Friday, March 02, 2007

Hipocrisia

No outro dia encontrei alguém na rua que me disse que os americanos eram uns falsos moralistas. Perguntei-lhe de seguida se o conceito de falso moralismo realmente existe? Respondeu-me que sim, que existia sob a forma de hipocrisia. “Hipocrisia??” disse eu. “A hipocrisia não é nada mais do que uma variante da diplomacia, mais aguda e normalmente de teor relacional/sentimental” continuei. Sem concordar com a minha resposta, disse-me que só num país hipócrita é que um presidente pode ser moralmente condenado pela infidelidade conjugal e por um “blow Job” que se tornou público. Não pude deixar de dizer que num país onde são instigados os valores de família, onde as pessoas não são excepção por aspirarem a uma felicidade conjugal, um exemplo como aquele é sempre visto como o destapar das fragilidades humanas, e as fragilidades humanas chocam sempre, principalmente quando são aquelas que normalmente nos impedem de ter sucesso conjugal, só podemos ser totalmente indiferentes a elas quando não ambicionamos ter esse mesmo sucesso logo à partida, coisa que raramente acontece, mesmo os que dizem que não o ambicionam, normalmente estão apenas a usar o argumento como protecção, com o fim de não se iludirem perante as dificuldades futuras. Não desejar ser um ganhador (segundo a teoria dos ganhadores e perdedores de Nietzsche) no âmbito das relações, porque se atira a toalha ao chão antes do combate começar, é outra forma de hipocrisia latente, nega-se que se quer algo mas defende-se que não se quer por uma questão de conveniência argumentativa e de auto-convencimento. Parece-me que se há algo que os americanos não têm medo de assumir é aquilo que realmente querem, seja sapatos, poder, dinheiro ou um casamento feliz, ou não vivessem eles no paradigma do capitalismo. Já para os europeus, dizerem o que realmente querem coloca-os numa posição delicada, depois de tanto tempo com marxismo, socialismo e “ismos” centralistas afins, dizer realmente aquilo que se quer torna-se um exercício menos casual, podendo mesmo ser encarado como egocentrismo (como se houvesse possibilidades de escapar ao conceito). Bem sei que a história do “blow Job” não tem interesse nenhum, assim como não tem interesse nenhum saber pelos noticiários que alguns professores estão a ser despedidos, mas se formos professores, assistimos à notícia com algum desconforto. Se não quisermos ser despedidos nesse contexto temos uma solução simples, não vamos para professores, mas pode a sociedade viver sem professores? (se alguém tiver uma analogia melhor, por favor, mande-me para o mail). Os valores de família americanos serão um dos múltiplos factores que faz com que os EUA não tenham o problema do decréscimo populacional que a Europa enfrenta, como tal, é natural que fiquem chocados quando a fecundação é feita num buraco ineficiente para o efeito (a pessoa para quem falava revirava os olhos). Sinceramente, entre pretender algo e lidar com as dificuldades ou desistir logo à partida, opto pela primeira, simplesmente porque o grau de hipocrisia envolvida em ambas é a mesma, mas na primeira há uma grande vantagem, lembrando-me do que senhor Samuel Beckett escreveu (“Try again. Fail again. Fail better”), tudo o que se pode fazer nesta vida é tentar, é essa a grande vantagem.
A resposta que eu ouvi foi “és um capitalista”. E eu a pensar que tinha sido romântico...

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

I think that you had a very good mood when you wrote this...

Btw:"To be a teacher in the right sense is to be a learner.I'm not a teacher, only a fellow student."
s.Kierkegaard

M.

3/02/2007 5:15 PM  
Blogger linfoma_a-escrota said...

"capitalistas somos todos"
o gato das botas.

eu pessoalmente, por mais letrado que sejas e consigas revolver assuntos básicos até se tornarem o posto, prefiro a posição mais encerradita num preconceito pura e simplesmente descarado e destoado ANTI-AMERICANO ponto final, que sa foda se existem lá pessoas "fixes" simbolizam merda, valores de familia? toda agente obsecada com o envelhecimento do sangue do velho continente, nunca foi de grande esforço intelectual dar uma queca à velha, sabem o que querem? t~em é de aprender a não querer nada, porque, no fundo, ninguém precisa de nada, se pensar bem :)

www.motoratasdemarte.blogspot.com

3/05/2007 12:35 PM  

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