Viver bem com ... (2)
Como aprecio a troca saudável de ideias e acredito piamente que é através dela que se gera “evolução”. Aqui fica o meu comentário ao comentário do dono do “a voz do mocho” ao meu post intitulado “viver bem com...”
A arte vai no mesmo sentido, o que é arte ou não é deveras pessoal e ao mesmo tempo não é. Podemos ser mais ou menos exigentes para com ela, pode encher-nos mais ou menos as medidas do ponto de vista pessoal, mas será sempre uma expressão humana e a expressão de um tempo, o tempo onde foi feita.
A pop representa o nosso tempo e é tão representativa como o renascimento foi.
Até onde vai ? Não se sabe, mas uma coisa é certa, pegando nesta ideia ... “A arte estará sempre a prazo? O que não está? Mas desde que alguém a aprecia ela subsiste.” , então ninguém me garante de no ano 3459 não vai haver alguém a preferir consumir a Nelly Furtado, por prazer ou como fenómeno de arqueologia do que consumir os Led Zeppelin. E se isto parecer uma incoerência ou um absurdo, então é porque está a emular ou a transcender a condição humana, e de alguma forma mais perto do que poderá ser “arte”.
E se no ano de 3459 alguém preferir um Macburger do que um cozido à portuguesa porque o acha mais representativo da nossa época ou apenas porque lhe sabe melhor?
2 Comments:
De facto, se em 3459 alguém ainda gostar de Nelly Furtado, esse alguém está-lhe a atribuir um valor artístico, logo será arte (com essa apanhaste-me hehe) Em tom de brincadeira, continuo a dizer que, com aquele tom de paladino da boa arte que por vezes nos atinge, esse alguém tem mau gosto. Todavia, é um gosto a que tem direito.
Concordo com a comparação entre renascimento e pop no que concerne aos seus respectivos tempos. Contudo, sendo certo que a pop é adubo e fruto dos nossos dias, é-me cada vez mais árduo identificar as suas características enquanto arte. Isto porque, usando um termo da música pop, considero que estamos num período de verdadeiro crossover, onde tudo é redescoberto, reaproveitado e absorvido. Isto espelha o que se passa na sociedade, onde as cómodas as categorias, os estereótipos e os modelos, os (ismos, capitalismo, socialismo, etc.) tendem a diluir-se.
O que pergunto é: a arte pop é esta grande mistura ou se é um dos seus ingredientes?
Quanto à música pop (tal como ocorre noutros campos), confesso que uma siginificativa parte me desilude devido à sua extrema associação ao negócio. Não quero estar a ser muito ingénuo ao ponto de dizer que os artistas não deviam criar a pensar no dinheiro etc etc... No renascimento também criavam para ganhar o seu e ninguém os chama de vendidos, pelo menos agora, e não me parece que apenas o factor antiguidade seja justo para distinguir o que é ou não boa arte.
Todavia, em parte da música actual são os produtores e as corporações quem concebem aqueles produtos de consumo rápido, de uma forma estudada e normalizada , cabendo ao dito artista o papel de Barbie ou Ken.
Estava a pensar em outros exemplos como o facto do autor criar algo do qual não goste só para ganhar algum, mas a verdade é que o corromper das convicções do artista sempre ocorreu. Talvez agora se note mais devido à massificação.
Parabéns pelo interessante blog.
Gostaria de dizer que concordo com o tom geral do comentário praticamente na íntegra, no entanto, há pormenores sobre os quais tenho algumas reservas.
A questão de estarmos num período de “cross over” sempre me intrigou. É verdade que qualquer filosofo Pós-moderno me irá falar do esbatimento das categorias, na ausência de rótulos e da voracidade da informação massificada que influencia as nossas vidas. Penso que não estarei muito longe da verdade se afirmar que desde que a humanidade existe que está em período de “cross over” , sendo que a evolução, seja para onde for, é uma característica que nos é imposta como seres sociais. Se agora essa evolução nos parece mais rápida é apenas e só porque toda a informação chega até nós a todos os segundos e segundos depois de serem emitidas. Citando a ideia principal de um filme que não gostei (peço desculpa a todos os críticos de cinema) “Il Gatopardo” , tudo muda para ficar igual. E no caso da música Pop, se muda rápido, melhor ainda, não é a velocidade que lhe retira validade.
Em relação à pergunta se a Arte Pop é um ingrediente para algo maior ou o todo em si, eu responderia que tal como no renascimento ou em outro qualquer outro movimento, o melhor da mesma irá destacar-se e assumir-se como um todo, assim como muitos artistas do renascimento fizeram obras que nunca chegaram até aos nossos dias.
Para finalizar, penso que um artista corrompido não é o problema, o artista sem talento é que é o drama.
Obrigado pela troca de impressões e irei com certeza estar regularmente atento ao teu blog .
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