Equilíbrio
Sempre tive problemas em perceber o que seria uma pessoa supostamente equilibrada. É óbvio que percebo onde o senso comum quer chegar com o epíteto, até o uso para o meu dia a dia, no entanto, nunca o percebi (quem não usa todos os dias ideias ou conceitos que não percebe que atire a primeira pedra).
Interrogo-me recorrentemente até que ponto sou radical nas minhas abordagens e até onde é que estou a ser prejudicado pelas mesmas. Por outro lado, tentar o consenso forçado abdicando de estudos, convicções e atitude pode ter piores consequências, principalmente ao nível da auto estima e motivação (que são 2 vertentes do mesmo bloco).
Bastam alguns binómios para nos fazer balançar. A esquerda e a direita na politica, as abordagens sociais e psicológicas ao homem e à mulher, Soren Kierkegaard e Theodor Adorno (questão passível de fractura), a Kirsten Dunst e a Scarlett Johansson ( questão paralisante), entre muitos outras (imaginem agora quando há mais opções (é melhor não, senão já não acabam de ler este texto) ) ...
Já não sei quem disse que não sabia qual era o segredo do sucesso, mas que o segredo para o insucesso era tentar agradar a toda a gente. Jogar o jogo que consiste em atirar sempre para o meio de forma a atingir consenso é o jogo mais perigoso que conheço (este é amigo do Mussolini, já devem estar a pensar), apesar de útil e recomendável em algumas (poucas) ocasiões (como quando estão a ser assaltados à mão armada, dá jeito não antagonizar o assaltante com tiques de personalidade).
Personalidade é a palavra chave. Será possível a construção da personalidade, mesmo que instável e difusa, sem ir a alguns extremos? Não sei (safo-me sempre com esta), mas não acredito na possibilidade de explorar conhecimento e não chegar a conclusões que vão sair do mundo do politicamente correcto, porque a vida não é politicamente correcta quando somos um indivíduo (mesmo em grupos precisa de muita maquilhagem para o ser, considerando que pode) e eu acredito essencialmente na entidade individual como motor do conhecimento.
O maniqueísmo pode ser igualmente perigoso, mas quanto a isso a história já registou exemplos mais que suficientes. O valor de ficar na história entra essencialmente no campo da moral, que David Hume caracterizou como mais dependente dos sentimentos individuais do que da razão propriamente dita.
A maior parte das coisas que se faz, pensa ou se diz, são executadas porque podemos. É no dia em que nos esquecemos disto que começamos a ter traços de personalidade que (invenção da hipocrisia) tentam colocar-nos no lado “bom” do ser humano, esquecendo que mantendo o respeito individual (o nosso e o alheio), as possibilidades são infinitas e tais conceitos esbatem-se, podendo esbaterem-se a tal ponto que até podemos chegar à conclusão que somos muito mais semelhantes do que pensamos (na pior das hipóteses).
2 Comments:
Essa da Kirsten Dunst e a Scarlett Johansson... hehehe. Por acaso nunca reparei muito na primeira.
Afirmas que chegar ao consenso é atirar para o meio. Se me permites até te digo mais. Há pessoas que na sua incessante tentativa de serem nice guys/girls, politicamente correctos ou, indo mais longe, graxistas, atiram aos extremos consoante a posição do seu interlocutor. Não sei se o fazem por hipocrisia, falta de inteligência ou pelo gosto católico de dizerem Ámen a tudo.
Exemplificando:
Quando andava no liceu divertia-me a jogar com as palavras e mente de uma colega minha. Em conversa afirmava a minha discordância com o assunto x. Ela consensualmente concordava com a minha posição, utilizando a simples expressão "pois". Passado algum tempo, não dias mas minutos ou horas, reformulava as palavras e as frases, passando a concordar fortemente com o assunto x. Com muitos "pois" ela concordava inteiramente comigo.
Em suma, como não ainda não havia aulas de substituição divertia-me assim. Ela era equilibradamente hipócrita ou definhada mentalemnte.
Que comentário cruel. Eu até sou um nice boy ;)
p.s. Claro que há alturas em que o consensual "pois" dá muito jeito, como quando temos forçosamente de aturar alguém (aquelas amigas das amigas das avós ou jeovás).
E a questão acaba por ser: Afinal devemos ou não ser politicamente correctos?
Ou será, precisamente na irreverência e no "individualismo narcisista" (nas atitudes e comportamentos)que consiguiremos atingir metas satisfatórias.
Lembro-me por exemplo de VanGogh, Wilde, Anais Nin, Galileu, Luther KIng, Joan D'Arc ou na onda materialista contemporânea Madonna e outros seguidores do consumo.
Parece que de uma forma ou de outra o choque contra a mentalidade estabelecida, no sentido de o capitalizar para vender um produto, uma ideia ou visão artística, é uma chave para a mudança em muitas áreas.
Chocar contra o consensual, para mais tarde impôr a ideia como consensual a posteriori.
Mas é preciso coragem para ser diferente em pleno, quando se o é de verdade, claro! :-)
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