Sunday, March 11, 2007

Consistência

"A foolish consistency is the hobgoblin of little minds"
Ralph Waldo Emerson


Estava um dia primaveril, já atrasado para o seu compromisso David tentava apanhar um Táxi para o seu destino. O cão estava já num formato híbrido que facilmente podia ser um primo afastado de um gato. Não, isto era de outra história. Retomando a narrativa... David ao conseguir chamar a atenção de um taxista pergunta-lhe se ele o poderia levar ao seu destino. Sendo a resposta afirmativa, ele entra no táxi e a viagem começa.
Depois dos cumprimentos habituais, o taxímetro é accionado.
Taxista – Está um belo dia, mas dizem que vai chover.
David - Duvido, os plumitivos costumam falhar quase sempre.
T- Quem? Plumi.. quê?
David – As pessoas que escrevem em geral, jornalistas ou entidades literárias, neste caso os que escrevem sobre o tempo.
T- Estou a ver, pensava que esses eram os meteorologistas.
David – Sim, são esses mesmos. A verdade é que lhes falta consistência.
T- E é preciso eles terem consistência?
David – Como assim? Convém que eles a tenham senão estamos sempre a sair de casa com dúvidas meteorológicas, e que por vezes podem ser bem mais existenciais do que muitos livros de Sartre. Levar guarda chuva ou não, eis a questão.
T – Não só, levar gorro ou não, levar casaco ou não, levar luvas ou não, a questão não é assim tão simples. Além disso, isso é Shakespeare, eu nem sei quem é o Sartre.
David – Pois, de facto, deixe lá , se ao menos eles (os meteorologistas) tivessem consistência...
T – E o senhor, tem consistência no que faz? Já agora, se não é indiscrição, o que faz?
David – Eu sou revisor literário. É minha obrigação ser consistente.
T- E é?
David – Ora, sim, sou.
T – Parece-me chato. A consistência não será um termo bonito para a falta de capacidade inventiva?
David – Eu acho que a consistência é a base evolutiva para qualquer entidade, sem ela nada progride.
T – E sem a capacidade de improviso não estaríamos condenados a um tédio sepulcral que se transformaria em estagnação?
David – Não devemos ser arrogantes ao ponto de dar mais valor a algumas cabeças do que a outras, a consistência das massas é o ponto fundamental para qualquer sociedade.
T- Percebo. Suponho que gosta de comer sempre bife com batatas fritas.
David – Por acaso prefiro outras coisas, tudo o que é demais enjoa.
T- Não me diga??
David – Se calhar podia fazer um desvio pela Rua Almirante Reis para ver se conseguíamos chegar lá mais rápido, o que diz?
T – Com certeza, é para já. Quantos minutos gostava de poupar?
D – Errr, não sei, olhe, deixe lá, vamos pelo caminho normal, é mais seguro.

Entretanto chegam ao seu destino. Ao sair do táxi David vocifera em médio tom “bolas, com tantas perguntas este parece que andou a ler Sócrates”, ao ouvir o comentário o taxista responde de forma sorridente “haaaa, não , não, eu não sou socialista.”

David -Boa tarde
T - Boa tarde

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Eu gostei este texto,impressionou-me (muito).:)

3/12/2007 7:57 PM  

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