Posso ter graça?
O momento em que o humor se demite da sua função legítima de exercer as suas capacidades é o momento em que não temos o público adequado.
Sempre me achei um extremista involuntário, não porque procure os extremos, na generalidade dos casos estes até me repulsam, acabar numa polarização confusa e pouco estruturante poderá ser o meu apanágio, goste ou não. Dou por mim a achar que consigo ser uma pessoa com algum/bastante humor perante determinadas pessoas e um perfeito sensaborão junto de outras, mesmo considerando que estou igualmente bem disposto ao pé de toda a gente.
A palavra chave para o humor é “legitimidade”. Somos humoristicamente interessantes ou não mediante a permissão para exercermos a actividade. Com a Joana podemos ser muito engraçados e ela ri-se de quase tudo o que dizemos, com a Manuela, sabendo que ela não está tão disponível, melhoramos a qualidade das piadas (pensamos nós), mas ela acha que somos um palhaço triste que se esforça demasiado, com o João, uma piada de baixo nível com analogias a bananas ou anilhas garante a festa para a tarde toda, para o Diogo, “wit” é uma forma de mostrar-mos como somos muito inteligentes, como tal, ele prefere uma postura séria, pois assim não há como subverter argumentos com a perversão da chalaça e exercícios de auto-importância, com o Carlos não convém fazer piadas porque o nosso trabalho depende dele e as múltiplas interpretações do humor pode causar-nos dissabores irremediáveis, com o David, bem, para ele o humor simplesmente não existe, sendo melhor prosseguir em linha recta.
No filme “About a son”, Kurt Cobain diz que não era o ser soturno que toda a gente pensava que ele era, não só as suas letras estavam repletas de vastas ironias humorísticas como, no contexto certo, conseguia expressar o seu humor de uma forma completa. Consequentemente, disse que acha que nunca disse uma piada à frente do baixista Novocelic porque a sua relação profissional e de egos não o permitia, assumindo assim o papel do elo mais fraco. Não é preciso ir tão longe, os casos públicos paradigmáticos são os humoristas. Um humorista novato precisa de ser muito melhor do que um mais velho que já tenha crédito e legitimidade junto do público, ao ponto de por vezes estes(os veteranos) já só terem de aparecer (ou manter a actividade) para fazer esboçar sorrisos (desde que não abusem da sorte, naturalmente). A legitimidade faz-se sentir com veemência nos relacionamentos conjugais, quando a relação vai bem e o ressentimento é maleita do inferno dos outros, qualquer coisa dita é uma piada que propulsiona uma boa disposição congénita, assim que algo corre mal do ponto de vista relacional, nem o Groucho Marx tinha boas probabilidades de fazer rir a companheira, independentemente das suas qualidades humorísticas.
O que é que se retira daqui? Não sei, espero que ninguém me pergunte . Desconfio porém que é mais um revés iluminista, onde o contexto emocional define o que tem piada, e não o humorista ou a sua qualidade intrínseca ou quaisquer outros predicados escolhidos pela razão.
Quanto a mim, não me lembrei de fazer nenhum motejo neste texto. Porquê? Para quê? Mais importante ainda, para quem?
Sempre me achei um extremista involuntário, não porque procure os extremos, na generalidade dos casos estes até me repulsam, acabar numa polarização confusa e pouco estruturante poderá ser o meu apanágio, goste ou não. Dou por mim a achar que consigo ser uma pessoa com algum/bastante humor perante determinadas pessoas e um perfeito sensaborão junto de outras, mesmo considerando que estou igualmente bem disposto ao pé de toda a gente.
A palavra chave para o humor é “legitimidade”. Somos humoristicamente interessantes ou não mediante a permissão para exercermos a actividade. Com a Joana podemos ser muito engraçados e ela ri-se de quase tudo o que dizemos, com a Manuela, sabendo que ela não está tão disponível, melhoramos a qualidade das piadas (pensamos nós), mas ela acha que somos um palhaço triste que se esforça demasiado, com o João, uma piada de baixo nível com analogias a bananas ou anilhas garante a festa para a tarde toda, para o Diogo, “wit” é uma forma de mostrar-mos como somos muito inteligentes, como tal, ele prefere uma postura séria, pois assim não há como subverter argumentos com a perversão da chalaça e exercícios de auto-importância, com o Carlos não convém fazer piadas porque o nosso trabalho depende dele e as múltiplas interpretações do humor pode causar-nos dissabores irremediáveis, com o David, bem, para ele o humor simplesmente não existe, sendo melhor prosseguir em linha recta.
No filme “About a son”, Kurt Cobain diz que não era o ser soturno que toda a gente pensava que ele era, não só as suas letras estavam repletas de vastas ironias humorísticas como, no contexto certo, conseguia expressar o seu humor de uma forma completa. Consequentemente, disse que acha que nunca disse uma piada à frente do baixista Novocelic porque a sua relação profissional e de egos não o permitia, assumindo assim o papel do elo mais fraco. Não é preciso ir tão longe, os casos públicos paradigmáticos são os humoristas. Um humorista novato precisa de ser muito melhor do que um mais velho que já tenha crédito e legitimidade junto do público, ao ponto de por vezes estes(os veteranos) já só terem de aparecer (ou manter a actividade) para fazer esboçar sorrisos (desde que não abusem da sorte, naturalmente). A legitimidade faz-se sentir com veemência nos relacionamentos conjugais, quando a relação vai bem e o ressentimento é maleita do inferno dos outros, qualquer coisa dita é uma piada que propulsiona uma boa disposição congénita, assim que algo corre mal do ponto de vista relacional, nem o Groucho Marx tinha boas probabilidades de fazer rir a companheira, independentemente das suas qualidades humorísticas.
O que é que se retira daqui? Não sei, espero que ninguém me pergunte . Desconfio porém que é mais um revés iluminista, onde o contexto emocional define o que tem piada, e não o humorista ou a sua qualidade intrínseca ou quaisquer outros predicados escolhidos pela razão.
Quanto a mim, não me lembrei de fazer nenhum motejo neste texto. Porquê? Para quê? Mais importante ainda, para quem?
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