu amigo David Hume, a nossa moral está intimamente ligada aos sentimentos e só numa fase posterior é racionalizada para os tentar efectivar no campo do real). Quem consegue fugir dos sentimentos inerentes ao indivíduo?(a resposta “os playboys” não conta)

Será possível exprimir alguma coisa que não advenha do nosso circuito moral? A expressão, tendo como fim último a comunicação com o próximo, terá de ter um intuito, o mínimo de significado, perceptível ou não, mas terá necessariamente de ter, a total ausência de mensagem pode ser o silêncio e mesmo esse é usado para comunicar e consequentemente passar uma moral. Dir-me-ão que uma obra non-sense/abstrata não contem teor moralista, mas o que leva a pessoa a fazer tal peça tem uma moral subjacente, consciente ou não, acabando em muitos casos a funcionar como um “statement” bastante definido.

Parece-me lógico discutir se uma obra tem uma moral intrínseca mais evidente ou menos evidente, se concordamos com ela ou não, mas argumentar que ela é “moralista” acaba por ser pleonástico. Num caso extremo, com tendências pós-modernas ou não, quando se tenta registar artisticamente um pensamento que se baseia na ideia de que não há uma moral, não haver uma moral é a moral da história.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

What makes things immoral is the human intention behind it...
We have, in fact, two kinds of morality side by side, one which we preach but do not practice, and another which we practice but seldom preach.

Morality in Art?
Even Plato or Aristotle couldn't provide a solution for it but it challenged everybody to think about it.


The problems to the nature of Art shows that Art is a discipline that requires contemplation.

M.

2/15/2007 6:58 PM  

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