Intelectual
Ao ler estes dois posts ( 1 e outro), achei que me devia confessar.
Encomendei o representante religioso de serviço e prontamente começo a confissão.
Eu não sou um intelectual. Não sou, nunca serei e, se for realmente honesto (ou mentiroso convicto) nunca realmente quis ser. Ser intelectual deve dar trabalho, digo eu, não sei. Há várias razões pelas quais eu não sou um intelectual, mas a principal será o facto de que ler não é o meu prazer número 1 (se bem que também duvido que seja o deles), mas ler é necessário para o efeito, é pelo menos necessário terminar os livros e não desistir quando o autor está apenas a adornar para depois poder dizer o que realmente interessa em uma página ou duas, considerando que ele tem realmente algo de interessante para dizer, quando se aguenta os adornos na esperança de que algo relevante vá acontecer e não acontece, é razão para chamar o FBI (não disse GNR para tentar intelectualizar o texto através do aumento da dimensão de importância). Não é correcto dizer que não leio, eu leio, mas de uma forma caótica, leio o David Hume, paro a meio e passo para o Philip Roth, depois sinto falta do Woody e vou ler a sua prosa, mas entretanto já percorri poetas, enciclopédias, jornais, manuais e listas de supermercado (era para escrever “catálogos da Victoria’s Secret” mas depois tive vergonha). Calculo que esta falta de estabilidade literária assente na popular ideia de que só se está bem onde não se está. Só que um intelectual, acredito eu, tem de estar bem onde está, pelo menos por 5 minutos, penso que dificilmente se conseguirá chegar a tal epíteto se trocarmos de informação de 5 em 5 minutos. Seria a destruição do princípio da especialização. Se me disserem que os intelectuais também são assim, então eu irei deixar de os ler, assim como espero nunca voltar a ler este texto na vida. A questão do trabalho também é importante, como é possível trabalhar, principalmente se for numa actividade não – intelectual, e ter tempo para tempo para o ser? Abdicar de ter vida pessoal não é a resposta, pois eu já o fiz e nem por isso me tornei num. Deve haver algo que eles sabem e que nós (os prosaicos) não sabemos, mas também, agora que penso melhor, é precisamente por isso que eles são intelectuais, eles sabem coisas de que nós nem desconfiamos. Mmm , pois.
É verdade que há os que tentam parecer, uma das técnicas mais usadas é o uso de palavras supostamente eruditas ou apenas menos usadas no dia a dia como “iconoclasta”, “abstruso” ou “prolixo”, e por esta altura já estão os não intelectuais e os intelectuais (bem, os intelectuais nem por isso porque esses não lêem este blog) a dizerem que essas palavras não são assim tão representativas e que até têm algo de banal, pois sim, mas eu nunca disse que era um bom actor.
Lembro-me de ler no The Guardian o que Timothy Garton Ash escreveu sobre o que é ser intelectual em Inglaterra, e como o termo no seu país sempre teve uma conotação pejorativa, ao contrário da vizinha França que sempre cultivou o estatuto do intelectual (dai o termo “esquerda” estar sempre ligado ao termo “intelectual”... supostamente), sendo “where is the beef?” a resposta dos ingleses a intelectuais teóricos como Derrida. Ser intelectual, ou auto-apelidar-se de tal, no reino da sua majestade era motivo para gozo, sinónimo de prepotência inócua , no entanto, Garton Ash terminava a achar que em mais nenhum país europeu se debate e gera tantas ideias como no Reino Unido e que em última instância essa seria a derradeira finalidade da intelectualidade.
No fim de tudo isto, aos seres prosaicos como eu, resta a satisfação de sabermos algo que os intelectuais já não podem saber, as vantagens de ser prosaico. Elas existem, mas não me perguntem quais são.
PS: O mais curioso é que eu acabei este texto e nem comecei por definir o que é um intelectual, e ainda bem...
Encomendei o representante religioso de serviço e prontamente começo a confissão.
Eu não sou um intelectual. Não sou, nunca serei e, se for realmente honesto (ou mentiroso convicto) nunca realmente quis ser. Ser intelectual deve dar trabalho, digo eu, não sei. Há várias razões pelas quais eu não sou um intelectual, mas a principal será o facto de que ler não é o meu prazer número 1 (se bem que também duvido que seja o deles), mas ler é necessário para o efeito, é pelo menos necessário terminar os livros e não desistir quando o autor está apenas a adornar para depois poder dizer o que realmente interessa em uma página ou duas, considerando que ele tem realmente algo de interessante para dizer, quando se aguenta os adornos na esperança de que algo relevante vá acontecer e não acontece, é razão para chamar o FBI (não disse GNR para tentar intelectualizar o texto através do aumento da dimensão de importância). Não é correcto dizer que não leio, eu leio, mas de uma forma caótica, leio o David Hume, paro a meio e passo para o Philip Roth, depois sinto falta do Woody e vou ler a sua prosa, mas entretanto já percorri poetas, enciclopédias, jornais, manuais e listas de supermercado (era para escrever “catálogos da Victoria’s Secret” mas depois tive vergonha). Calculo que esta falta de estabilidade literária assente na popular ideia de que só se está bem onde não se está. Só que um intelectual, acredito eu, tem de estar bem onde está, pelo menos por 5 minutos, penso que dificilmente se conseguirá chegar a tal epíteto se trocarmos de informação de 5 em 5 minutos. Seria a destruição do princípio da especialização. Se me disserem que os intelectuais também são assim, então eu irei deixar de os ler, assim como espero nunca voltar a ler este texto na vida. A questão do trabalho também é importante, como é possível trabalhar, principalmente se for numa actividade não – intelectual, e ter tempo para tempo para o ser? Abdicar de ter vida pessoal não é a resposta, pois eu já o fiz e nem por isso me tornei num. Deve haver algo que eles sabem e que nós (os prosaicos) não sabemos, mas também, agora que penso melhor, é precisamente por isso que eles são intelectuais, eles sabem coisas de que nós nem desconfiamos. Mmm , pois.
É verdade que há os que tentam parecer, uma das técnicas mais usadas é o uso de palavras supostamente eruditas ou apenas menos usadas no dia a dia como “iconoclasta”, “abstruso” ou “prolixo”, e por esta altura já estão os não intelectuais e os intelectuais (bem, os intelectuais nem por isso porque esses não lêem este blog) a dizerem que essas palavras não são assim tão representativas e que até têm algo de banal, pois sim, mas eu nunca disse que era um bom actor.
Lembro-me de ler no The Guardian o que Timothy Garton Ash escreveu sobre o que é ser intelectual em Inglaterra, e como o termo no seu país sempre teve uma conotação pejorativa, ao contrário da vizinha França que sempre cultivou o estatuto do intelectual (dai o termo “esquerda” estar sempre ligado ao termo “intelectual”... supostamente), sendo “where is the beef?” a resposta dos ingleses a intelectuais teóricos como Derrida. Ser intelectual, ou auto-apelidar-se de tal, no reino da sua majestade era motivo para gozo, sinónimo de prepotência inócua , no entanto, Garton Ash terminava a achar que em mais nenhum país europeu se debate e gera tantas ideias como no Reino Unido e que em última instância essa seria a derradeira finalidade da intelectualidade.
No fim de tudo isto, aos seres prosaicos como eu, resta a satisfação de sabermos algo que os intelectuais já não podem saber, as vantagens de ser prosaico. Elas existem, mas não me perguntem quais são.
PS: O mais curioso é que eu acabei este texto e nem comecei por definir o que é um intelectual, e ainda bem...
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