Viver bem com ...
Pensar sobre a legitimidade da música pop leva-me inevitavelmente para as palavras do Nick Hornby no seu livro “30 songs”.
Ao escolher várias músicas pop de gosto artístico duvidoso como suas músicas de eleição (Nelly Furtado ou Rod Stewart), ele refere que há um prazer intrínseco às mesmas que dificilmente se encontra noutras músicas com um conteúdo mais elaborado e supostamente mais complexo. Sem saber as palavras exactas do senhor, visto que já li o livro há mais de ano e meio (no mínimo), arrisco-me a parafrasear a ideia que faz toda a diferença. Seria sensivelmente isto ... “Toda a arte está a prazo, mesmo a que pensa que não está e a que tenta não estar, mas a pop, simplesmente vive bem com essa ideia.”
Agora que penso nisso, viver bem com a ideia de tempo e de vida que nos é apresentado é um conceito muito mais valoroso do que qualquer coisa que me possa ocorrer no momento, mesmo que agora não me ocorra nada, e duvido que vá ocorrer...
2 Comments:
Pelo que conheço da selecção musical de Nick Hornby, o senhor não tem grande ouvido, exceptuando uma música dos Led Zeppelin entre outras, mas gostos são gostos.
É verdade que a arte pop tem a noção de que está a prazo, já que é produzida para um consumo imediato pelas massas. Partindo deste princípio, actualmente o artista pop é cada vez mais um verdadeiro Homem Renascentista. Ele canta, é actor, escreve, tem uma linha de roupa, de perfumes, tem programas de televisão, na tentativa de tornar a sua curta presença o mais rentável possível.
Penso que a avaliação do que é ou não arte parte de cada um quando confrontado com a determinada manifestação. Assim, não considero Nelly Furtado ou Rod Stewart, tal como a vasta maioria dos actuais artistas ditos pop, como produtores de arte mas antes como restaurantes de fast food que vão lançando os seus hambúrgueres.
A arte estará sempre a prazo? O que não está? Mas desde que alguém a aprecia ela subsiste.
Realmente gostos são gostos, e ainda bem, porque isso em si retira muita da seriedade e peso da vida. Podemos assim ser mais “irreverentes” para com ela.
A arte vai no mesmo sentido, o que é arte ou não é deveras pessoal e ao mesmo tempo não é. Podemos ser mais ou menos exigentes para com ela, pode encher-nos mais ou menos as medidas do ponto de vista pessoal, mas será sempre uma expressão humana e a expressão de um tempo, o tempo onde foi feita.
A pop, representa o nosso tempo e é tão representativa como o renascimento foi.
Até onde vai ? Não se sabe, mas uma coisa é certa, pegando nesta ideia ... “A arte estará sempre a prazo? O que não está? Mas desde que alguém a aprecia ela subsiste.” , então ninguém me garante de no ano 3459 não vai haver alguém a preferir consumir a Nelly Furtado, por prazer ou como fenómeno de arqueologia do que consumir os Led Zeppelin. E se isto parecer uma incoerência ou um absurdo, então é porque está a emular ou a transcender a condição humana, e de alguma forma mais perto do que poderá ser “arte”.
E se no ano de 3459 alguém preferir um Macburger do que um cozido à portuguesa porque o acha mais representativo da nossa época ou apenas porque lhe sabe melhor?
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