Ir a jogo
Era normal, ou talvez não, ser normal ou anormal é apenas uma questão de estatísticas. Estar com a maioria é desconfortável. Estar com uma minoria pode ser uma deformação e não uma qualidade, ou pode até não ser nada, mas poucos querem ser nada. Ser alguma coisa não é simples, ser nada seria tudo, mas nunca se consegue ser nada a tentar ser algo pré-definido de forma exacta, talvez esse seja o tal “nada”. A única beleza é a dos números.
Os outros e o nosso eu, ou se calhar os outros são o nosso eu, esse mesmo, com o seu olhar a perscrutar constantemente e a produzir juízos que só não são finais porque desde cedo se aprende que tudo muda no segundo seguinte. É vago, é vago, tudo é vago, a palavra “tudo” é elegante e escorregadia, como o pacote de leite que ao cair derrama “tudo” no chão, mas não tudo.
Por vezes não se sabe se existimos, surgem daí perguntas bacocas que a filosofia de algibeira nos ensinou a fazer em alturas hedonistas e de captação de atenções. Não resulta, porém os gatos alinham, seres existencialistas por excelência, mas facilmente enganáveis apesar da sua pose individualista.
Fiquemo-nos pela identificação. Actividade difícil num mundo onde um homem quanto mais se auto-descobre mais descobre o quanto é diferente dos demais, até chegar, possivelmente, ao ponto onde se sente realmente igual a todos os outros, esse ponto não chega a ser atingido em vida, tal pode até ser dito com toda a prepotência.
O permanentemente clamar pelo surgimento da pessoa que entende todas as nossas minudências e que partilha os gostos que antes achávamos exclusivos, irrepetíveis, não passíveis de comunhão, é o fenómeno mais comum entre irredutíveis solitários. A necessidade de pertença a algo para além do eu tenta destruir a clareza da auto-suficiência, uma luta titânica entre duas forças aparentemente inconciliáveis, nem a lagarta nem a borboleta conseguem evitar olhar sob uma perspectiva retroactiva ou “proactiva”. Ao encontrar essa tal pessoa com quem toda a partilha e entendimento é possível, um solipsista pode sentir imediatamente um sentimento de integração de que não estava habituado, apesar de tudo, esse sentimento apresentar-se-á como uma possibilidade agradavelmente original do ponto de visa empírico, mas logo se fará sentir um outro efeito, que consiste na perda de unicidade que o sentimento de incompreensão confere. Deixar de ser especial, deixar de poder queixar-se de tudo (tendo a palavra “tudo” a força incomensurável que tem), deixar de sentir que se é o deus da nossa percepção, deixar de ter a exclusividade dos pormenores, deixar de se ser eu para se ser menos eu, ou mais eu, mas nunca eu, nunca o eu anteriormente construído que permitia a sustentação da guerra e da competição vital para ter um rumo. Depois há outra guerra, a dois, mas poucos querem ir a jogo quando as regras são indefinidas.
Se ao menos se pudesse ganhar sem perder ...
Os outros e o nosso eu, ou se calhar os outros são o nosso eu, esse mesmo, com o seu olhar a perscrutar constantemente e a produzir juízos que só não são finais porque desde cedo se aprende que tudo muda no segundo seguinte. É vago, é vago, tudo é vago, a palavra “tudo” é elegante e escorregadia, como o pacote de leite que ao cair derrama “tudo” no chão, mas não tudo.
Por vezes não se sabe se existimos, surgem daí perguntas bacocas que a filosofia de algibeira nos ensinou a fazer em alturas hedonistas e de captação de atenções. Não resulta, porém os gatos alinham, seres existencialistas por excelência, mas facilmente enganáveis apesar da sua pose individualista.
Fiquemo-nos pela identificação. Actividade difícil num mundo onde um homem quanto mais se auto-descobre mais descobre o quanto é diferente dos demais, até chegar, possivelmente, ao ponto onde se sente realmente igual a todos os outros, esse ponto não chega a ser atingido em vida, tal pode até ser dito com toda a prepotência.
O permanentemente clamar pelo surgimento da pessoa que entende todas as nossas minudências e que partilha os gostos que antes achávamos exclusivos, irrepetíveis, não passíveis de comunhão, é o fenómeno mais comum entre irredutíveis solitários. A necessidade de pertença a algo para além do eu tenta destruir a clareza da auto-suficiência, uma luta titânica entre duas forças aparentemente inconciliáveis, nem a lagarta nem a borboleta conseguem evitar olhar sob uma perspectiva retroactiva ou “proactiva”. Ao encontrar essa tal pessoa com quem toda a partilha e entendimento é possível, um solipsista pode sentir imediatamente um sentimento de integração de que não estava habituado, apesar de tudo, esse sentimento apresentar-se-á como uma possibilidade agradavelmente original do ponto de visa empírico, mas logo se fará sentir um outro efeito, que consiste na perda de unicidade que o sentimento de incompreensão confere. Deixar de ser especial, deixar de poder queixar-se de tudo (tendo a palavra “tudo” a força incomensurável que tem), deixar de sentir que se é o deus da nossa percepção, deixar de ter a exclusividade dos pormenores, deixar de se ser eu para se ser menos eu, ou mais eu, mas nunca eu, nunca o eu anteriormente construído que permitia a sustentação da guerra e da competição vital para ter um rumo. Depois há outra guerra, a dois, mas poucos querem ir a jogo quando as regras são indefinidas.
Se ao menos se pudesse ganhar sem perder ...
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